Danilo Verpa/Folhapress Mikael Henrique alvez, 9, tem miopia e ganhou óculos no projeto Horas da Vida |
"Me zoavam o tempo todo. Não conseguia enxergar as linhas do caderno, ficava
tudo bagunçado. Também não enxergava o que a professora escrevia na lousa",
conta.
Euvacir Alves, a mãe, tentou marcar consulta no posto perto de casa, na zona
norte de São Paulo, porém não havia oftalmologista. "Me mandaram entrar numa
fila de espera, mas avisaram que não tinham previsão."
Há um mês, o problema do menino foi diagnosticado: nove graus de miopia no
olho direito e oito graus no olho esquerdo. E resolvido com um par de óculos.
A consulta e o tratamento do foram possíveis graças a um projeto social
lançado em São Paulo, o Horas da Vida, que tem apoio de personalidades como o
médico Drauzio Varella e o maestro João Carlos Martins. A iniciativa desembarca
hoje no Rio.
Por meio dela, médicos e outros profissionais da saúde doam horas disponíveis
nas suas agendas para o atendimento gratuito de pessoas de baixa renda.
Participam do projeto 150 médicos de 25 especialidades e outros cem
profissionais da saúde, como psicólogos e fisioterapeutas.
Os pacientes são triados por instituições que já desenvolvem trabalhos
sociais em comunidades carentes. A Fundação Bachiana, do maestro Martins, que
leva educação musical aos jovens de Paraisópolis, foi a primeira a apoiar o
projeto.
Segundo o clínico-geral e geriatra João Paulo Nogueira Ribeiro, fundador do
Horas da Vida, a iniciativa veio da percepção de que, assim como ele, vários
médicos já faziam de maneira informal atendimentos gratuitos.
A ideia foi organizar a demanda. Médicos e profissionais da saúde
interessados em se cadastrar no programa definem a quantidade de horas e a
frequência do atendimento, feito nos seus consultórios particulares.
Não há um critério definido para o acompanhamento do paciente. "A gente não
consegue obrigar que o médico faça o seguimento a longo prazo, mas a maioria dos
profissionais se sensibiliza com a causa e vai até o desfecho", afirma Ribeiro.
Não há atendimento de urgências e emergências e nem de casos que exijam
cirurgias. "Precisamos de mais parceiros, como hospitais e planos de saúde, para
atender casos de maior complexidade."
Para o oncologista Drauzio Varella, o projeto não resolve o problema da saúde
pública paulista, mas pode ajudar pessoas que não conseguem consultas com
especialistas.
"Imagine o número de médicos em São Paulo. Se todos doassem uma hora, duas
horas por semana, já seria de grande valia", diz Varella.
Entre os parceiros do Horas da Vida está o laboratório Dasa, que faz
gratuitamente os exames para os pacientes atendidos pelo projeto.
O oftalmologista Julio Abucham doa uma hora de consulta por semana e
participa de outra iniciativa do programa, o Enxerga São Paulo, um mutirão que
realiza exames de acuidade visual, teste de desvio ocular, entre outros.
A ação também tem a Ótica Carol com parceira na doação de lentes e armações.
O caso da aluna Graziele Caldeira, 10, da Fundação Bachiana, foi um dos que
motivaram o mutirão. Com dez graus de deficiência visual, ela não conseguia ler
as notas da partitura e também tinha dificuldades na escola.
Julio Abucham lembra da reação de Mikael ao colocar os óculos pela primeira
vez. "Ele deu um sorrisão maravilhoso, não dá para esquecer."
Folhaonline
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