Raios laser, ondas de choque e uso criativo de remédios já conhecidos são
algumas das terapias empregadas hoje para minorar males sexuais que atingem
homens e mulheres de todas as idades. O tratamento principal, porém, continua
sendo a boa e velha conversa.
"O que você vê hoje é remédio para cá, remédio para lá. Eu só trato com
medicação quando existe uma causa predominantemente orgânica. Caso contrário,
faço a terapia sexual, comportamental cognitiva. É uma reeducação sexual", diz
Tânia das Graças Mauadie Santana, 65, fundadora e coordenadora do Centro de
Referência e Especialização em Sexologia do Hospital Pérola Byington.
Nem todos os pacientes estão dispostos a passar por esse tipo de processo. Se
uma pílula resolve, vão logo aceitando a droga, mesmo para males considerados de
origem predominantemente psicológica, como é o caso da ejaculação precoce.
Principal problema sexual masculino, atinge mais de um em cada quatro homens
adultos no Brasil --estatísticas internacionais apontam índices ainda maiores.
Os números são crescentes, observa o urologista Conrado Alvarenga, 34, do
Grupo de Disfunção Sexual do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
USP.
A culpa, afirma, é do mundo moderno. Sobretudo numa cidade acelerada como São
Paulo. "As pessoas querem tudo para ontem, determinam tarefas e depois de cinco
minutos já estão cobrando. Esse mundo muito imediatista aumenta as taxas de
disfunção sexual."
"O perfil do ejaculador precoce jovem é o moleque que deu certo, que trabalha
no ramo de tecnologia ou no mercado financeiro, está crescendo, é um moleque com
futuro, mas vive num mundo muito ansioso, o mundos das start-ups. Esse moleque,
quando vai transar, goza rápido. É gente de 20, 25, 30 anos", completa
Alvarenga.
Joguinhos
Segundo ele, o tratamento básico é a terapia comportamental, que ensina os
chamados jogos amorosos. "Você incentiva o indivíduo a ficar muito tempo nas
preliminares, a não penetrar rápido, estimular mais a mulher, depois vai
penetrar. O cara se masturba e goza antes. Depois vai sair para transar.
O outro lado tem de estar disposto a abraçar a causa ou é melhor parar por
aí. "Isso envolve uma parceira que não o cobre, que entenda que ele tem essa
dificuldade e que isso tem tratamento", afirma Alvarenga.
Os médicos vêm receitando também medicamentos antidepressivos em doses
menores do que as empregadas no tratamento da depressão, segundo o urologista
Geraldo Eduardo Faria, 68, membro da Sociedade Brasileira de Urologia.
São inibidores da captação de serotonina, que têm como efeito secundário o
bloqueio circulatório --utilizados para deixar o paciente menos ansioso e
retardar a ejaculação.
Já entre a população masculina mais velha, o problema é a falta de ereção, a
disfunção erétil. Estudos feitos nos EUA mostram que, lá, 52% dos homens de 40 a
70 anos apresentam o problema em algum grau. Aqui no Brasil, a pesquisa Mosaico
Brasil, que ouviu mais de 8.200 homens e mulheres maiores de 18 anos, em dez
capitais, aponta índice menor: 45% dos homens maiores de 40 anos.
"É quando as doenças que prejudicam a ereção começam a incidir: diabetes,
hipertensão, colesterol alto, doenças da próstata, cardiovasculares, depressão,
ansiedade. São os problemas que começam a ficar mais frequentes com a idade",
diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em
Sexualidade do do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Fora da receita
Desde o final do século passado, homens se beneficiam de remédios por via
oral, que revolucionaram o tratamento. "A vinda dessa medicação teve impacto
muito grande, pois os homens começaram a procurar mais ajuda para tratar seus
problemas de sexualidade", afirma Faria.
Cerca de dois terços dos pacientes são tratados, com sucesso, com o Viagra e
outros medicamentos, como o Levitra e o Cialis, que precisam ser tomados de 30
minutos a até 12 horas antes da relação sexual, dependendo do medicamento
escolhido.
Os laboratórios buscam, hoje, é por formas que tornem natural esse processo,
evitando que o paciente precise se programar para ter a relação sexual. Já há
algum tempo está no mercado versão de remédio para uso diário: a pessoa toma um
comprimido pela manhã e fica em condições de ter ereção ao longo do dia.
Pesquisas mostram que mesmo isso pode melhorar. Em maio, foi apresentado em
um congresso de urologia nos EUA um estudo sobre o uso de ondas de choque de
alta energia para tratamento da disfunção erétil. É o mesmo sistema usado para
quebrar pedras do rim --agora, balanceado para atuar no pênis.
Pesquisa feita em um hospital de Israel com 20 homens que sofriam impotência
havia três anos, em média, mostrou bons resultados. Metade deles não precisou
mais usar pílulas seis meses depois do tratamento.
Apesar disso, é preciso ir com calma: "Não se sabe ao certo o mecanismo de
ação desse tratamento. Não seria um simples aumento do fluxo de sangue", afirma
Joaquim de Almeida Claro, 52, coordenador do Hospital do Homem de São Paulo.
Vez delas
Para as mulheres, a situação é mais complicada. Continua sem vencedor a
corrida dos laboratórios para encontrar a pílula do desejo, o Viagra feminino. O
público é enorme: segundo a pesquisa Mosaico Brasil, 23,5% das adultas relatam
ausência de orgasmo; 26,6%, falta de excitação.
Médicos têm receitado também um antidepressivo --que funciona como um
inibidor da captação de dopamina que melhora a disposição para o sexo. "Esse uso
não está na bula, mas vem sendo feito de forma ampla para as que não têm desejo
sexual", diz Carmita Abdo.
Neste ano, começou a ser empregado em São Paulo tratamento a laser para
atrofia vaginal. Mais comum entre mulheres que já passaram da menopausa, é o
afinamento das paredes vaginais e seu ressecamento.
A técnica "estimula a produção de colágeno", diz a ginecologista Vera Lúcia
da Cruz, 55, da Faculdade de Medicina do ABC. Primeira médica a aplicar a
terapia no país, ela diz que o processo recupera a elasticidade, a espessura e a
lubrificação da vagina.
Folhaonline
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