A medicina personalizada se tornará realidade, mas porque achamos que a tecnologia motivará as pessoas a começarem a cuidar de sua própria saúde?
Previsões são engraçadas. São raros insights sobre o futuro percebidos por visionários que preveem coisas que ninguém mais em sua geração foi capaz. Mas outras vezes, são ideias de um ativista que, por evangelização ou invenção, tenta forçar que o futuro se torne em algo que ele visualiza.
Dois líderes em TI me vêm à mente nesse contexto: Eric Topol como evangelista e David Ferrucci, como inventor.
Eric Topol é médico, diretor do Scripps Translational Science Institute e autor do popular The Creative Destruction of Medicine (A Destruição Criativa da Medicina). Topol prevê um estilo de medicina personalizada, centralizada no paciente, no qual o médico tem um papel bem menos importante e os pacientes exercem uma função mais importante do que têm hoje. Em sua visão, os consumidores empregarão uma grande quantidade de aplicativos móveis e sensores de corpo para diagnosticarem e tratarem a maioria de suas doenças. Começarão a rastrear seus sinais vitais, ondas cerebrais, ritmos cardíacos e outros funções corporais e juntamente com seus médicos, terem mais controle de sua saúde, muito além do que as pessoas podem imaginar.
Topol terá que fazer muito mais do que evangelizar antes que eu consiga imaginar esse futuro e aqui está o motivo: todas essas ferramentas de TI ainda exigem um melhor refinamento, bem como uma mente lógica, o que não é tão comum. E as pessoas não mostram uma grande paixão pela gestão de sua própria saúde.
Com certeza já existe uma pequena parcela do público americano que gosta de medir seu pulso e batimento cardíaco ou rastrear quantos quilômetros eles andam a cada dia. E inúmeros doentes crônicos precisam monitorar sua taxa de glicemia em um medidor digital e enviar depois para seu médico por meio de um portal. Mas a maioria dos americanos prefere tomar o caminho mais curto.
Leana Wen, médica e Joshua Koswsky, médico, têm uma posição similar a Topol no livro When Doctors Don’t Listen (Quando os médicos não ouvem), encorajando os pacientes a “participarem em seus exames físicos e a realizarem o diagnóstico em conjunto com seu especialista”.
Vamos encarar a realidade. A grande maioria dos pacientes – especialmente aqueles que estão gravemente doentes – não têm a inclinação, o conhecimento especializado, ou até mesmo em alguns casos, as habilidades intelectuais para ficarem tão envolvidos com sua saúde.
Dos terços dos adultos nos Estados Unidos estão acima do peso ou obesos e quase 4 a cada 10 americanos, são inativos fisicamente. Podemos falar quanto quisermos sobre “pacientes ativos”, mas essas estatísticas dizem muito sobre o real interesse dos americanos em tomar conta de sua própria saúde. A tecnologia poderá realmente mudar isso?
No lado da equação da TI, um artigo recente no Journal of Medical Internet Research (JMIR), descobriu que apenas 10% dos americanos usam um registro pessoal de saúde (PHR – personal health record). Clara que o artigo do JMIR deixa claro que há muitas razões para o público não ter se entusiasmado com os PHRs, mas uma delas tem que ser a apatia.
Isso dito, Topol está certo quando ele visualiza a medicina personalizada em nosso futuro. Há décadas vemos evidências de que essa abordagem melhorará significativamente os resultados clínicos. Há algumas décadas, Roger Williams, um bioquímico e ex-presisente da American Chemical Society, estabeleceu o princípio da individualidade bioquímica, mostrando que os humanos podem mudar muito no que concerne ao tamanho de seus órgãos internos, a concentração de hormônios e sua necessidade de nutrientes. Mais recentemente pesquisadores da área de oncologia mostraram que o câncer não é uma pequena coleção de doenças perfeitamente classificável, e sim, milhares de doenças com marcas genéticas individuais. E a TI tem um papel essencial no desenvolvimento desse novo modelo.
O crescimento dos EHRs (registros eletrônicos de saúde) ajudará a integrar grandes coleções de dados clínicos e permitirá que os médicos monitorem os perfis genéticos e moleculares de seus pacientes de novas maneiras. Da mesma forma, com a ajuda das análises de Big Data, os pesquisadores estão gradualmente coletando dados genômicos que permitirão aos médicos adaptarem as prescrições de medicamento de acordo com a necessidade específica de cada paciente, enquanto, ao mesmo tempo, detecta mutações que possam aumentar o risco de efeitos adversos que ameacem a vida.
Algumas fantasias da ficção científica se tornam realidade
David Ferrucci, o cientista que geralmente é creditado como o criador do supercomputador IBM Watson, também vem à mente quando falamos sobre visionários. Ferrucci, que lidera o Semantic Analysis and Integration Department no T.J. Watson’s Research Center da IBM, não é um futurista, mas ainda assim o futuro da inteligência artificial que ele e seus colegas estão forjando é tão extensivo, que provavelmente revolucionará a medicina, a área de finanças e inúmeras outros indústrias.
O Memorial Sloan-Kettering Cancer Center se juntou à equipe da IMB Watson para melhorar a área diagnóstica do centro médico. O Cleveland Clinic Lerner College of Medicine of case Western Reserve University também busca as habilidade do Watson para ajudar seus médicos nos diagnósticos e tratamentos dos pacientes. E a lista só aumenta.
Finalizando, todo bom futurista é tanto visionário quanto ativista, não somente enxerga o futuro, mas também o cria através de seu suor, sangue e lágrima.
Fonte SaudeWeb
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