Foto: Edmar Chaperman/Funasa Obesidade já é um problema detectado nas crianças indígenas |
População infantil de índios lidera índice de obesos em SP; no Brasil índias com sobrepeso somam 46,5%
O curumim já não come mais raízes, frutas e vegetais. A dieta da criança indígena foi “invadida” pelo fast food e o resultado é que esta população lidera as estatísticas de obesidade e sobrepeso, com índices quase duas vezes maiores do que os encontrados em brancos, negros e orientais com menos de 14 anos em São Paulo.
A pesquisa foi realizada pelos médicos do Instituto do Coração de São Paulo (Incor), em inquérito realizado com 2.025 adolescentes de São Paulo. Enquanto 41% dos indígenas pesquisados apresentaram sobrepeso, nos meninos e meninas brancos de mesma faixa-etária a taxa foi de 22%. Entre os negros, 19,4%.
Inês Lancarotte, uma das autoras do estudo, pondera que a liderança indígena apareceu em um contexto de que esta população foi uma das menos numerosas a ser pesquisada (48 crianças). Entretanto, esta não é a única pesquisa que mostra a obesidade como um problema grave dos índios. Tampouco se trata de uma realidade exclusiva das aldeias paulistanas.
A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) também identificou a mesma situação na população nacional de índias. O primeiro Inquérito Nacional de Saúde Indígena avaliou 6.009 mulheres, de 177 tribos, de 14 a 49 anos e mostrou que 30,9 delas estão com sobrepeso e 15,6% foram classificadas como obesas (46,5%).
Lanchonetes, monocultura e diamantes
Para Rômulo Henrique da Cruz, coordenador geral da atenção indígena da Funasa, as tribos hoje ficam muito próximas da urbanização e os índios frequentam lanchonetes, consomem produtos industrializados e também são vulneráveis aos apelos das propagandas da indústria alimentícia.
Para Rômulo Henrique da Cruz, coordenador geral da atenção indígena da Funasa, as tribos hoje ficam muito próximas da urbanização e os índios frequentam lanchonetes, consomem produtos industrializados e também são vulneráveis aos apelos das propagandas da indústria alimentícia.
“É uma situação identificada em todo o país. No Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul tem a questão da proximidade das aldeias dos bairros urbanizados e das lanchonetes. Na região Sul e Sudeste como restaram poucas terras para plantar, os índios optam pela monocultura, pensando em vender e não priorizam a agricultura de subsistência que garantia um cardápio mais saudável”, afirma.
“Há ainda relatos da comunidade indígena de Rondônia. Lá, por conta do garimpo de diamante, alguns índios têm muito dinheiro. Vão ao supermercado e compram tudo que há no mercado, embutidos, refrigerantes doces. É um cenário muito ruim para a segurança alimentar”, completa Rômulo Henrique da Cruz.
A mudança no perfil alimentar dos indígenas também teve impacto nas doenças das aldeias. O foco dos agentes de saúde, que antes era exclusivamente em problemas infectocontagiosos, como malária, dengue e gripes, agora está mais centrado em infartos, acidente vascular cerebral e diabetes.
“Hoje temos essa visão de priorizar as doenças crônicas, um olhar diferenciado para essa questão”, afirma o coordenador de saúde indígena.
Para dar atenção especial ao novo foco, foi criada, no início deste mês, a Secretaria Nacional de Saúde Indígena, vinculada ao Ministério da Saúde.
Cachimbo do índio
A alimentação ruim a única responsável por levar doenças crônicas aos índios. Outros hábitos não saudáveis como uso de drogas e o alcoolismo estão disseminados nas aldeias.
A Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), ao fazer o mapeamento do padrão de consumo de álcool da população adulta brasileira, também investigou a comunidade indígena. Foram avaliadas 11 comunidades, de sete diferentes etnias, num total de 1.455 entrevistados. Os resultados mostraram que 38,4% consumiam álcool com frequência e, desta parcela, 49,7% gostariam de parar de beber mas não conseguiam.
Em algumas aldeias de São Paulo, a cerveja (bebida preferida pelos índios, segundo a pesquisa da Senad) foi proibida. “A forma como as comunidades lidam com o álcool varia muito conforme a liderança indígena da aldeia”, diz o coordenador da Funasa. “No Paraná, por exemplo, alguns caciques prendem os índios embriagados até curar do quadro etílico. Em algumas situações, a embriaguez rende até expulsão da aldeia.”
Fonte IG
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