Pesquisas associam diabetes, osteoporose, diabetes e doença renal ao HIV. Ainda não há respostas sobre as causas
José Rayan, 19 anos, pratica exercícios físicos todos os dias, tem alimentação saudável e regrada, anda sempre com camisinha na carteira (e usa sempre que precisa) e, mesmo assim, desperta nos especialistas uma série de dúvidas sobre a segurança de sua saúde.
Portador do vírus HIV desde que nasceu, o jovem não apresenta nenhuma fragilidade no quadro clínico e se prepara para viver até os “100 anos ou mais”.
Mas, no encalço dos medicamentos que trouxeram mais expectativa de vida para os que convivem com a aids – incluindo filhos de soropositivas contaminados no parto (chamada de transmissão vertical, o caso de Rayan) – surgiram efeitos colaterais graves e muitas perguntas ainda sem respostas.
Novas evidências científicas, por exemplo, trouxeram à tona o termo “doenças tardias”. Câncer, problemas cardiovasculares, osteoporose, diabetes e alterações renais são mais recorrentes nos infectados pelo HIV. Até recentemente, a ciência já sabia que as infecções virais (como gripe e tuberculose) eram uma ameaça aos pacientes. Surgem agora os riscos dobrados de doenças crônicas nos portadores do vírus.
“Os desafios são imensos e para muitos não temos respostas claras”, define a infectologista do Hospital 9 de Julho, Sumire Sakabe, uma das maiores estudiosas sobre aids no Brasil.
Olavo Munhoz, pesquisador e consultor técnico do Programa Nacional de Aids, DSTs e Hepatites Virais, complementa com o cerne da dúvida: “não sabemos ainda se as doenças tardias são em decorrência do próprio comportamento do vírus HIV no organismo ou resultantes dos medicamentos usados para controlar a carga viral.”
Dupla missão
Desde os 12 anos, quando descobriu que aquelas vitaminas dadas diariamente pela mãe eram, na verdade, o coquetel antiaids, José Rayan assimilou que poderia ser mais vulnerável a outras doenças.
Desde os 12 anos, quando descobriu que aquelas vitaminas dadas diariamente pela mãe eram, na verdade, o coquetel antiaids, José Rayan assimilou que poderia ser mais vulnerável a outras doenças.
“Encarei a descoberta do meu diagnóstico como uma mensagem de que teria de me cuidar mais, mas não necessariamente ter uma vida com privações. Acho que este foi o segredo”, conta.
Ele entendeu que a melhor forma de lidar com a aids – resultante de uma infecção em nada relacionada ao seu comportamento sexual de risco – era seguir à risca todos os preceitos para uma boa saúde.
“Nunca quis a carapuça de coitadinho. Tenho uma vida normal e gosto dela”, diz ao avaliar como normais as tardes em Manaus, cidade onde mora, preenchidas por estudos preparatórios para o vestibular de Direito, além de escapadas, aos finais de semana, para dançar e cantar as músicas do Exaltasamba e outros pagodes (seu ritmo preferido).
Pesquisando sobre o assunto, conta, ele definiu duas missões, adotadas na Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com a Aids, instituição que acaba de assumir como presidente.
A primeira é que seria porta-voz da importância do autocuidado e da autosuficiência para os jovens soropositivos.
“Disseminar a ideia de que a presença do HIV não anula os sonhos, deveres e direitos”, diz.
Ao mesmo tempo, Rayan sabia que era preciso levantar a bandeira do uso do preservativo para a toda a população mais nova, já que ninguém quer que o grupo de infectados aumente.
Os especialistas endossam essa segunda preocupação. De cada 10 casos novos registrados em 2011, um acometeu a parcela entre 15 e 24 anos, conforme levantamento do iG Saúde feito no último boletim epidemiológico nacional (1.401 notificações das 14.528 totais).
Os estudiosos alertam que, junto com os medicamentos mais potentes, nasceu na nova geração a falsa sensação de que é possível perder o medo da aids, já que ela é controlável. Este grupo etário, em especial as meninas, está entre os mais resistentes em usar a proteção contra doenças no ato sexual.
Com o agravante de que todas estas informações sobre as reações adversas dos remédios relacionadas às doenças crônicas são muito recentes e, provavelmente, não consideradas por quem acha aceitável não temer a aids.
“Algumas combinações de medicações alteram o colesterol dos soropositivos, o que nos deixa com uma bomba-relógio nas mãos”, destaca Sumire Sakabe.
“Sabemos que o coração dos pacientes pode ser afetado duplamente (pelo HIV e também pelo colesterol mais alto). Mas todas estas reações em cadeia passaram a ser discutidas com mais ênfase só agora nas reuniões acadêmicas, é tudo muito novo”.
Prevenção
Se os estudiosos ainda não conseguem saber ao certo a razão para os soropositivos apresentarem risco até três vezes maior para ter câncer (conforme estudo publicado no Lancet Oncology); se as razões ainda são incertas para os que convivem com HIV terem 50% mais incidência de diabetes e 26% mais chance de infarto (indicou alerta publicado no Arquivo Brasileiro de Cardiologia); se não há uma explicação certa para que eles vivam sob maior probabilidade de ter osteoporose e alterações nos rins (ressaltou o achado do Jounal of Endocrinology & Metabolism), é consenso quais posturas dificultam estas probabilidades.
Se os estudiosos ainda não conseguem saber ao certo a razão para os soropositivos apresentarem risco até três vezes maior para ter câncer (conforme estudo publicado no Lancet Oncology); se as razões ainda são incertas para os que convivem com HIV terem 50% mais incidência de diabetes e 26% mais chance de infarto (indicou alerta publicado no Arquivo Brasileiro de Cardiologia); se não há uma explicação certa para que eles vivam sob maior probabilidade de ter osteoporose e alterações nos rins (ressaltou o achado do Jounal of Endocrinology & Metabolism), é consenso quais posturas dificultam estas probabilidades.
Olavo Munhoz destaca, primeiro, o diagnóstico precoce. No Brasil, 114 milhões de brasileiros nunca fizeram o teste para saber se são ou não portadores do vírus. A estimativa é que 65% das pessoas que ficam sabendo ter aids só descobrem porque alguma doença oportunista as levou ao médico.
“Quanto mais complicações de saúde o paciente tiver, mais difícil é encontrar a terapêutica adequada para ele, com menos efeitos colaterais possíveis”, diz Munhoz.
Depois de descoberta a presença do vírus HIV, disciplina é a chave para uma vida praticamente normal e longe dos riscos, alerta Rodrigo Zilli, pediatra do Programa Nacional de DST e Aids.
“Tomar os medicamentos sempre nos horários certos, não consumir álcool, não fumar, ter uma vida regrada são as fórmulas mais eficazes de evitar problemas”, afirma Zilli.
“São estratégias que amenizam a toxicidade dos medicamentos e sabemos que, especialmente em uma fase jovem, uma das marcas do adolescente é querer firmar a sua identidade, por meio da revolta”, complementa o pediatra.
“Neste sentido, é preciso ficar atento para que ele não se rebele contra o seu tratamento, por cansaço, desânimo. Este é um problema mundial que exige empenho de toda a rede que trata os soropositivos.”
José Rayan nunca se revoltou contra aquelas vitaminas que o permitiram chegar até a fase adulta, com muita convicção de um futuro melhor. “Faço planos, tenho mil ideias”, diz.
Fonte iG
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