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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Eles já operaram 6 mil corações de bebês

O casal Gláucio e Beatriz Furlanetto são pioneiros em tratar de crianças cardíacas e com só algumas horas de vida

As formigas e os insetos instigavam o menino Gláucio. Tão pequenos e tão complexos, como será que funcionam? A dúvida fazia o garoto paulistano abrir os pequenos animais e investigar, em um brincar de ser cirurgião, o funcionamento daqueles seres quase microscópicos.

Gláucio Furlanetto cresceu, virou médico na vida real e a complexidade das pequenas proporções continuou como combustível de sua curiosidade. Ainda estudante de medicina, ele e a então namorada Beatriz ficaram perplexos ao saber que a cirurgia cardíaca não tinha especialização efetiva em recém-nascidos que chegam ao mundo com batimentos fora de ritmo.

De forma pioneira, o casal começou a estudar as fórmulas mais seguras de operar pequenos corações. A parceria de Gláucio e Beatriz completa 37 anos em 2011 e tem o sucesso medido em números. Eles colecionam seis mil cirurgias cardiológicas infantis, a maior parte feita no Hospital Beneficência Portuguesa, mas também realizadas em Estados e até Países (Peru e Colômbia principalmente) em que os bisturis não arriscam operar pacientes tão novinhos.

Ficaram experts neste tipo de procedimento e hoje já são acionados antes mesmo das crianças nascerem. Quando o ultrassom identifica alguma anomalia no coração dos fetos, eles já se preparam para atuar horas depois do trabalho dos obstetras.

A pouca – ou nenhuma – expectativa de vida que antes era regra para as famílias de filhos com doenças cardíacas graves ganha um suspiro. “Salvar vidas, ainda mais de uma criança, é muito gratificante, mas não envaidece porque sabemos que temos muito por fazer”, afirma Gláucio Furlanetto. “Em cada operação, os pacientes são como professores. Ensinam o que ainda não sabemos e nos conduzem para aperfeiçoar as técnicas nos próximos bebês que vão precisar dos nossos cuidados.”

Alternância de comando

Gláucio e Beatriz concluíram o curso de medicina em 1978 na Universidade Santo Amaro, em São Paulo, casaram no ano seguinte e já em 1985 começaram a operar juntos os corações infantis na Beneficência Portuguesa. Também sempre um ao lado do outro fizeram especializações em cardiologia e em 1994 fundaram o Instituto Furlanetto que, entre outros objetivos – como capacitar médicos e produzir pesquisas na área da cardiologia infantil – também realiza um trabalho social.

Fazemos festas e confraternizações para reunir os familiares dos nossos pacientes”, explica Beatriz.

“O grande objetivo das nossas operações é dar uma vida normal à criança ou o mais próximo possível da normalidade. E, muitas vezes, para compreender como os filhos podem brincar ou até como os pais devem falar da cirurgia com as crianças eles precisam deste contato com quem passou por experiência semelhante a deles.”

Os pacientes que se encontram na festa do Instituto Furlanetto começam a ser atendidos às 5h30 e o último atendimento do casal é às 21h30. A rotina longa sempre é enfrentada em dupla. Gláucio e Beatriz só tiram férias para participar de convenções e congressos de cardiologia e os finais de semana dos dois também incluem trabalho.

Eles, que de tão apaixonados pela profissão não sentem um pingo de ciúmes da carreira um do outro, arrumaram um jeito para diminuir as possibilidades de conflito que poderiam atrapalhar a vida pessoal. “Eu e a Bia estamos sempre juntos, mas não concordamos em nada. Profissionalmente, estamos em constante embate”, reconhece Gláucio.

Por isso, os sete pacientes infantis operados semanalmente pelos dois, em cirurgias que têm duração média de oito horas (quando tudo ocorre bem), são alternados. “Um dia é o Gláucio que comanda a equipe cirúrgica, no outro sou eu. Para não dar briga, sempre contamos com a assistente que faz a agenda. Quem está no comando tem prioridade na hora de decidir”, explica a dinâmica, Beatriz.

Próximos passos

No esquema de alternar quem comanda os bisturis, o casal Furlanetto sabe que alguns pacientes salvos hoje pelas mãos de ambos não conseguiriam sobreviver há cinco ou três anos. “As técnicas, ainda bem, estão evoluindo diariamente”, comemora Gláucio.

“Uma das operações mais complexas, a transposição de grandes artérias, há dez anos, tinha mortalidade de 40%. Hoje o índice é de 5%. Estamos avançando apesar de ainda engatinhar.”

Para os próximos passos, eles não almejam equipamentos ultramodernos para operar. Querem apenas diminuir distâncias. “Não dá para a cirurgia cardíaca pediátrica continuar sendo privilégio de alguns”, avalia Gláucio Furlanetto.

Para se ter uma ideia das diferenças regionais na especialidade, em Rondônia, no ano passado, 17 crianças com menos de 1 ano foram internadas por problemas cardíacos, segundo levantamento feito pela reportagem nas planilhas do Ministério da Saúde. Em São Paulo, em igual período, o número foi 48 vezes maior, 810 internações. O casal sabe que a diferença de algarismos não indica que a população paulista é mais vulnerável à cardiopatia e, sim, que elas têm mais acesso a tratamento.

“Por isso viajamos pelo Brasil para treinar os médicos. O sonho é que não falte estrutura e nem profissionais em todos os locais do País”, diz Gláucio. Os pequenos e complexos sempre fizeram a cabeça deste casal. Mas eles sabem que a cardiologia infantil não pode mais caminhar com passos de formigas.



Foto: Arte/ iG
Infarto


 Fonte IG


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