Mosquito fêmea do Aedes aegypti |
O comportamento alimentar de duzentas fêmeas do Aedes aegypti
infectadas com o tipo 2 da dengue, um dos mais comuns no Brasil, foi observado
pelo biólogo Gabriel Sylvestre para uma dissertação de mestrado.
Os testes foram feitos com as fêmeas porque só elas se alimentam de sangue
para a maturação de seus ovos. Os machos ingerem substâncias vegetais e
açucaradas.
O trabalho da Fiocruz trouxe evidências de que, assim como os seres humanos
sentem dores e cansaço quando infectados, os mosquitos também sofrem impacto
negativo com o vírus. Mas, apesar disso, ficam mais ávidos por sangue.
"Essa avidez por sangue acontece em frações de segundo e está ligada à
hiperatividade provocada pelo vírus a partir da primeira alimentação. Isso
preocupa porque, quanto mais sedento por uma fonte sanguínea, maior a chance de
a doença ser disseminada", disse Sylvestre.
De acordo com o pesquisador, o aumento da avidez pode ser fruto de
modificações fisiológicas provocadas pelo vírus, que se propaga por todo o corpo
do mosquito: cabeça, patas, asa, ovários, corpo gorduroso e músculos.
Segundo o pesquisador Rafael Freitas, do Laboratório de Transmissores de
Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz, orientador de Sylvestre, outro impacto
negativo, identificado pela primeira vez, é o tempo maior que a fêmea infectada
leva para encontrar alimentos e sugar o sangue. "Ao demorar mais na localização
e na alimentação [com o tempo de ingestão de sangue mais longo], a fêmea se
torna mais vulnerável às ações de defesa do hospedeiro [ou seja, ao combate ao
mosquito em geral] ", diz.
O fenômeno pode ajudar a ciência a entender por que a dengue é, hoje, a
doença transmitida por mosquitos que se espalha mais rapidamente pelo mundo,
segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No início do ano, o estudo foi
publicado na revista científica de acesso livre "PLoS One".
"Quanto mais descobertas sobre as fraquezas do Aedes, mais estratégias
inovadoras podem ser desenvolvidas para combatê-lo", afirma Sylvestre.
Levantamento feito por Freitas, aponta ainda que a longevidade do inseto
infectado chega a diminuir pela metade. Em média, a fêmea não contaminada vive
30 dias. Já a infectada vive por 15 dias.
É comum que as fêmeas infectadas não coloquem ovos. No entanto, quando o
fazem, depositam cerca de 60% menos ovos do que as não infectadas, mostrando um
importante prejuízo na capacidade de reprodução.
Folhaonline
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