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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mudanças climáticas deixam Brasil mais exposto a surtos de dengue, malária e leptospirose

Aquecimento global aumenta calor e chuvas, criando ambientes propícios aos mosquitos

Tanto o Brasil quanto a saúde dos brasileiros não ficarão imunes às consequências das mudanças climáticas. Estima-se que nas próximas décadas o país sofra agravos ambientais tão severos que irão mexer direta e indiretamente na forma de vida da sua população.

Entre as principais mudanças, pesquisas apontam alterações significativas nos ecossistemas da
Amazônia, do Pantanal e nas áreas de mangue, além da diminuição drástica de chuvas no Nordeste e o aumento delas no Sul e Sudeste, que serão responsáveis pela maior incidência de doenças infecciosas como dengue, malária, leishmaniose e leptospirose em regiões onde elas até então não eram endêmicas.

Essa conclusão foi divulgada no estudo Mudanças Climáticas e Ambientais e Seus Efeitos na Saúde: Cenários e Incertezas para o Brasil, da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) em conjunto com o Ministério da Saúde e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em 2008.

E ratificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) na COP-15 (Conferência do Clima das Nações Unidas), em Copenhague, na Dinamarca, em 2009. No evento, a organização estimou que mais de 13 milhões de mortes ocorrem por ano no mundo por motivos relacionados ao ambiente.

Mais calor, mais chuva, mais dengue
Segundo o pesquisador Ulisses Confalonieri, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), o ciclo dessas doenças pode ser expandido no país tanto pelo aumento da temperatura em certas regiões, quanto por conta das inundações causadas por chuvas que se tornarão mais frequentes em algumas localidades.

Afinal, os mosquitos da dengue e da malária se reproduzem na água e em dias quentes. E a infecção por leptospirose pelo contato da pele humana com água contaminada por uma bactéria presente na urina de rato, geralmente em enchentes.

Exemplo disso são os casos de dengue registrados neste ano no Sul do país, região com pouca tradição desses surtos, segundo o pesquisador.

- Existe um estudo no Paraná que mostra o aumento da dengue no Estado nos últimos anos pelo aumento na temperatura. E teses que mostram casos de malária no Rio de Janeiro.

Uma pesquisa recente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostra que as noites estão ficando mais quentes em todo o Brasil, inclusive no Sul, o que pode justificar a proliferação dos mosquitos.

Outro fator que aumenta a probabilidade da migração dessas doenças é a alteração de ecossistemas locais degradados pelo desmatamento. Isto é, o clima mais quente e chuvoso em certas regiões fica muito mais propício para os mosquitos se reproduzirem, enquanto que em áreas desmatadas eles podem ficar sem habitat adequado, diz o pesquisador da Fiocruz.

- A dinâmica da malária depende do mosquito, que depende da floresta, que depende da água. Os modelos [de expansão das doenças] devem combinar desmatamento com mudança do clima.

Segundo o quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), de 2007, protocolo usado como referência pelos pesquisadores, a temperatura da Terra deve aumentar em até 4ºC em 2.100. E no mesmo período, o nível dos oceanos deverá aumentar 59 cm, as chuvas, 20% e as geleiras do Polo Norte, se derreter por completo.

Seca leva a falta de água e a doenças intestinais
Outro grupo de doenças infecciosas que pode ser afetado pelas mudanças climáticas são as relacionadas com o saneamento básico. As ondas de calor, tempestades, inundações, queimadas e secas, além de poder causar mortes precoces, devem diminuir as reservas de água potável nas regiões onde elas já eram escassas, além de prejudicar a agricultura de subsistência local, afetando a saúde da população desses lugares.

Diante desse cenário, estima-se o aumento de casos de doenças intestinais, como a diarreia e as gastrenterites, de doenças infecciosas, como a leishmaniose e a leptospirose, além do aumento de casos de desnutrição, fome e doenças mentais, como o estresse pós-traumático, pelo impacto ambiental.

E o Nordeste deverá ser a zona mais vulnerável a essas mudanças, segundo o relatório Mudanças Climáticas, Migrações e Saúde: Cenários para o Nordeste, da Fiocruz, de 2008.

A pesquisa mostra que a região do semiárido sofrerá ainda mais com a seca e, consequentemente, com a falta de água potável. Sem água, a população ficará mais suscetível a sofrer das doenças citadas acima e ainda correrão mais risco de sofrer de fome e desnutrição, por não terem como manter suas plantações.

Quando a poluição afeta a saúde
A emissão de gases do efeito estufa na atmosfera aumenta o acúmulo de poluentes no ar, e, por consequência os casos de doenças respiratórias na população, segundo o relatório da Opas.

E quem mais deve sofrer com isso são os moradores das grandes cidades, de acordo com o pesquisador da Fiocruz.

- Cidades muito poluídas, como São Paulo, podem ter um aumento da concentração de poluentes por conta do aumento da temperatura, causando problemas respiratórios, cardiovasculares e piorando o estado de quem tem asma e bronquite.

Essa piora na saúde, causada pelo acúmulo de poluentes, já foi observada na população idosa da capital paulista. Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) mostrou que o contato com ambientes poluídos e com baixa umidade relativa do ar aumentou o risco de morte cardiorrespiratória em idosos já debilitados.

Tem como prevenir essas doenças?
Ainda em matéria de previsão, o aumento de pessoas doentes deve causar uma excessiva demanda pelos serviços médicos e uma mudança social determinada pelo surgimento de refugiados ambientais (pessoas que migram de uma região a outra para evitar eventos extremos).

Para evitar um possível colapso da rede pública, o Ministério da Saúde, junto ao Ministério do Meio Ambiente, está desenvolvendo um plano setorial com o objetivo de preparar profissionais e diminuir os impactos do próprio setor no meio ambiente. Entre as ações, há previsão de treinar profissionais e quantificar a produção de poluentes emitidos pelos veículos operados pelo SUS, pela indústria de medicamentos e pelos próprios hospitais.

Segundo Guilherme Franco, diretor do departamento de vigilância em saúde ambiental do Ministério da Saúde, a solução encontrada é ajudar na diminuição da emissão de gases do efeito estufa, já que “não há como impedir os efeitos das mudanças”.

- O que podemos fazer é organizar políticas públicas que possam melhor enfrentar a situação. Nós temos um cenário da saúde de ampliação da transmissão de certos vetores. Podemos preparar os serviços de saúde para que trabalhem melhor com esse cenário.
  


Fonte R7

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