Noites mal dormidas podem causar mais do que olheiras e bocejos. A apneia do sono --distúrbio que atinge quase 33% dos moradores da cidade de São Paulo-- também provoca impotência sexual. E muitos dos afetados não fazem ideia disso.
"A maioria das pessoas com apneia não sabe que tem a doença. Que ela pode causar disfunção erétil, então, menos ainda", diz Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono do Incor (Instituto do Coração) da USP (Universidade de São Paulo).
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Caracterizada por ronco forte e irregular, a apneia é marcada por paradas respiratórias que ocorrem durante o sono |
Caracterizada por um ronco forte e irregular, a apneia é marcada por diversas paradas respiratórias de pelo menos dez segundos durante o sono. Em uma noite, podem ocorrer dezenas delas.
Com a interrupção da respiração, ocorre um microdespertar. A pessoa passa de um estágio mais profundo do sono para um mais leve e também menos revigorante. "É como se a pessoa, em vez de dormir, apenas cochilasse", explica Lorenzi.
A combinação de paradas respiratórias e sono menos relaxante é catastrófica para o organismo. Além de ficar naturalmente mais cansado e sem disposição, quem tem o distúrbio acaba com mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares e outros males. A impotência é apenas mais um item nesse pacote.
Segundo Monica Andersen, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pesquisadora do Instituto do Sono, a relação entre apneia do sono e disfunção erétil é evidente, mas os fatores exatos que contribuem para isso ainda não são bem compreendidos.
"Por ser um fenômeno hemodinâmico [ligado à circulação do sangue nos vasos], a ereção depende da integridade dos tecidos, bem como de fatores psicológicos. Qualquer variação nesses componentes, alterados ainda mais pela apneia do sono, podem levar à disfunção erétil", diz.
Além disso, diz a pesquisadora, há estudos que ligam a impotência sexual à redução dos níveis de hormônio masculino provocada pela apneia do sono. "Essa redução no nível de testosterona pode ser causada pela idade, excesso de peso, além de outros fatores, como a hipoxia [diminuição das taxas de oxigênio no sangue arterial ou nos tecidos] e a fragmentação do sono."
Lorenzi lembra ainda que as pessoas com apneia normalmente têm outros fatores de risco --como obesidade, hipertensão e diabetes--, o que pode tornar a disfunção erétil, na verdade, uma combinação de vários fatores.
"Mas, além de tudo isso, tem a falta de disposição mesmo. O homem com apneia está sempre mais cansado. À noite, antes da mulher apagar a luz, ele já está dormindo. Essa fadiga também é um fator", disse Lorenzi.
TRATAMENTO
Para recuperar a normalidade respiratória durante o sono, os especialistas indicam o CPAP, uma espécie de máscara que deve usada durante a noite. Ela projeta o ar e facilita a respiração.
O preço, no entanto, costuma ser um impedimento. O aparelho não custa menos de R$ 1.000 em sua versão mais simples. Consegui-lo na rede pública também não costuma ser tarefa fácil.
Segundo Andersen e Lorenzi, o uso do CPAP resolve, em muitos casos, o problema da disfunção erétil associada à apneia. Eles recomendam, no entanto, investigar possíveis problemas relacionados.
"Emagrecimento, atividade física regular e uma boa qualidade de vida e do sono também são extremamente importantes. Observamos no nosso estudo que praticar atividade física pelo menos uma vez por semana já é um fator protetor", diz Andersen.
Fonte Folhaonline
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