Brasília – No Distrito Federal e nas cidades goianas do Entorno, pacientes com
hipertensão e diabetes foram os que mais procuraram os médicos que atuam no
Programa Mais Médicos no primeiro mês de trabalho, segundo profissionais que
estão atuando na localidade. Na região, pré-natal e acompanhamento do
desenvolvimento de crianças com até 1 ano também estão entre as principais
demandas.
Apesar de faltar água potável no posto onde atua, problema que a prefeitura
diz que será resolvido com a colocação do refil do purificador até a semana que
vem, a médica Keila Rodrigues diz que o balanço do primeiro mês de atuação no
programa é positivo. “É gratificante, porque eles demonstram que estão
satisfeitos de ter um profissional que é de direito deles”.
A médica está trabalhando em Águas Lindas de Goiás, cidade goiana que fica a
cerca de 50 quilômetros de Brasília e onde a atenção básica só atende a 40% da
população. “Quando eu preciso vou a Brazlândia ou ao a Ceilândia procurar
atendimento. Aqui é difícil demais, nunca tem médico”, relatou o representante
comercial Lourival Alencar de 25 anos. Uma vendedora que não quis se identificar
diz que faz o mesmo, já que no município sempre é atendida por enfermeiros, que
têm uma atuação restrita.
A prefeitura solicitou 14 médicos ao Programa Mais Médicos, quatro foram
designados para o município, mas apenas Keila está atuando. Para uma população
com quase 160 mil habitantes segundo o IBGE, a chegada de uma médica nova é
quase imperceptível, mas para a população que vive ao redor do posto, é
significante a presença da profissional.
Segundo a médica, não é raro faltar água e luz no Posto Coimbra, que ficou
cerca de dois meses sem médico antes da chegada da profissional do programa.
Apesar disso, ela considera que a casa onde funciona o posto é "relativamente
boa" e que só para o atendimento quando as condições definitivamente
impossibilitam. Keila também contou que seus pacientes praticamente não têm
acesso a exames na rede pública e que marcar consulta com um especialista, para
esta população, é muito difícil. “Costuma ser particular, é muito difícil”.
“Eu sempre tenho que pagar consulta em uma clínica particular que fica no
centro de Águas Lindas. Mas agora que tem essa médica do lado de casa eu vou
marcar para ver se dá certo”, disse a dona de casa Salete Moreira, de 48
anos.
No Coimbra as consultas são agendadas com antecedência, o que evita filas de
espera de madrugada. “Agendamos mais ou menos 12 pacientes para o turno,
deixando algumas vagas para algum caso mais grave. Os pacientes são atendidos
por ordem de chegada, mas a lista já foi feita”, disse Laiane Raquel,
recepcionista do posto. Ainda há um turno da semana no qual são agendadas
visitas domiciliares para doentes acamados e idosos.
Já em Novo Gama, cidade goiana com 120 mil habitantes e que fica a cerca de
40 quilômetros de Brasília, os pacientes do centro de saúde que recebeu uma
médica do programa reclamam que precisam chegar às 6h e aguardar fora do posto,
antes do horário de funcionamento, para conseguir atendimento.
“A gente marca e consulta no mesmo dia, mas se chegar muito tarde não
consegue ficha e tem que tentar de novo”, disse Aparecida Bezerra, comerciante
de 57 anos, acrescentando que chega a esperar sete horas para ser atendida.
Há um mês nesse centro de saúde, Andreia Gonçalves relata que costuma
atender entre 28 e 30 pacientes por dia. “O prédio recebeu uma reforma e está
bom, o problema é a falta de medicamento.
Antes da metade do mês acabam os
remédios. Muitas vezes falta fita para medir glicemia, o aparelho de pressão é
muito velho e o sonar, importantíssimo para fazer pré-natal, foi para o conserto
há três meses e ainda não voltou. Às vezes falta curativo, coisas básicas para a
gente trabalhar”, relatou a médica.
Andreia é a única médica que faz atendimento básico no Posto Diagnóstico, que
fica na região central da cidade. Assim que ela chegou ao posto, o
endocrinologista que estava "quebrando o galho" como clínico geral voltou a
atender em sua especialidade. A médica determinou dias de consultas específicas
na semana, como o dia do pré-natal, do diabético e hipertenso, e um dia de
clínica geral, para quem não se encaixa nas especialidades determinadas. Ainda
há um dia específico para atender os doentes que têm dificuldade de
locomoção.
“Eu até ouvi falar bem da médica nova, mas só ela sozinha não dá conta. É
sempre assim, a sala de espera cheia”, reclamou a dona de casa Gildete Lira, de
42 anos, que chegou antes das 6h da manhã e até as 10h30 ainda não tinha sido
atendida.
De acordo com Manuel Santana, secretário de Saúde do Novo Gama, a atenção
básica só atende 50% da população. “Recurso tem, o que atrapalha é a
burocracia”, disse à Agência Brasil. De acordo com o
secretário, cada equipe de saúde da família tem estrutura para atender uma
população de em média 3.500 pessoas, número orientado pelo Ministério da Saúde.
Mas como 50% da população não está coberta, pessoas de outras comunidades, tanto
da cidade quanto de municípios vizinhos, buscam ser atendidas pelas 14 equipes
que o município oferece.
Valparaíso de Goiás, que fica a 36 quilômetros de Brasília, também recebeu um
médico do Mais Médicos. De acordo com a chefe da Unidade de Saúde Básica Santa
Rita, Leinha Lopes, para onde foi designado o profissional, devido a uma reforma
o médico só está trabalhando um turno. “A gente só tem um consultório e dois
médicos. Então um médico fica pela manhã e o outro à tarde”, contou.
Agência Brasil
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