L. Gubb/Carter Center/The New York Times O médico Donald Hopkins ensina três meninos do Sudão do Sul, na África, sobre a importância da filtragem da água |
Hopkins teve um papel importante na erradicação da varíola. Já a dracunculose
foi reduzida de 3,5 milhões de casos em 1986, quando Hopkins passou a comandar a
campanha para a sua erradicação, para menos de 600 casos em todo o mundo.
Hopkins aderiu à causa quando trabalhava nos Centros de Controle e Prevenção
de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês). Hoje, ele comanda o projeto no
Centro Carter, fundado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter para promover
os direitos humanos e combater doenças.
O trabalho não tem sido rápido. Vários prazos para a erradicação da
dracunculose já ficaram para trás. "Mesmo assim, acredito, com confiança cada
vez maior, que é pouco provável que a doença sobreviva por mais tempo que eu",
diz Hopkins, que tem 71 anos.
Quase todos os casos remanescentes estão no Sudão do Sul, país recentemente
independente e em grande medida em situação de paz. Há alguns casos no Mali,
onde a situação atual é demasiado perigosa para permitir o trabalho das equipes
de erradicação, ainda que a segurança tenha melhorado desde que tropas francesas
expulsaram rebeldes islâmicos do território. A Etiópia e o Chade, os dois outros
países em que há casos de dracunculose, não estão em guerra.
Escolher um trabalho que requer visitas a vilarejos distantes em várias
partes do mundo parece contraindicado para alguém que, como o próprio Hopkins
admite, tem medo de cobras, ratos, morcegos, aviões, altura e intoxicação
alimentar.
Para o médico William H. Foege, ele próprio ex-diretor do CDC e nome
legendário da guerra contra a varíola, o fato de Hopkins sempre retornar a
vilarejos cheios de cobras revela que "ele é uma das pessoas mais persistentes
que você poderia conhecer na vida."
Hopkins disse que soube desde criança que queria ser médico. Aos 15 anos de
idade, recebeu uma bolsa de estudos para a Morehouse, prestigiosa faculdade de
Atlanta para homens negros.
Ele ainda se recorda do momento em que decidiu se especializar em medicina
tropical. Numa viagem de férias ao Egito, viu moscas cobrindo o rosto de
crianças. Mais tarde, soube que as moscas eram transmissoras do tracoma,
infecção que provoca cegueira.
Na escola de medicina da Universidade de Chicago, um professor especializado
em doenças tropicais o incentivou a pesquisar a dracunculose. Depois de se
diplomar, Hopkins entrou para o Serviço de Saúde Pública dos EUA.
Em 1967, Foege convidou Hopkins para liderar o esforço de combate à varíola
em Serra Leoa, que tinha a maior incidência mundial da doença, e para testar uma
nova estratégia: em vez de tentar vacinar o país inteiro, equipes se deslocariam
rapidamente para os locais de novos surtos, vacinando as pessoas residentes em
círculos cada vez maiores em torno dos locais, até a doença desaparecer. A
estratégia funcionou tão bem, segundo Hopkins, que em menos de dois anos a
varíola tinha sido erradicada em Serra Leoa.
Voltando aos EUA, Hopkins lecionou medicina tropical na Universidade Harvard
e subiu na hierarquia do CDC, aposentando-se em 1987.
Na época, os maiores especialistas em saúde pública tinham um sonho
grandioso: levar água limpa a todos os habitantes do planeta. Hopkins sugeriu
uma meta mais modesta: o dracúnculo poderia ser eliminado pela simples filtragem
da água existente.
As pessoas se contaminam quando bebem água de lagoas que contêm minúsculos
crustáceos de água doce conhecidos como copépodes. As larvas não são digeridas e
crescem dentro do corpo humano, chegando a um metro de comprimento. Em seguida,
migram para a pele e desprendem um ácido que queima e cria uma bolha, através da
qual as larvas saem para a superfície. Assim que a vítima mergulha a área
inflamada em água, para refrescá-la, o verme expele milhões de novas larvas e dá
início a um novo ciclo.
A erradicação do dracúnculo pode ser alcançada com tecnologias simples de
filtragem e enormes redes de profissionais de saúde locais. Estes localizam os
casos, tratam as lagoas com pesticida e ensinam as famílias a filtrar a água que
consomem. Hopkins é perito em construir essas redes, em encontrar líderes locais
para comandá-las e em manter os ministros da Saúde dos países afetados atentos
ao problema.
Jimmy Carter lhe dá respaldo, fazendo uso de seu prestígio como ex-presidente
e telefonando a presidentes africanos para incentivá-los a levar a campanha
adiante.
Hopkins disse que, quando os programas são bem realizados, o progresso é
rápido. Gana passou de 501 casos para nenhum em 18 meses. Jimmy Carter elogiou
Hopkins, dizendo: "Não poderíamos ter chegado até aqui sem ele. Don me prometeu
que não vai se aposentar enquanto o último dracúnculo não tiver desaparecido".
Hopkins responde: "Mesmo que eu quisesse me aposentar, o que diria ao
presidente Carter? Ele é 17 anos mais velho que eu e continua firme!".
Fonte The New York Times/Folhaonline
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