Medicações vasculares, como o componente do Viagra, já foram tentadas em mulheres, mas não aumentam o desejo sexual |
Hoje, no entanto, as pesquisas parecem estar mais próximas de um medicamento
que dê às mulheres com distúrbios sexuais a satisfação que o Viagra e seus
concorrentes dão aos homens.
O principal contendor nessa corrida é o laboratório Emotional Brain, segundo
aponta o jornalista Daniel Bergner, autor de "What Do Women Want?: Adventures in
the Science of Female Desire" (o que as mulheres querem?: aventuras na ciência
do desejo feminino), lançado neste mês nos EUA.
A empresa, fundada na Holanda, vem realizando testes com as drogas Lybrido e
Lybridos. Espera ter ainda neste ano aprovação da FDA (vigilância sanitária dos
EUA) para fazer testes com um número maior de mulheres e estima em dois anos o
prazo para chegar ao mercado.
Apesar do otimismo do dono da companhia, Adriaan Tuiten, experiências
anteriores citadas no livro acabaram suspensas depois de milhões de dólares
gastos e resultados insatisfatórios.
Ratas escitadas
Há o caso do Bremelanotide, que teve bons resultados em testes em 2006 e
2007. Ratinhas que usaram o medicamento deram explosivas demonstrações de
disposição para o sexo.
Quando chegou às mulheres, relata o livro, as reações foram animadoras """Eu estava totalmente focada em sexo, não pensava em mais coisa nenhuma", disse uma das participantes da experiência.
O medicamento, porém, provocava náusea e aumento da pressão, e o projeto
acabou abortado.
O Bremelanotide, assim como outras drogas experimentadas no passado, estão
sendo testados novamente, em outras formulações.
Ataque duplo
Mas, diferentemente de seus predecessores, os medicamentos da Emotional Brain
se baseiam na combinação de dois agentes. No Lybrido, a pílula é coberta por uma
camada de testosterona, que derrete na boca --o gosto é de hortelã--, e o
remédio engolido tem um componente semelhante ao do Viagra.
A ideia é que os dois deixem a mente mais aberta aos impulsos eróticos, ao
mesmo tempo em que melhorem o fluxo sanguíneo na região genital, diz Bergner no
livro, que já recebeu uma oferta para publicação no Brasil.
No Lybridos, em vez do componente semelhante ao do Viagra, a pílula engolida
tem buspirona, ansiolítico.
Enquanto a mágica pílula não chega, médicos procuram opções para atender as
mulheres --5,8% das brasileiras de 18 a 25 anos não têm desejo, índice que sobe
para 19,9% depois dos 60 anos, informa o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro,
liderado pela psiquiatra Carmita Abdo.
Abdo, 62, que é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP,
diz que uma opção é o uso de medicação que age sobre neurotransmissores, como o
antidepressivo bupropiona.
"O remédio não foi idealizado para isso, mas melhora a disposição para o
sexo, pois coloca a dopamina mais à disposição, e a dopamina vai agir nos
centros do prazer."
Seu uso, porém, deve ser "criterioso". "A substância não pode ser usada no
caso de a paciente ter predisposição para convulsão, ter sido ou ser anoréxica,
bulímica, ansiosa, insone ou usar drogas ou bebidas em excesso."
Outra opção é a aplicação de testosterona, hormônio masculino que, em menor
concentração, também está presente nas mulheres.
"Existem pesquisas mostrando que a testosterona pode oferecer vantagens para
melhorar a libido feminina", afirma o ginecologista César Eduardo Fernandes, 62,
presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo.
Ele lembra que medicações vasculares, como o componente do Viagra, já foram
tentadas em mulheres, mas não aumentam o desejo sexual. "Para que o Viagra
funcione, é fundamental que o homem tenha a libido preservada."
No caso das mulheres, explica o ginecologista, o grande problema é a ausência
de desejo. E só melhorar o fluxo sanguíneo para a área genital não resolve: "A
libido feminina é multifatorial. Ela não depende só de ter um parceiro que possa
causar o desejo. Ela precisa ter uma relação afetiva de boa qualidade, depende
de odores, de ambiente, do nível hormonal em que ela se encontra".
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Fonte Folhaonline
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