Saiba quando procurar ajuda e quais os tratamentos funcionam
Presidente Franklin Roosevelt (1882-1945) e o primeiro-ministro Winston Churchill (1874-1965) tinham algo em comum, além do gosto pelo poder. Ambos enlouqueciam qualquer mulher que se atrevesse a repartir com eles uma cama de casal. Roosevelt e Churchill conseguiam propagar seus estrondosos roncos pela casa inteira.
Um roncador como eles pode emitir, facilmente, sons que chegam até 80 decibéis. Para se ter uma ideia, uma conversa normal gira em torno de 60. A sinfonia, desagradável aos ouvidos de qualquer mortal, é quase unanimidade entre as famílias. Quem não tem algum parente próximo que mais parece um serrote dormindo? Pois, tirando a parte humorística do fato, a verdadeira face deste problema talvez seja a de um sinal de alerta, de um fator de risco e de um indicador do estado neuromuscular do organismo.
– Quem começa a roncar de uma hora para a outra pode estar certo de que engordou demais – afirma Denis Martinez, professor da Faculdade de Medicina da UFRGS e especialista em Medicina do Sono.
Segundo Martinez, o fenômeno central para o surgimento do ronco consiste na garganta flácida. O tono dos músculos da região se reduz, levando progressivamente ao contato das paredes que gera vibração e o ruído característico.
– O sono, além de provocar relaxamento muscular, altera a coordenação entre as contrações do diafragma e dos músculos da garganta. Normalmente, a inspiração inicia pelos músculos da asa do nariz e propaga-se pela faringe, laringe e parede torácica, até alcançar o diafragma. Suspeita-se que os roncadores sofram uma perda dessa coordenação, herdada geneticamente – explica o especialista.
Além disso, fatores anatômicos como obesidade, queixo pequeno, mordida estreita, céu da boca (palato) em formato de ogiva, amígdalas e adenoides aumentadas, em suma, tudo que estreite a passagem do ar e facilite o contato entre as paredes da garganta, propiciará o ronco.
O ronco, para muitos médicos, é o mais sonoro sinal da doença. Estimativas apontam que sete em cada cem pessoas têm o distúrbio em grau acentuado e outras 20 em cada cem apresentam sintomas mais leves, como indica a neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). E uma das suas causas mais frequentes, além da obesidade, é a respiração bucal, que também pode estar associada a cessações com intervalo de respiração, a chamada apneia. Ambos problemas costumam aparecer com mais intensidade por volta dos 40 anos, sobretudo nos homens, e com uns quilos a mais. Isto porque, a partir dessa faixa etária, a musculatura da faringe fica mais flácida.
Quando o indivíduo se deita, então, esse tubo se estreita e, com a ajuda de possíveis amontoados de gordura na região da garganta, interrompe o caminho do ar. Esse estreitamento provoca uma vibração, o ronco, seguida de uma parada silenciosa da respiração, como descreve o otorrinolaringologista Lucas Lemes, pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A faringe se fecha por no mínimo 10 segundos e, em casos graves, pode ficar assim por um minuto.
O ortodontista e ortopedista facial Gerson Köhler explica que, nos estudos dos distúrbios respiratórios do sono, o diagnóstico e o tratamento da respiração bucal é imprescindível.
– A população brasileira está ficando cada vez mais velha e a respiração bucal tem se tornado mais frequente – diz o especialista.
Respirar pela boca pode causar alterações fisiológicas e efeitos bioquímicos nocivos,
acarretando o avanço progressivo de doenças crônicas, como apneias obstrutivas e diabetes tipo 2. O barulho, como se vê, é o mais ameno dos reflexos deste problema.
Exercícios para roncadores
Uma das mais recentes alternativas utilizadas para tratar o ronco envolve uma série de
exercícios, capazes de fortalecer a musculatura da garganta envolvendo a língua e o palato mole (parte posterior do céu da boca).
Segundo especialistas, isto pode reduzir em até 40% a gravidade e os sintomas da apneia do sono, distúrbio que tem como características ronco alto e interrupções da respiração durante o sono.
Os exercícios – que envolvem vários movimentos da língua foram desenvolvidos pela
fonoaudióloga Kátia Carmello Guimarães em parceria com médicos do Instituto do Sono
do InCor (Instituto do Coração de São Paulo) – têm se mostrado eficazes para minimizar o problema. A recomendação é que eles sejam feitos com a orientação de um fonoaudiólogo.
Mitos e verdades
:: Dormir de barriga para cima aumenta o ronco
NÃO NECESSARIAMENTE: De barriga para cima, os músculos tendem a obstruir a garganta com maior facilidade, aumentando a dificuldade da passagem do ar e as chances do ronco. Mas não é só mudar de posição que o problema está resolvido: em casos mais severos, o ronco recomeçará em qualquer posição.
:: Roncar separa casaisVERDADE: Quem dorme com quem ronca sofre com o barulho e acaba tendo insônia, passando o dia cansado e sonolento. Na maioria dos casos, os casais passam a dormir separados.
:: Roncar é sinal de sono profundoMITO: É exatamente o contrário: quem ronca não dorme bem, não atinge sono profundo, não tem sono reparador, não relaxa e não descansa. Pode, ainda, ter apneia do sono.
:: Roncar pode causar disfunção erétil VERDADE: O corpo do roncador, por não descansar bem, acaba perdendo energia e sofrendo mais cansaço. Essas condições podem levar a problemas de ereção.
:: O ronco pode causar apneiaVERDADE: Roncar não é normal e pode ser um sinal do aparecimento da apneia do sono.
:: O ronco não tem soluçãoMITO: O ronco é um distúrbio do sono de natureza crônica e pode ser controlado com diversos tratamentos.
Fonte: Eduardo Rollo Duarte, odontologista, Incor, Denis Martinez, especialista em Medicina do Sono, Gerson Köhler, ortopedista facial.
Fonte Zero Hora
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