Um artigo publicado pela revista científica britânica Lancet Neurology sugere que milhões de casos da doença de Alzheimer, o tipo mais comum de demência em pessoas com mais de 60 anos, poderiam ser prevenidos com o controle de sete condições ou hábitos de vida que interferem no aparecimento e evolução da doença, tais como sedentarismo, pressão alta, tabagismo e obesidade.
O levantamento – uma revisão de cerca de 100 artigos científicos – foi apresentado ontem, em Paris, durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer. A conclusão tem como base um modelo matemático criado por pesquisadores americanos. De acordo com eles, uma redução de 25% em todos os 7 fatores de risco poderia prevenir até 3 milhões de casos da doença em todo o mundo, o que representa quase 10% do total de pacientes com Alzheimer – cerca de 35 milhões. No Brasil, a estimativa é de que existam cerca de 1,5 milhão de pacientes com esse tipo de demência.
“A prevenção é uma opção particularmente atraente dado o estado da terapia. É por isso que desperta muito interesse”, afirma William Thies, cientista à frente da Associação de Alzheimer. Por enquanto, os tratamentos tentam retardar a evolução da doença e diminuir os sintomas, sem promover a cura.
O trabalho usa um modelo matemático para calcular o impacto dos sete principais fatores de risco associados ao Alzheimer, que deveriam ser evitados: tabagismo, depressão, pouca escolaridade, diabete, sedentarismo, obesidade e pressão alta.
A melhora do nível educacional seria a medida de maior impacto para combater a doença no mundo. Em segundo lugar viriam as campanhas antitabagistas. Nos EUA, outras duas ações contribuiriam mais para a prevenção do Alzheimer: o combate ao sedentarismo e à depressão.
O diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), Ivan Okamoto, afirma que já havia sido demonstrada a conveniência da eliminação dos fatores de risco cardiovasculares – como combate ao tabagismo, sedentarismo, obesidade e pressão alta. “Em até 20% dos casos, a demência causada pelo Alzheimer vem acompanhada por uma demência vascular”, explica. “Se você evita a demência vascular, os quadros de Alzheimer também melhoram.”
Já a atividade intelectual melhora a reserva cognitiva – conjunto de estratégias que o cérebro utiliza para compensar o déficit provocado pela demência. “Alguém que esquece uma palavra terá mais ferramentas para encontrar sinônimos ou metáforas para substituí-la se estiver acostumado a exercitar o cérebro”, afirma.
Como os demais fatores, a depressão não pode ser apontada como causa do Alzheimer. “Mas há uma evidente comorbidade coincidente das duas doenças”, aponta Okamoto. “Ao tratar a depressão, a qualidade de vida do doente melhora”, completa.
O sintoma mais comum da doença é a perda de memória, mas, com a progressão da doença, surgem outros: confusão, irritabilidade, alterações de humor, falhas na linguagem e prejuízo da capacidade de orientação temporal ou espacial. Ainda não há cura definitiva para a doença, mas alguns remédios podem retardar sua evolução.
Pesquisa
O estudo apresentado na capital francesa foi coordenado por Deborah Barnes, professora adjunta do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, em São Francisco, e recebeu financiamento dos Institutos Nacionais para o Envelhecimento, nos Estados Unidos.
Fonte Estadão
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