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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Licença-paternidade: cinco dias são suficientes?

“Cinco dias é muito pouco para construir o vínculo afetivo.
A mulher começa a ser mãe quando descobre que está grávida,
 mas o homem só sente a paternidade de fato quando
o bebê nasce", diz psicóloga
Escritório de advocacia amplia benefício para um mês e abre debate sobre qual a duração ideal do afastamento oferecido aos homens logo após o nascimento do filho
 
Desde 1º de janeiro deste ano, o escritório Souza, Schneider, Pugliese e Sztokfisz Advogados ampliou a licença-paternidade de seus funcionários para 30 dias – seis vezes mais que o período obrigatório por lei. Hoje, a legislação brasileira prevê um afastamento de cinco dias corridos. Entretanto, esse período poderá ser alterado. Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que o estende para 15 dias.
 
A coordenadora de RH do escritório de advocacia, Cristiane Carlos, explica que a decisão de aumentar a licença-paternidade não foi repentina. “Era um assunto que já vinha sendo discutido, por pensarmos no valor da família e do profissional. O funcionário fica motivado quando vê que o empregador se importa com suas necessidades. A volta ao trabalho, inclusive, é melhor. Ele chega mais seguro e revigorado para o desempenho de suas funções”, justifica.
 
Por enquanto, nenhum dos 26 homens que trabalham no escritório (que também conta com 26 mulheres em seu quadro de funcionários) entrou com pedido de licença-paternidade, mas o benefício vale para pais biológicos e adotivos, de casais hétero ou homossexuais, como explica Cristiane: “É amplo e irrestrito, porque se trata de proporcionar a proximidade entre o pai e o bebê. São momentos felizes que fazem toda a diferença no crescimento da criança e na própria dinâmica familiar”.
 
Ajuda para facilitar o dia a dia
Justamente por compreender a importância de ficar próximo da mulher, Andréa, e da filha, Gabriela, o administrador de empresas Daniel Roschel decidiu tirar uma semana de férias imediatamente após a licença-paternidade de cinco dias a que teve direito quando a menina nasceu, em 6 de janeiro deste ano.
 
“O período oficial é curto, porque três dias são passados na maternidade, onde tem gente para fazer tudo por nós. Os dois dias restantes é que são a vida real. Quando chegamos em casa, entendemos a dedicação que um bebê exige e como é importante o marido auxiliar a mulher, até porque ela precisa também de um tempo para se cuidar”, afirma.
 
Nessa licença-paternidade estendida, Daniel colocou em prática o lema “não basta ser pai, tem que participar”. “Tem que ser parceiro da mulher, pôr a mão na massa. O simples fato de preparar uma refeição para o casal já ajuda demais a mãe. Ou encher de água quente a banheira para o banho do bebê, que não tem ciência nenhuma, mas adianta o trabalho”, exemplifica. Outras tarefas que passaram a fazer parte de seu dia a dia são trocar fraldas, colocar Gabriela no ombro para arrotar e trocar a roupinha dela sempre que necessário. “Só não amamento porque não tenho leite”, brinca.
 
Ter planejado esse período um pouco mais longo foi bom para o administrador encontrar formas próprias de trocar afeto com o bebê. “Claro que o pai nunca vai conseguir ter o mesmo vínculo que a mãe, mas procuro o máximo de proximidade, de contato ‘pele com pele’ com a Gabi, mesmo agora que já estou na rotina de trabalho novamente”, conta. E esse retorno não foi fácil: “No dia em que voltei ao trabalho, me despedi das duas sofrendo. É de partir o coração”.
 
As muitas formas de encarar a licença-paternidade
O comportamento participativo de Daniel representa uma das muitas realidades masculinas relacionadas à licença-paternidade no Brasil. Psicóloga do espaço Equilibrium Spa da Mente e especializada em terapia cognitiva-comportamental e em psicologia positiva pelo Centro de Psicologia Aplicada e Formação (CPAF) do Rio de Janeiro, Renata Castro diz que, em outros casos, não é incomum os pais se sentirem excluídos da dinâmica familiar com a chegada do bebê e, por isso, estremecerem o relacionamento com a mulher. O curto período da licença masculina, segundo ela, é um dos responsáveis por esse sentimento.
 
