Interação com outros medicamentos reduz eficácia do contraceptivo
Você sabia que perda ou ganho repentino de peso pode interferir na eficácia da pílula contraceptiva? E que a maioria dos antibióticos mais prescritos no País também reduz o efeito do anticoncepcional? Pois saiba que até o consumo de bebidas alcoólicas em excesso pode deixar o organismo em situações delicadas.
“Há risco de isso acontecer por causa da interação medicamentosa”, afirma o ginecologista Eduardo Fernandes, presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp). O termo interação medicamentosa diz respeito à interferência que um medicamento pode fazer sobre outro no organismo. Essa interação pode reduzir o efeito de uma ou das duas medicações, sendo que a combinação dos princípios ativos pode ainda gerar uma terceira reação.
O efeito do contraceptivo oral é obtido por determinados hormônios e eles precisam ser metabolizados pelo fígado para serem disponibilizados no organismo. “Em condições normais, o risco da pílula falhar é praticamente insignificante”, conta o médico. Isso porque seu uso diário mantém os níveis hormonais estáveis, evitando as oscilações típicas do ciclo menstrual que permitem a ovulação.
No caso dos antibióticos, a interação medicamentosa acontece no trato gastrointestinal. É lá que os hormônios sintéticos da pílula, semelhantes à progesterona e ao estrogênio, sofrem a ação de enzimas produzidas por bactérias do intestino. O resultado desta ação é o estrogênio ativo, que é reabsorvido e assim garante o nível apropriado do hormônio no sangue.
Mas os antibióticos destroem as bactérias intestinais e isso impede a formação adequada de enzimas para metabolizar a pílula a transformá-la em hormônios ativos, capazes de influenciar o ciclo menstrual. “Logo, o efeito da pílula é menor”, resume o médico.
O problema é que este efeito está previsto, de acordo com o ginecologista, em alguns dos antibióticos mais prescritos do País, como a amoxicilina, indicada para amidalite. O mesmo pode acontecer com ampicilina, eritromicina e rifampicina, indicada para tratamento da tuberculose. “Todos alteram a produção de enzimas”, enfatiza.
A descoberta desta interação medicamentosa começou a acontecer na década de 1970, com pacientes tuberculosas. Elas relataram sangramento acentuado no período menstrual e isso logo foi considerado um sinal clínico de que a pílula estava perdendo efeito. Anos depois, estudos foram realizados e constataram queda no índice de eficácia do contraceptivo oral quando ministrado junto ao antibiótico. O prejuízo vale apenas para o mês em que o medicamento é consumido.
Antifúngicos e drogas anticonvulsivantes
Os antifúngicos representam um problema quando são ministrados via oral. Isso acontece pelo menos motivo da interação com antibióticos, pois há perdas na produção de enzimas necessárias aos hormônios sintéticos da pílula.
Na lista dos medicamentos capazes de interagir estão itraconazol, fluconazol, cetoconazol e griseofulvina. Já os medicamentos antifúngicos de uso tópico não representam risco de interação. Mas eles também podem ser menos eficazes, portanto menos prescritos.
Os medicamentos tópicos, muitas vezes, permitem que alguns focos de fungos não sejam extintos. E isso favorece a recidivas, frequentes em casos de candidíase, por exemplo. A doença é causada por um fungo naturalmente presente na vagina, mas que prolifera de forma descontrolada quando há queda no sistema imunológico da mulher. Biquíni molhado, calcinha sintética são facilitares da doença.
Efeito inverso
O risco de engravidar mesmo tomando pílula anticoncepcional faz muitas mulheres suarem frio. Mas a interação medicamentosa também pode acontecer de outra maneira, com a pílula interferindo no efeito de alguns remédios usados contra doenças graves.
É o caso dos ansiolíticos, prescritos contra ansiedade e distúrbios do humor. A pílula pode reduzir sua eficácia e permitir a progressão de quadros de estresse, aumentando o risco até de uma depressão se manifestar.
“Outra interação perigosa é com o clofibrato, medicamento usado para controle de triglicérides e colesterol”, afirma Fernandes. Com a eficácia reduzida, a paciente fica mais exposta ao risco de infarto e derrame cerebral.
Outros problemas
Variações repentinas de peso, seja para mais ou para menos, também podem ameaçar a eficácia das pílulas. O ginecologista Cláudio Joaquim Leite Boulhosa, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que os hormônios do contraceptivo ficam fixados nas células de gordura.
“Se há variação brusca nestas células, pode ser preciso um certo período de adaptação do corpo para a pílula recuperar seu efeito pleno”, explica. Esse período não passa de dois ou três meses, sendo que apenas grandes variações de peso são capazes de alterar o efeito da pílula. “Algo como o emagrecimento de pacientes que fizeram redução de estômago”, exemplifica.
Além disso, os hormônios dos contraceptivos influenciam a metabolização de bebidas alcoólicas. Ela fica mais lenta. Naturalmente, o corpo da mulher já possui uma quantidade menor desidrogenase, enzima capaz de metabolizar o álcool. Com o uso da pílula, o processo das bebidas fica ainda mais prejudicado.
“É obrigação de todo médico, não apenas do ginecologista, perguntar quais medicamentos a pessoa está tomando, antes de prescrever qualquer coisa”, alerta Boulhosa. Mas a mulher também pode contribuir sempre alertando o médico sobre o fato de usar pílula, em qualquer consulta ou visita ao hospital.
Fonte IG
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