Um número crescente de hospitais nos EUA vem oferecendo um tratamento controverso para pacientes com tumor colorretal ou de ovário.
Numa manhã recente, na Universidade da Califórnia em San Diego, o médico Andrew Lowy fez o tratamento em um paciente. Depois de abrir por completo o abdome do homem, Lowy mergulhou as mãos no fundo da cavidade e examinou órgãos à procura de tumores.
Lowy foi retirando todos os que encontrou. "Isso está saindo como se fosse papel de parede", disse o médico, enquanto tirava parte do revestimento interno da cavidade abdominal do paciente.
Depois de duas horas cutucando e cortando, Lowy acionou uma máquina, que bombeou a quimioterapia aquecida na cavidade abdominal por 90 minutos, enquanto enfermeiras manipulavam o abdome inchado do paciente, para espalhar as drogas.
Hospitais como o Centro Médico University Hospitals Case, em Cleveland, o Centro Médico Montefiore, no Bronx, e o Massachusetts General aderiram ao método.
Mas David P. Ryan, diretor do Centro de Câncer do Massachusetts General Hospital, questiona a técnica. Ele diz que a sobrevida aparentemente maior se deve à seleção de pacientes que poderiam ter se saído bem sem a químio quente.
Segundo Paul Sugarbaker, cirurgião do Centro Hospitalar Washington e defensor da técnica, as células cancerosas não resistem ao calor como as células saudáveis. E colocar a químio sobre os tumores é mais eficaz do que usar a corrente sanguínea.
Uma pesquisa feita há mais de dez anos com 105 pacientes na Holanda mostrou que pacientes submetidos à técnica tiveram o dobro da sobrevida (quase dois anos) do que os que receberam só a químio intravenosa.
Mas 8% dos que fizeram o "banho quente" morreram por causa do tratamento.
O procedimento dura ao menos oito horas, e a recuperação leva até seis meses.
Muitas vezes, é preciso extirpar, além dos tumores, órgãos como o baço, a vesícula biliar, os ovários e o útero.
Alguns pacientes, como a advogada Gloria Borges, 29, dizem que a técnica adiou uma sentença de morte.
Mas o oncologista Alan Venook disse que dois pacientes seus sofreram muito. "Uma perdeu parte da parede abdominal para infecções e teve uma morte dolorosa."
Editoria de arte/folhapress | ||
Tradução de CLARA ALLAIN
Fonte Estadão
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