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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Nova técnica para fertilização pode reduzir número de gestações múltiplas


Desde que a britânica Louise Brown veio ao mundo, em julho de 1978, muita coisa mudou. Louise foi o primeiro bebê de proveta do planeta, resultado de um procedimento até então nunca visto e que transformaria para sempre a maneira de pensar a reprodução humana. Seis anos depois, foi a vez de o Brasil presenciar o nascimento de Anna Paula Caldeira, a primeira criança “feita em laboratório” da América Latina. De lá para cá, cientistas do mundo inteiro buscam formas de aprimorar as chamadas tecnologias de reprodução assistida (TRA).

Publicado neste mês no periódico Nature, um estudo de pesquisadores da Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos, pode aumentar as chances de sucesso e reduzir a incidência de gestações múltiplas associadas à fertilização in vitro (FIV), talvez a técnica mais conhecida de TRA.

No trabalho, os cientistas observaram o ciclo de desenvolvimento embrionário humano e descobriram que, graças a uma série de movimentos dentro dos óvulos ao longo das primeiras horas após a fertilização, é possível prever com maior precisão quais embriões têm maiores chances de sobreviver. Anna Ajduk, pesquisadora do Instituto UK Gordon de Pesquisa do Câncer de Cambridge e uma das autoras do estudo, explica que a ideia é encurtar ao máximo o tempo entre a fertilização e a descoberta de quais seriam os mais aptos. “Há registros que indicam que a cultura in vitro de embriões pode ter efeitos negativos sobre eles e no sucesso da gravidez”, justifica.

Normalmente, após a fertilização os embriões são cultivados por três a seis dias. Nesse período, os médicos avaliam seu desenvolvimento e sua morfologia diariamente, para que somente aqueles que pareçam em boas condições sejam transferidos para o útero da paciente. O estudo apontou, contudo, que metade dos embriões humanos param de se desenvolver antes do estágio inicial do desenvolvimento embrionário, chamado blastocisto. O resultado são pacientes implantadas com mais de um embrião por vez, o que pode ocasionar a tão famosa gravidez múltipla.

A pesquisa começou há cinco anos, mas Ajduk admite que, embora as fases do desenvolvimento das células sejam semelhantes para humanos e várias outras espécies de animais, a técnica só foi testada em embriões de ratos. “É provável que o custo seja um pouco maior, mas não deve ser muito mais caro, pois (o método) utiliza equipamentos como câmeras, computadores e microscópios e, uma vez adquiridas, essas máquinas podem ser usadas por muitos anos e para vários outros tratamentos”, reforça Karl Swann, pesquisador do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade Cardiff, no Reino Unido, e também participante do estudo.

Primeiros estágios
Para Adelino Amaral Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e diretor do Centro de Assistência em Reprodução Humana Gênesis, é preciso conter a empolgação acerca de estudos sobre reprodução assistida. Por estarem em fase experimental, ele frisa que pode demorar até que as clínicas especializadas incorporem as novas descobertas. “Ainda sabe-se pouco sobre medicina reprodutiva. Por isso, experimentos como esse precisam se repetir e se aprofundar até que se chegue a uma conclusão”, completa.

Além de pesquisar o óvulo, Vinícius Medina Lopes, ginecologista e também especialista em reprodução humana, menciona a importância de estudos voltados para os espermatozoides. Segundo ele, entre 30% e 35% das causas de infertilidade são identificadas no sêmen. Dentre as mais comuns, Lopes destaca espermatozoides com formatos anômalos ou produzidos em pequena quantidade. “Antigamente, os homens produziam cerca de 40 milhões de espermatozoides por ejaculação. Agora, essa média é de 32 milhões”, completa Lopes. A falta de hábitos saudáveis e fatores ambientais, como a poluição, podem estar entre os motivos para essa diminuição.

Adriana Nava Fatureto, 31 anos, faz parte das estatísticas mencionadas pelo médico. Por conta da teratozoospermia do marido (quando mais da metade dos espermatozoides são anormais), a servidora pública resolveu tentar a reprodução assistida. Após alguns exames, Adriana submeteu-se à fertilização uterina, na qual o esperma é diretamente colocado no útero. “Depois de 14 dias, fiz uma ecografia e descobri que estava grávida de quatro bebês”, conta. Mesmo com a surpresa inicial, porém, hoje ela jura que o resultado não poderia ter sido melhor. “Foi um susto, mas não escolheria ter só um se pudesse”, confessa.

Ritmo identificado
Os estudiosos observaram um óvulo recém-fecundado de rato e descobriram que a fertilização induz movimentos rítmicos citoplasmáticos. Esses movimentos coincidem com as pulsações da protuberância formanda acima da cabeça do espermatozoide — ação que indica que o óvulo será, de fato, fertilizado. Assim, os cientistas foram capazes de avaliar a qualidade do citoesqueleto do embrião (microfilamentos proteicos que ajudam na manutenção da forma celular) e o nível de íons de cálcio, outro responsável por desencadear essa movimentação.

Quatro graus
Para determinar o embrião ideal, os médicos analisam seu formato (a morfologia) e o listam em graus 1, 2, 3 ou 4. No terceiro dia de desenvolvimento, o desejável é que o embrião tenha oito células simétricas e sem nenhuma fragmentação (processo que ocorre durante a divisão celular e que pode modificar sua forma). Se ele for assim, pertence ao grau 1, com mais chances de ser implantado. Os do grau 2 podem ter menos células e maior grau de fragmentação e assim por diante.

Fonte Correio Braziliense

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