Foto: Adival B. Pinto |
"Ninguém está imune", comentou. Como muitos ciclistas entusiastas, ele está
convencido que não se trata de "se" você terá um acidente, mas de "quando" isso
vai acontecer.
Mas Rob Coppolillo, que durante dez anos participou de corridas de elite em
superfícies planas, dirigiu tours ciclísticos na Itália e anda sempre de
bicicleta em sua cidade (Boulder, no Colorado), discorda. Ele próprio nunca teve
um problema mais grave que uma irritação de pele. "Para a imensa maioria de nós,
o ciclismo é um esporte bastante seguro", disse.
Muitos ciclistas têm opiniões formadas a esse respeito, mas ninguém sabe ao
certo até que ponto o esporte é ou não seguro. Ninguém tem estatísticas
confiáveis sobre, por exemplo, o número de acidentes por quilômetro rodado. E os
dados que existem não distinguem entre o ciclismo praticado em estradas, com
bicicletas leves e velozes, o ciclismo com mountain bike ou o ciclismo
recreativo.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA mantém estatísticas sobre
mortes e idas aos setores de emergência hospitalar em decorrência de acidentes
de bicicleta. O índice de mortalidade anual varia entre 0,26 e 0,35 por 100 mil
habitantes. Em 2010, segundo a organização, houve 800 mortes em acidentes de
bicicleta, representando um quadragésimo das mortes em rodovias.
A cirurgiã traumatológica Rochelle Dicker, da Universidade da Califórnia em
San Francisco, e seus colegas estudaram as fichas hospitalares e policiais de
2.504 ciclistas tratados no Hospital Geral de San Francisco. Dicker tinha
previsto que a maioria das lesões graves envolveria acidentes com automóveis,
mas, para sua surpresa, esse não era o caso de quase metade. Ela desconfia que
muitos ciclistas com lesões graves tenham desviado de um pedestre ou tido as
rodas da bicicleta presas em trilhos de trens, por exemplo. Os ciclistas feridos
em acidentes que não envolviam automóveis tinham probabilidade mais de quatro
vezes maior de ser hospitalizados, devido à gravidade de seus ferimentos.
Se as estatísticas indicam que o ciclismo é relativamente seguro, por que o
esporte aparenta ser tão perigoso? George Loewenstein, professor da universidade
Carnegie Mellon, em Pittsburgh, na Pensilvânia, imagina que as estatísticas
oficiais possam não estar revelando a maior parte do que acontece. "Existem
muitas razões pelas quais é provável que muitos acidentes de bicicleta não sejam
informados às autoridades", comentou. Os ciclistas feridos podem não procurar os
setores de emergência.
Mas, disse Loewenstein, a própria natureza das lesões gera a percepção de que
o ciclismo é particularmente perigoso. Diferentemente do que acontece com outros
esportes, as lesões do ciclismo não aparecem aos poucos.
Mesmo assim, lesões como clavículas fraturadas estão longe de ser tão graves
quanto as lesões por desgaste vistas em outros esportes -as fraturas de desgaste
ou rupturas do manguito, por exemplo. "Não jogo mais futebol", comentou
Coppolillo. "Sofri tantos entorses de um dos tornozelos que ele deixou de
funcionar. Mas raramente vejo alguém que tenha tido que deixar de praticar
ciclismo devido a lesões."
Andy Pruitt, fundador do Centro Boulder de Medicina Esportiva e ciclista
ávido desde sempre, compreende a impressão que as pessoas têm dos perigos. "Se
você fosse à sala de espera do meu consultório, pensaria que vamos todos morrer
de lesões de ciclismo", comentou. "Mas não é verdade."
Pruitt, 62, pratica o esporte há quatro décadas. Ele percorre entre 8.000 e
16 mil quilômetros por ano. Em todo esse tempo, sofreu quatro acidentes sérios.
Quebrou a clavícula duas vezes quando participava de corridas e teve dois
acidentes de mountain bike, uma vez quebrando um quadril e outra vez torcendo um
pulso.
Considerando quantos quilômetros já percorreu e os riscos que encarou
participando de corridas e percorrendo trilhas de mountain bike, ele acha que
sua taxa de lesões não é nada grave. "É um risco que eu aceito", concluiu.
Folhaonline
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