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São muitas vezes esquecidos, desvalorizados por uma sociedade que lhes cola um rótulo: o de incapazes. A esta razão juntam-se várias outras, que tornam a depressão no idoso um problema cada vez mais grave e urgente, mas «pouco tido em conta», denuncia um especialista em psiquiatria.
Muitos vivem sós, tantas vezes abandonados por aqueles de quem mais gostam. Outros enfrentam a dor do luto, consequência da despedida de um amor da vida inteira. Outros ainda lutam para levar de vencida a doença. É assim a realidade de muitos idosos portugueses. E é também cada vez mais real um problema
que, segundo Medeiros Paiva, médico psiquiatra, tem sido «muito pouco tido em conta»: a depressão nos seniores.
«Segundo as estatísticas do INE de 2008, duplicou o número de suicídios na população com mais de 65 anos entre 2000 e 2008 (de 242 para 456suicídios). E o crescimento da população idosa só aumentou, no mesmo período, 17%», avança ao Destak o especialista, que defende existir «um grupo de idosos em risco que devia ser acompanhado de perto: os que vivem sós, em período de luto recente do cônjuge, vivendo em más condições económicas (pobreza) e com doenças somáticas incapacitantes.
Embora afecte entre 1% e 4% dos maiores de 65 anos, é no grupo acima dos 85 que o risco de depressão é maior, assim como o de suicídio, que é, explica o médico, uma das primeiras consequências da depressão não tratada.
A taxa de mortes auto-infligidas varia consoante a região do País. «Desde os 10 por 100 mil habitantes/ano na região norte, até aos 50 no Algarve e, assustador, aos 70 no Alentejo», a região onde este problema é mais grave. De resto, «a taxa de suicídio dos indivíduos com mais de 85 anos no Alentejo constitui a mais alta do mundo», revela ainda o psiquiatra, que confirma: são as mulheres que mais sofrem com a depressão. No entanto, é entre os homens que a doença assume uma maior gravidade «e numa percentagem superior terminam no suicídio (4 a 5 homens para uma mulher)».
Diagnóstico difícil
Diagnosticar o problema torna-se uma tarefa complicada. Isto porque, avança Medeiros Paiva, os idosos «não recorrem ao médico por apresentarem dificuldade em deslocar-se por limitações físicas», a que se junta ainda o facto de os sintomas depressivos não serem típicos, podendo «confundir-se com outras doenças, ou mesmo desvalorizados». Mas há outros factores que contribuem para a dificuldade de reconhecimento da doença: «As perdas múltiplas não são valorizadas, o estigma da depressão (negação de tristeza, considerada como uma fraqueza),os sintomas atípicos (agitação, raiva, irritabilidade e agressividade).»
Depois, há ainda a forma como a sociedade olha para os mais velhos. É que, embora «sejam bastante mais úteis e produtivos do que à primeira vista poderia parecer», os idosos continuam a ser desvalorizados. «E, principalmente», afirma o especialista, «a sociedade deve transformar-se radicalmente. Não é possível viver mais este futuro se, numa hierarquia de valores, for dada primazia ao poder económico. Será isto que irá matar a humanidade. Mas também estou em crer que o ser humano tem em si forças para o impedir».
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