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quarta-feira, 20 de junho de 2012

“Agrotóxico é problema de saúde pública”

Segundo pesquisadores, o consumo de agrotóxicos pode levar a problemas de saúde crônica, e seus efeitos não são bem dimensionados pela saúde pública brasileira

Mesa de debate sobre os Impactos dos Agrotóxicos na Saúde e no Ambiente, realizada durante a Rio + 20, ressaltou a necessidade do Brasil – maior consumidor de agrotóxicos do mundo – de articular agendas políticas contra o uso desses produtos danosos à saúde a ao ambiente. A discussão, montada na Cúpula dos Povos pela Fiocruz, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) destacou a agroecologia, como alternativa aos agrotóxicos.

A pesquisadora Lia Giraldo, do Departamento de Saúde Coletiva do Instituto de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, lembrou que a Rio + 20 marca 20 anos da Rio 92 , quando pela primeira vez o tema ganhou destaque no cenário político mundial.

“Já naquela época, Rachel Carson abordava os agrotóxicos como um modelo casado com a superexploração da terra e das pessoas. O discurso econômico era de que seria uma forma de produzir em quantidade para acabar com a fome, mas, assim como ocorre hoje com os transgênicos, sabemos que não é. Transgênicos e agrotóxicos estão juntos. Cinco ou seis grandes multinacionais dominam mercado de agrotóxicos e sementes transgênicas, e as vendas são casadas. As empresas transitam com apoio do governo. A bancada ruralista tem uma força imensa e faz lobbies. Os agrotóxicos têm subsídios de 60% e, em alguns estados, como o Ceará, 100% de isenção fiscal. Como os últimos três governos deixaram chegar nesse ponto?”, criticou.

A pesquisadora ressaltou a importância de se debater o que a área da saúde está fazendo sobre o problema, que não é só da área rural. Segundo Lia, todo o controle de pragas é feito à base de inseticidas que contêm as mesmas substâncias que muitos agrotóxicos, mas são vendidos como algo “limpo” para a população.

“Crianças respiram veneno e a gente come veneno comprado no mercado. É uma inversão muitas vezes sustentada pela própria saúde pública, como no caso da dengue, em que os mosquitos se tornam resistentes ao veneno e é preciso aplicar cada vez mais e diferentes venenos, assim como nas pragas das lavouras. Mas somos uma espécie muito mais frágil que os mosquitos”, comparou.

De acordo com Lia, os impactos dos agrotóxicos não são bem dimensionados pela saúde pública, porque se avaliam alguns casos agudos que chegam aos postos de saúde, mas não os crônicos.

“A Saúde da Família tem que levar uma ação de saúde pública àqueles que estão vulnerabilizados”, defendeu. Entre os maiores problemas ela citou a contaminação de mananciais e de territórios como o pantanal matogrossense, acidentes que causam mortandades de peixes e outros impactos sobre a biodiversidade e a bioacumulação dos venenos em diversas espécies.

Para Lia, a questão dos agrotóxicos é um indicador transversal da crise civilizatória que vivemos. “O dossiê é uma fresta frente à hegemonia que se construiu sobre o agronegócio e os agrotóxicos no Brasil”, concluiu.

Agroecologia, uma alternativa ao agronegócio
A agrônoma Claudia Gerônimo, da ONG Amigos da Terra, da Guatemala, contou que uma pesquisa feita no seu país concluiu que menos de 14% das pessoas que usavam agroquímicos sabiam o que estavam usando, seus riscos e a importância do uso da roupa de proteção. Assim como no Brasil, os produtores são incentivados a utilizar agrotóxicos sem instruções claras de uso. Ela lembrou que muitos camponeses não conseguem ler os rótulos.

“Os danos ambientais são reais e se percebem nas nossas comunidades”, afirmou. Ela defendeu como alternativa ao modelo atual de agronegócio a agroecologia, com o resgate de conhecimentos ancestrais de produção.

O coordenador da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, Cleber Folgado, revelou que, segundo a OMS, para cada caso notificado de reação a agrotóxico, existem 50 não registrados, e enfatizou que não existe uso seguro. Segundo ele, a campanha tem como objetivos denunciar para a sociedade inteira, do campo e das cidades, os problemas causados pelos agrotóxicos e defender a proposta da agoecologia como agricultura alternativa.

De acordo com Folgado, mais do que um conjunto de técnicas com custos menores de produção, a agroecologia é um projeto político. Uma conquista do movimento foi conseguir pautar o governo, mas agora é preciso cobrar:

“A Dilma assumiu o compromisso de construir um grupo de trabalho interministerial para construir uma Política Nacional de Enfrentamento aos
Agrotóxicos. Falta cumprir”, disse.

As três bandeiras da campanha são o fim da pulverização aérea, a forma mais irresponsável de uso de agrotóxicos; o fim das isenções fiscais e a destinação dos recursos angariados para o SUS, para tratar das vítimas; e mais investimentos na Anvisa, que tem só 46 técnicos (para efeito de comparação, o órgão similar dos EUA tem 852).

Folgado conclamou a todos a assinarem o abaixo-assinado disponível em www.contraosagrotoxicos.org para fazer pressão política no governo.

A engenheira agrônoma Flavia Londres também garantiu ser possível alimentar a população com alimentos saudáveis e em boa quantidade com o modelo da agroecologia. “A Política Nacional de Agroecologia seria lançada por decreto na Rio + 20, a sociedade civil se mobilizou, estava previsto o estabelecimento de zonas livres de agrotóxicos e transgênicos. Não é mais possível a sociedade ignorar a situação e não fazer nada”, disse. Segundo ela, o modelo de agronegócio predominante há mais de 50 anos não deu certo, o que se prova pela exclusão e pobreza que gera, pelo esgotamento dos recursos e a contaminação do ambiente e pelo fato de haver hoje no mundo quase um bilhão de pessoas passando fome.

O debate foi organizado pela Abrasco, ANA, Via Campesina, Contag, Conaq, Fetraf, AS-PTA e Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida (Marina Lemle / VPAAPS / Fiocruz)

Fonte SaudeWeb

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