Em muitas casas, os pets têm acesso irrestrito, inclusive à cama dos donos. Saiba como evitar doenças e em que situações é melhor deixá-los fora do quarto
Muitas vezes a proximidade entre os animais e seus donos é tão grande que o acesso do gato ou do cachorro da casa é permitido até na cama. Mas será que isso é bom para os humanos? E para os animais?
A ideia era que Laniki, uma cadela sem raça definida, adotada pela atriz Laila Bueno Junqueira , 23 anos, ficasse numa área mais externa da casa, como a área de serviço. Mas a cadelinha, que chegou do abrigo para onde havia sido recolhida extremamente assustada, logo ganhou acesso à cama de Laila, para “se acostumar”.
Os pais de Laila não gostaram da ideia, mas Laniki acabou vencendo. “Ela se apegou muito a mim, não tem mais jeito”, diz a atriz. “Laniki se esparrama na cama e eu me torço toda para dar espaço para ela. Ela é a dona da cama, na verdade.” Laila troca os lençóis uma vez por semana, dá banho mensalmente na cachorrinha e segue as orientações anuais de vacinas e vermífugos do veterinário.
Vacinas e vermífugos em dia e muita higiene reduzem os riscos de transformar o animal em um transmissor potencial de fungos, bactérias e de vírus, alguns letais, como a raiva. Para Ronaldo Lucas, coordenador do hospital veterinário da Universidade Anhembi-Morumbi, o risco de contaminação é ínfimo, se o animal for saudável e estiver limpo. “Nesse caso, não existe contraindicação nenhuma em deixá-lo dormir com seus donos”, garante.
Mas existem controvérsias. “A gente frequenta a rua e entra com os sapatos dentro de casa; cachorro adora morder sapato, depois vem pedir carinho; sem perceber, esfregamos o olho e mexemos no rosto: pronto, está montado o ciclo da transmissão”, alerta a veterinária Juliana Kahn Pereira Nunes, da Policlínica Veterinária de Cotia. “Sem falar que existem vermes que são transmitidos por meio da pele, não precisa nem ter contato com a boca”, complementa.
Além dos sapatos, passeios na rua e contato com outros cachorros também podem trazer contaminações para dentro de casa. Daí para o “inimigo” pular para a cama junto com seu pet o caminho é curto.
Por isso, antes de deixar seu pet dormir na sua cama (passear na sua cozinha ou frequentar o seu banheiro), anote os cuidados que você precisa tomar
Período de observação
Animais adotados, trazidos da rua ou de abrigos, devem passar por um período de observação de cerca de dez dias antes de ter livre acesso às áreas mais íntimas da casa, incluindo a cama. “Se o bicho comeu um rato hoje, vai levar uma semana para apresentar sinais de leptospirose”, explica Ronaldo.
Cuidado com idosos, crianças e pessoas com sistema imunológico debilitado
Em casas com idosos, crianças ou pessoas com sistema imunológico debilitado, não é recomendado que os pets compartilhem a cama, de acordo com a veterinária. “Se você veta o acesso à cama e à cozinha, você diminui os riscos de contágio”, diz Juliana.
Mas se não for possível impedir o animal de acessar áreas íntimas da casa ou a cozinha, é preciso multiplicar as precauções. “Não é legal ter ninho de pulgas e carrapatos na nossa cama, né?”, diz a veterinária. Ela orienta os donos para que providenciem a vermifugação nos seus animais de estimação periodicamente, mantenham as vacinas em dia e façam um controle permanente e rigoroso de pulgas e carrapatos.
Banhos e tosas
Banhos semanais e tosas higiênicas (para retirada dos pelos da região genital), ajudam a manter a região anal limpa, mas devem ser feitos sem exagero para não deixar o animal desprotegido.
O hábito de comer cocô
“Tem cachorro que come cocô por problemas comportamentais ou por deficiências nutricionais. Existe, inclusive, uma medicação que torna o cheiro das fezes intolerável para o cachorro e ele para de comê-las”, explica a veterinária. Mas só o veterinário pode prescrever remédios para seu pet.
“Tem cachorro que come cocô por problemas comportamentais ou por deficiências nutricionais. Existe, inclusive, uma medicação que torna o cheiro das fezes intolerável para o cachorro e ele para de comê-las”, explica a veterinária. Mas só o veterinário pode prescrever remédios para seu pet.
Patas higienizadas
As patas dos cães e dos gatos devem ser higienizadas sempre que eles chegarem em casa, exatamente como as pessoas fazem com suas próprias mãos.
“O ideal é limpar as patas dos cães com um pano umedecido em água com sabão veterinário ou usar uma mistura de 80% água e 20% álcool ou, ainda, lencinhos específicos para pets, sempre que o animal volta de passeios na rua”, recomenda Ronaldo.
