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terça-feira, 18 de junho de 2013

Ausência de exame para câncer de boca exige atenção aos sintomas, alertam médicos

Homens têm o dobro de chance de mulheres de contrair a doença,
 de acordo com D'Souza, que é mais comum entre brancos do que negros
O ator Michael Douglas fez para o câncer de garganta o que Rock Hudson fez pela AIDS e Angelina Jolie pela mastectomia profilática. Ao afirmar na semana passada que seu câncer foi causado por um vírus transmitido durante o sexo oral, Douglas colocou a doença nas capas dos jornais e levou milhões de americanos a se preocuparem com isso pela primeira vez.
 
Trata-se de um subgrupo de americanos que normalmente tem mais medo de morrer em consequência do excesso de colesterol, do que de uma DST. A vítima típica é um homem de meia idade, classe média, casado, branco e heterossexual, que teve em média seis parceiras de sexo oral ao longo da vida.
 
O vírus do papiloma humano tipo 16, o HPV, também pode causar o câncer cervical. Mas não existe um exame oral em estágio inicial que um homem possa fazer --algo como o exame de Papanicolaou, que praticamente eliminou o câncer cervical como causa de morte no país.
 
O papanicolaou consiste na raspagem de algumas células cervicais que, em seguida, são analisadas sob o microscópio em busca de mudanças pré-cancerosas. Teoricamente, deveria ser igualmente fácil raspar e examinar células da garganta. Todavia, oncologistas afirmam que isso seria inútil.
 
Praticamente todos os tipos de câncer de boca, língua, gengiva, palato duro ou qualquer outro lugar antes da úvula (a "campainha" pendurada no palato mole) são causados pelo consumo de álcool e tabaco.
 
O tipo de infecção crônica causada pelo HPV 16, que pode levar ao câncer bucal, ocorre muito mais embaixo, perto da base da língua. Para dificultar ainda mais, a infecção ocorre "no fundo das criptas das amígdalas", afirmou Eric Moore, cirurgião da Clínica Mayo especializado nesse tipo de câncer.
 
"Não dá para raspar. É simplesmente impossível", afirmou Marshall Posner, diretor médico de otorrinolaringologia no Centro Médico Mount Sinai.
 
Um exame de saliva pode detectar uma infecção oral por HPV. Porém, esse dado torna-se inútil, uma vez que 85% da população contraiu pelo menos um dos 100 diferentes vírus do papiloma humano em circulação. A maioria das infecções é curada pelo sistema imunológico em um ou dois anos. Dentre os infectados pelo HPV 16, menos de 1% desenvolve câncer de garganta.
 
"Se eu disser a um paciente que ele tem HPV na boca, isso não o ajudará, pois eu não terei nada para oferecer e ele terá que viver com a ansiedade e o medo de contrair câncer", afirmou Robert Haddad, chefe do setor de otorrinolaringologia do Instituto do Câncer Dana-Farber, em Boston. "Mas se eu disser a uma mulher que seu exame de Papanicolaou veio alterado, há algo que ela pode fazer a esse respeito."
 
Embora o câncer de garganta causado pelo HPV esteja aumentando, ele é relativamente raro. Cerca de 25.000 casos por ano são diagnosticados nos Estados Unidos, comparados a 226.000 casos de câncer de pulmão. Contudo, sua importância à medida que diminuem os casos de câncer bucal ligados ao fumo.
 
O sexo oral se tornou mais comum desde a revolução sexual dos anos 1960, mas não tanto assim. De acordo com Debby Herbenick, diretora do Centro de Promoção de Saúde Sexual na Universidade de Indiana, o número médio de parceiras de sexo oral relatado por homens americanos com idade entre 35 e 54 anos é de seis. Homens com idades entre 55 e 64 anos relatam cinco parceiras, e homens com idades entre 25 e 34 anos relatam quatro, ao passo que homens com mais de 65 e menos de 25 anos relatam apenas três.
 
Todavia, essas "mudanças relativamente modestas" nos hábitos sexuais não explicam por que o risco dobrou ou triplicou ao longo dos anos, afirmou Gypsyamber D'Souza, especialista em câncer viral da Faculdade de Saúde Pública Bloomberg do Hospital Johns Hopkins. O risco aumentou principalmente no grupo de homens brancos com mais de 45 anos. A idade pode ser explicada com base no fato de que, como o câncer cervical, a doença pode demorar anos para se desenvolver.
 
Homens têm o dobro de chance de mulheres de contrair a doença, de acordo com D'Souza, que é mais comum entre brancos do que negros, talvez por que 90% dos brancos já praticaram sexo oral, comparados com 69% dos negros.
 
Além disso, homens heterossexuais têm mais chance que homossexuais de contrair a doença. Uma teoria afirma que pode haver mais HPV nos fluidos vaginais, do que no pênis, afirmou o Lori Wirth, oncologista especializado em cabeça e pescoço no Hospital Geral de Massachusetts.
 
A falta de exames significa que o médico deve ser visitado assim que os sintomas aparecerem: um inchaço no pescoço, uma dor na garganta ou no ouvido que persiste por mais de duas semanas.
 
Embora nenhum estudo que comprove isso tenha sido realizado, o Gardasil e o Cervarix, as vacinas que previnem o câncer cervical causado pelo HPV tipos 16 e 18, também podem evitar o câncer bucal, caso seja aplicada em meninos e jovens, de acordo com diversos médicos.
 
Fonte Folhaonline

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