"Não era desamor, mas eu me sentia deslocada da maternidade"
Tenho dois filhos e tive depressão pós-parto depois das duas gestações.
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Sombras da maternidade ainda são tabu
Sombras da maternidade ainda são tabu
A Ana Clara nasceu em março de 2007. Antes de ela nascer, eu tive uma gravidez interrompida aos cinco meses, e acho que isso acabou contribuindo para o que viria depois.
No hospital, eu tive dificuldade para amamentar, precisei buscar ajuda no banco de leite.
Voltei para casa. O começo foi "punk", eu me sentia muito insegura, queria ter a certeza de que estava fazendo tudo certo. Era como se eu quisesse que ela tivesse vindo com um manual de instruções. Percebi que não podia deixar a minha filha longe.
Nos primeiros dias, eu só chorava, mas todo mundo falava que era só "baby blues" [tristeza passageira que atinge, em média, 50% das mães. Dura de uma a duas semanas]. No dia a dia, sentia que faltava alguma coisa na equação. É como se não tivesse caído a ficha.
Não era desamor, mas eu me sentia deslocada da maternidade.
Fui dar conta de que algo estava errado quando ela estava perto dos cinco meses. Desenvolvi uma alergia na gravidez, mas ela continuou depois que a Ana Clara nasceu. Procurei um alergista e foi ele que desconfiou que tivesse fundo emocional.
Fui a uma psicóloga, ela percebeu que eu estava com depressão pós-parto e me tratou.
Tomei uma medicação bem leve. Foi a melhor coisa, porque dava uma baixada na ansiedade e me permitia cuidar de mim mesma. Comecei a tomar entre junho e julho e parei aos poucos, em dezembro. Continuei na terapia.
Engravidei pela segunda vez em setembro de 2008. O Lucas nasceu em maio de 2009. A transição de logo depois do parto foi bem mais tranquila. Mas, depois de uns três meses, notei que estava sentindo as mesmas coisas, mas com menos intensidade.
Sentia a cobrança de ter de cuidar de um recém-nascido e de uma menina de dois anos, que demandava toda a minha atenção e não podia se sentir rejeitada.
Voltei a tomar remédios em agosto. Parei por minha conta, quando notei que já estava boa e não chorava mais.
As mulheres, hoje, não têm noção das demandas da maternidade. Fui criada achando que eu poderia fazer tudo. Você pode fazer tudo, mas não consegue fazer tudo perfeito.
Andressa Fidélis, 32, é professora de inglês em Belo Horizonte
*
"Eu só chorava. Era um medo de não conseguir dar conta"
Foi logo depois que a minha segunda filha, Carolina, nasceu, em abril de 2010.
Teve o impacto da amamentação. Era dolorida. Pensei que eu não ia aguentar de tanta dor.
Meu marido chegou a tirar férias para me ajudar na adaptação em casa. Dois dias depois que ele voltou a trabalhar, começou a depressão. Eu só chorava, ficava abatida, não queria comer.
Eu só cuidava da Carolina e não queria nada. Eu ouvia ela chorando e já ficava em cima. Tinha vezes que ela chorava sem parar e nada que eu fazia conseguia parar. Daí me dava vontade de chorar também.
Não passei por isso quando tive o meu primeiro filho, que hoje tem 18 anos. Na época, eu era muito nova e a minha mãe me ajudou a cuidar dele.
Mas com a Carolina bateu um pavor, um desespero. Era medo de não conseguir dar conta. Era medo de ela ter alguma coisa e eu não saber lidar com situação. Eu tinha que me virar sozinha.
Eu ficava tão exausta que não tinha vontade de falar com o meu marido. Ele nem reclamava, sempre foi solícito.
Foi um período ruim, não tinha vida social, casamento, não tinha vontade de ver ninguém. Não aceitei visitas. As pessoas queriam me ver por curiosidade, mas eu nem sentia solidariedade.
Eu queria muito conversar com quem vivia a situação, mas não conhecia ninguém. Algumas até viravam e diziam: "Ah, mas você que escolheu isso. Não reclame!".
Tudo isso durou mais ou menos uns nove meses. Fui melhorando aos poucos, sem remédio, mas ainda sentia irritação e vontade de chorar.
Foi só em junho que eu comecei a falar ao ginecologista da irritação e dos choros. Ele falou que eu estava com depressão e me receitou um antidepressivo. Estou tomando desde junho.
Agora estou bem melhor. Não choro quase e fico menos melancólica. Estou melhorando aos poucos.
Janaína Troncarelli, 35, é auxiliar de escritório em São Paulo
Fonte Folhaonline
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