Insista na parte de baixo da pata e entre os “dedos”, que são as partes que têm contato com o chão. No caso de gatos, mesmo que não saiam, limpe as patas diariamente, porque eles costumam enterrar as fezes e pode haver contato.
As doenças que podem ser transmitidas por gatos ou cães
Veja algumas das doenças que podem ser transmitidas e/ou facilitadas pelo acesso de cães e gatos aos locais mais íntimos da casa, como a cama:
Ancilostomose
Cães podem carregar nas patas os parasitas responsáveis pela ancilostomose, também conhecida como amarelão. Os parasitas se instalam no aparelho digestivo dos humanos e nutrem-se do sangue do hospedeiro, podendo causar anemia.
Leptospirose
A leptospirose é transmitida pelo contato com a urina dos ratos, mas cães, desde que tenham tido contato com urina infectada, também podem ser transmissores, além de pegarem a doença, assim como os humanos.
Toxocaríase
Gatos e cachorros transmitem toxocaríase, doença provocada por um parasita que se aloja no intestino. Fezes contaminadas são, mais uma vez, as grandes vilãs, mas o solo de parques e jardins públicos também pode ter ovos do parasita. Crianças e filhotes são mais vulneráveis.
Bicho geográfico
Outra doença parasitária comum é o bicho geográfico, transmitido pelos cachorros. Se os ovos tiverem contato com um local úmido e quente, as larvas eclodem, ou seja, basta seu cão pisar em fezes infestadas na rua e, ao chegar em casa, ir dormir em cima do seu travesseiro para que o calor do corpo durante a noite favoreça a contaminação. Crianças estão especialmente sujeitas ao contágio, por terem a pele fina, assim como idosos e pessoas imunodeprimidas.
Toxoplasmose
Quem tem felinos está exposto à toxoplasmose, transmitida pelas fezes do gato, que pode causar abortos em grávidas e fetos malformados. Se o animal estiver contaminado e tocar nas próprias fezes ao enterrá-las ou lamber o corpo para fazer sua higiene e tiver acesso à cama ou à cozinha, há risco de contágio. Em casas com grávidas, é possível testar o animal e a gestante para descartar o risco da doença. “Fazer corretamente a higiene e lavar as mãos diminui o risco”, afirma Juliana.
Raiva
De todas as zoonoses, a mais temida, por não ter cura, é a raiva, causada por um vírus. “A vacina é obrigatória e fornecida gratuitamente pelo governo”, explica Juliana. A transmissão se dá por mordidas, mas mesmo um arranhão eventual pode transmitir o vírus. Por isso, independente da questão dormir ou não na cama, é indispensável manter a vacinação anual do seu bichinho em dia.
Alergias respiratórias
Compartilhar a cama com cães e gatos pode agravar quadros de alergias respiratórias. “Existem pessoas que desenvolvem tolerância aos alérgenos (substâncias no pelo e na saliva que causam alergia) dos animais, mas outras não. Nesse caso, dormir com os bichos na mesma cama piora o quadro”, diz Juliana.
Fungos e problemas de pele
Há alguns fungos e problemas de pele que podem ser passados tanto dos pets para os donos como na mão inversa, dos donos para os pets, como a sarna. “Eles podem transmitir sarna para nós, mas o contrário é verdadeiro: também podemos passar para eles”, diz Juliana. Micoses estão no rol de doenças que podem circular entre dono e pet, favorecidas pela proximidade.
E se você quiser mesmo que seu bichinho durma na sua cama...
Apesar dos conselhos dos especialistas, os donos insistem em compartilhar a cama com seus bichinhos. A estudante de mestrado Talita Rodrigues, não pretende vetar acesso aos seus lençóis para a siamesa Luna, de 16 anos, nem para Fígaro, resgatado da rua.
No apartamento em que ela e a família moravam anteriormente, ainda conseguiam impedir que os dois entrassem na cozinha, por exemplo. “Agora não temos restrição. Gato é difícil de controlar e nesse apartamento é impossível. Mas como eles não andam na rua a chance de pegar uma doença é muito baixa.”
Talita, no entanto, segue direitinho as orientações do veterinário, mesmo levando um puxão de orelha ou outro de vez em quando. “O dono precisa deixar claro para o veterinário que o bicho vai ter acesso à cama, para que possa receber a orientação correta. Não pode ter medo de levar bronca”, ensina o dr. Ronaldo.
Resta à Talita conviver com os pelos, já que só a escovação não é suficiente para manter cobertores totalmente livres deles. “Os dois gatos entram nos armários para dormir, o cobertor já vai para a cama cheio de pelos. Mas faz parte da nossa paisagem”, diz a estudante.
Fonte iG
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