Após 18 meses, médicos descobriram que menino tinha 'síndrome dos ossos de vidro'.
Um casal britânico perdeu a guarda dos dois filhos devido a um diagnóstico errado de fraturas em seu bebê recém-nascido.
Paul Crummey e Amy Garland foram acusados de usar violência contra o bebê Harrison semanas após seu nascimento, quando o levaram para o hospital e os médicos encontraram oito fraturas em seus braços e pernas.
Os dois foram presos e proibidos de ficar sozinhos com Harrison e Bethany, sua filha mais velha, que tinha quase dois anos na época.
Quase um ano e meio se passou até que médicos e assistentes sociais do governo descobrissem que o menino sofria de uma forma rara de osteogênese imperfeita, uma doença genética conhecida como "síndrome dos ossos de vidro", que atinge uma em cada 20 mil pessoas, de acordo com estatísticas oficiais.
Sangue e fraturas
Amy Garland, de 26 anos, começou a desconfiar que havia algo errado com o bebê Harrison logo nas primeiras semanas de vida, quando ele começou a golfar sangue, mas os exames feitos no hospital não encontraram nada errado com o bebê.
Quando percebeu que as pernas de Harrison estavam inchadas, a mãe o levou de volta ao hospital e exames de raio-x encontraram as fraturas.
"Nós obviamente não tínhamos ideia de que a doença estava na família, então quando eles nos perguntaram o que havia acontecido, só podíamos dizer que não sabíamos", conta Garland.
O juizado de menores foi chamado e os pais foram presos. Eles foram interrogados separadamente e a polícia conversou com vizinhos e vasculhou a casa da família.
"Eu estava em choque. Eu tremia. Me senti como uma criminosa", diz ela.
Guarda
Enquanto Bethany ficou sob os cuidados do avô materno, Harrison se recuperava no hospital e só tinha contato com a mãe sob supervisão.
Quando o caso foi levado à Justiça, o juiz ordenou que a família passasse a viver em uma acomodação do Estado.
"Éramos vigiados 24 horas por dia e havia câmeras em todos os cômodos. Era como uma prisão, porque não podíamos sair sem ter um funcionário nos acompanhando."
Após três meses, nada de errado foi encontrado e os funcionários recomendaram que a família ficasse junta, mas, dessa vez, o juizado de menores pediu que as crianças ficassem sob a guarda da avó materna.
O casal, da cidade de Bristol, acabou se separando dois meses depois. Por mais de um ano, os pais só podiam ver as crianças seis horas por dia sob supervisão.
"Perdemos tanto da vida de nossos filhos. Eles passaram por tanta coisa. Isso acabou me afastando de Amy porque não sabíamos como lidar com a situação", diz Crummey, de 41 anos.
Diagnóstico
Em janeiro de 2009, Amy Garland encontrou um especialista que analisou o histórico médico da família e disse acreditar que Harrison tinha osteogênese imperfeita.
Lendo o parecer do especialista, dois médicos envolvidos no caso admitiram que ele poderia ter a doença e o juizado de menores decidiu abandonar a ação contra os pais.
Um mês depois, Harrison foi diagnosticado com a "síndrome dos ossos de vidro". Bethany também tem a doença, mas em uma forma mais branda.
Hoje, o menino de três anos toma injeções de vitamina D para fortalecer os ossos e faz fisioterapia.
"Nunca recebemos um pedido de desculpas do juizado de menores. Isso me deixa furioso", diz Crummey.
O juizado de menores de South Gloucestershire divulgou apenas que "coloca o bem-estar das crianças como principal objetivo de seus serviços".
Ao menos outras duas famílias britânicas com filhos que sofrem de osteogênese imperfeita já receberam indenizações do Tribunal Europeu de Direitos Humanos após serem erroneamente acusadas de abuso.
Fonte Estadão
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