“Cinco dias é muito pouco para a construção do vínculo afetivo. A mulher começa a ser mãe no momento em que descobre que está grávida, mas o homem só sente a paternidade de fato quando o bebê nasce. Ao voltar ao trabalho e deixar a mulher e o bebê em casa em tão pouco tempo, precisa interromper esse processo, e nasce a sensação de exclusão”, explica.
 
Uma outra faceta menos bonita e romântica da licença-paternidade é aquela em que o homem não se coloca disponível sentimentalmente para criar uma ligação com o filho ou para auxiliar a mulher. “A causa desse comportamento é principalmente social”, afirma o psicólogo Marco Aurélio Martins, coordenador executivo do Instituto Promundo e da campanha “Você é Meu Pai”, que trata da experiência da paternidade.
 
“No Brasil, o homem tem sua masculinidade questionada quando demonstra sensibilidade. Alguns até gostariam de ser mais equitativos, de ajudar a mulher, mas se bloqueiam por causa das famílias, que os julgam. O machismo vem desde o berço, já que meninos são criados para serem aventureiros e exploradores, enquanto nas meninas são valorizadas a delicadeza e a sensibilidade”, detalha.
 
Nesse cenário, ele conta que “muitos homens preferem nem gozar do benefício da licença-paternidade, por acreditarem que cuidar do bebê não tem a ver com eles, e muitas mulheres concordam, pois dizem que ficariam mais estressadas com a presença masculina em casa no período pós-parto, que o pai só atrapalharia”.
 
E como seria a licença-paternidade ideal?
Em termos de duração, é consenso que cinco dias é um período muito curto para a licença-paternidade. Daniel Roschel, pai de Gabriela há um mês, acha que seria bom que os neo-papais tivessem pelo menos 20 dias para ficar em casa com a mulher e o bebê. A psicóloga Renata Castro considera algo entre dois e três meses ideal, “embora um mês, como o escritório pioneiro de São Paulo adotou, já seja um bom avanço”.
 
Marco Aurélio Martins, psicólogo do Promundo, vai além e coloca o modelo norueguês como o sonho a ser realizado: “Lá, a licença tem duração de 49 semanas, ou seja, 343 dias, e pode ser dividida entre a mãe e o pai”. Mas entende que, na realidade brasileira, ainda não dá para querer algo assim: “Ampliar para um mês seria um bom começo”.
 
Só que nada disso tem sentido, segundo os psicólogos, se a experiência sentimental da licença-paternidade não for aproveitada em sua totalidade. Ela será realmente importante somente se o pai estiver aberto para isso. “A lei, por si só, não é capaz de promover a conscientização de que a participação do homem é importante, de que ele é mais do que um provedor material”, diz Martins.
 
Curtir esse período, de acordo com Renata, é “viver intensamente o início de vida do bebê. O pai deve se disponibilizar para todas as atividades: dar banho, trocar fralda, acordar de madrugada quando o bebê chorar, abraçar muito, dar suporte à mãe”. Martins complementa: “Quando ele começa antes mesmo do nascimento, acompanhando o pré-natal, consegue se doar ainda mais. O homem pode fazer tudo que a mulher faz, menos amamentar. Se bem que, se ela precisar tirar leite dos seios para alimentar o bebê depois, pode ficar com o pai a função de dar essas mamadeiras”.
 
Com muitos ou poucos dias, as famílias que aproveitam a licença-paternidade profundamente só saem ganhando. “Estudos já provaram que a qualidade de vida do pai participativo melhora. Ele se expõe menos a riscos e tende a diminuir o consumo de álcool e de drogas e a dirigir com mais cuidado. O risco de infarto também diminui”, lista o psicólogo. Para o bebê, os benefícios são de curto e longo prazo, diz Renata: “Ele conquista segurança, a construção de uma autoestima positiva e um melhor desenvolvimento cognitivo”. Já a mulher “terá um pós-parto menos estressante e reconquistará sua autonomia com mais tranquilidade”, ressalta Martins.
 
De toda forma, que não sejam esperadas mudanças repentinas. O progresso, eles reconhecem, é lento. “Diferentemente do que acontece na Noruega, por exemplo, no Brasil a licença-paternidade não é pensada para propiciar vínculos afetivos entre o pai e o bebê, mas para o homem poder cuidar das questões burocráticas do nascimento, como providenciar a certidão e assinar os papeis do hospital”, esclarece Martins. “Vai demorar um pouco para a questão mudar por aqui, isso ainda é um tabu”, acrescenta Renata.
 
Delas

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