“Meteorologista da saúde” calcula impactos do clima. Idosos e crianças são maiores vítimas
A mudança brusca na temperatura acarreta prejuízos diretos aos hospitais. Micheline Coelho, meteorologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveu uma ferramenta capaz de mensurar esse estrago: quando, no intervalo de 24 horas, os termômetros despencam 15 graus – de 25ºC para 15ºC, por exemplo – há um aumento de 95% nas internações por asma em São Paulo e 99% no Rio de Janeiro.
Para chegar ao modelo matemático que contabiliza o aumento do número de pacientes com crises respiratórias graves, Micheline analisou por mais de dois anos os registros diários do banco do Ministério da Saúde, chamado de DATASUS, e cruzou-os com as informações sobre o clima. A fórmula hoje é utilizada no Laboratório de Estudos da Poluição da USP e serve de base para várias pesquisas sobre aquecimento global e poluentes.
Segundo a pesquisadora, o modelo da "meteorologia da saúde" abrange apenas uma pequena parte dos danos provocados. “Apesar do aumento importante registrado nos três dias seguintes à alteração climática, apenas os casos que exigem internação são contabilizados”, pondera.
“Ficam de fora as pessoas que vão ao pronto-socorro, fazem inalação e voltam para casa, por exemplo. Também não há estatísticas de quem apenas passa pela consulta médica”, informa Micheline.
Além de São Paulo e Rio de Janeiro, as informações de saúde sobre queda brusca de temperatura foram calculadas para Brasília (aumento de 85% nas internações por asma), Porto Alegre (acréscimo de 86%) e Florianópolis (85%).
Adaptação
O patologista Paulo Saldiva, pesquisador de Harvard, diretor do Laboratório de Poluição da USP e um dos principais médicos mundiais na área de clima e saúde, afirma que as crianças e os idosos são as principais vítimas das reviravoltas no tempo.
“São os pacientes que mais sofrem para se adaptar às condições climáticas abruptas. O organismo de todas as pessoas é acostumado a ficar em uma zona de conforto de temperatura. Existe um centro termorregulador que faz os ajustes necessários quando há alterações”, explica Saldiva.
“As crianças não têm o sistema imunológico muito desenvolvido para lidar com estes extremos de calor e frio. Já os idosos, perderam um pouco da capacidade de adaptação às novas condições. Por isso, sofrem mais.”
As ondas repentinas de frio e calor são ainda mais nocivas quando acompanhadas de excesso de poluentes ou de baixa umidade relativa do ar, características das grandes cidades. Quando o registro meteorológico fica abaixo dos 17 graus e, atrelado a isso, há alta concentração de ozônio, as internações hospitalares dão um salto de 76%. Sem a presença do gás tóxico em excesso, a ampliação é de 33%.
Outras áreas da medicina também já colecionam evidências sobre os efeitos ruins da poluição. Infertilidade,infarto e depressão são só algumas doenças associadas ao fenômeno, agravadas ainda mais em dias frios.
Pequenos pulmões
No grupo de risco mais vulnerável aos dias frios estão também os bebês prematuros. Para proteger os pulmões das infecções respiratórias graves, a Sociedade Brasileira de Imunização (Sbim) elaborou um calendário especial de vacinas para as crianças nascidas antes do tempo (veja aqui).
A chegada de uma massa de ar polar em São Paulo nesta quarta-feira (31/08) fez a Sociedade emitir um comunicado de alerta sobre a importância das doses para estes recém-nascidos. A iniciativa, justifica a Sbim, quer “levar a mensagem de conscientização e alerta aos médicos, pais, cuidadores de bebês e a população em geral para que um maior número de prematuros seja imunizado durante o período entre abril e setembro, época de maior circulação dos vírus, em especial, o VSR (Vírus Sincicial Respiratório)”.
Dicas para enfrentar mudanças bruscas no tempo
- Beba muita água, já que a hidratação reforça o sistema de defesa do corpo
- Higienize bem os cobertores e blusas antes de usar, pois guardados eles cumulam ácaros e outros agentes infecciosos e alergênicos
- Alimente-se bem, de preferência a cada três horas- Atenção aos exercícios feitos ao ar livre, já que o corpo não está pronto para mais uma mudança brusca de temperatura
Fonte IG
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