O paciente --uma criança de seis anos-- está deitado na mesa cirúrgica para ser operado. Enfermeira e auxiliares estão ao redor dele. Mas o cirurgião se afasta.
Assim que os braços do robô são colocados nos três furinhos feitos no abdome do menino (de 5 mm e 8,5 mm), o médico assume seu lugar no console, de onde controla os movimentos do aparelho, batizado de Da Vinci.
Ali, ele vê as imagens do interior do corpo do paciente em 3D, manuseia joysticks e aperta pedais. Para leigos, parece até um videogame.
O menino é uma das primeiras crianças a ser operada via robô no Brasil. Até agora, quatro pacientes, de um a 12 anos, foram submetidos à cirurgia robótica pediátrica. Os casos foram de retirada de tumores, desobstrução entre rim e ureter e refluxo da urina para o rim.
VANTAGENS
A cirurgia robótica em relação à cirurgia aberta proporciona menos dor no pós-operatório, cicatrizes menores e recuperação mais rápida, segundo o urologista Carlo Passerotti, do Instituto da Próstata e Doenças Urinárias do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
É lá que as cirurgias robóticas pediátricas estão sendo feitas, há seis meses. O Da Vinci também está no Albert Einstein e no Sírio-Libanês.
De acordo com ele, a cirurgia robótica é pouco invasiva, da mesma forma como a que é feita por laparoscopia.
Mas, com o robô, é possível fazer movimentos precisos das mãos com a mesma habilidade de uma cirurgia aberta e ver imagens ampliadas do interior do corpo. "Conseguimos dar ponto mais rapidamente e diminuir o tempo da cirurgia e da anestesia", diz Passerotti.
No caso das crianças, o trabalho é mais delicado porque o espaço é menor e a cirurgia não pode ser muito longa, já que ela tem menor reserva respiratória. Isso requer mais treinamento e habilidade.
"ROBÔ DO BEN 10"
Na semana passada, Gian Lucca, de seis anos, de São Paulo, foi a quarta criança a passar pelas "mãos" do robô Da Vinci. Ele tinha refluxo vesico-ureteral, um retorno da urina da bexiga para o rim.
Na operação, o ureter é reposicionado na bexiga, para refazer o mecanismo de válvula que está deficiente.
A mãe de Gian Lucca, Maria Margarita Quintáns, diz que a recuperação foi tranquila. "Ele saiu do hospital no dia seguinte e não sentiu quase nada depois", conta. Ao preparar o filho para a operação, Margarita disse ao filho que um robô do desenho Ben 10 iria operá-lo.
Para Passerotti, muitos pacientes acham que a cirurgia robótica é "mais perfeita".
Mas os riscos, segundo o urologista Sidney Glina, professor da Faculdade de Medicina do ABC, são os mesmos das outras técnicas. "Deve-se entender que a robótica é só uma maneira de se fazer a operação", afirma.
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