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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Com livros de pano, professoras ajudam mulheres a deixar o alcoolismo

Luísa Pécora/iG
Mirtes de Souza, criadora da ONG, no Flipoços 2014
Mães de bairros pobres de São Paulo participam de cursos e recebem salário para bordar obras infantis
 
Um edredom antigo inspirou Mirtes de Souza, 60 anos, a criar uma fonte de renda para moradoras de bairros pobres de São Paulo. Ela é uma das fundadoras do Movimento de Mulheres do Jardim Comercial, uma organização não-governamental que ajuda mães a deixar o alcoolismo oferecendo-lhes um trabalho: bordar livros de pano.
 
A ONG começou em 1985, quando Mirtes era professora da rede municipal de São Paulo e a irmã, Marli, da rede estadual. "Fomos percebendo que vários dos nossos alunos estavam com problemas sérios de aprendizagem. Por nossa conta fomos buscar a razão, e descobrimos que as mães destas crianças eram alcoólatras", diz Mirtes, em entrevista ao iG durante o Festival Literário de Poços de Caldas, o Flipoços, onde vende os livros de pano.
 
Mineiras, as irmãs decidiram usar os conhecimentos que aprenderam nos colégios de freiras que frequentaram Ubá e Juiz de Fora - bordado, costura, culinária - para oferecer cursos de requalificação profissional. Montaram uma sede na rua Macinhata do Vouga, zona sul de São Paulo, e passaram a dar aulas para mulheres que, em contrapartida, participassem regularmente de reuniões e palestras sobre assuntos como saúde e educação dos filhos.
 
"Quando percebi, tínhamos mais de 200 mulheres bordando, costurando e fazendo bazares pra conseguir algum dinheiro", diz. Para Mirtes, além de recuperá-las do alcoolismo, era importante ajudá-las a ter fonte de renda. "O orçamento familiar era um dos grandes problemas, e elas precisavam trabalhar em casa para ficar com os filhos pequenos."
 
Olhando para um edredom que tinha sido da filha, Mirtes teve a ideia de criar livros e um livro-travesseiro, com personagens e cenários feitos a partir de retalhos. Hoje, quinze anos depois, a ONG tem 56 títulos diferentes, vendidos a R$ 95 cada.
 
Mirtes justifica o preço alto pela falta de patrocínio e o custo do material, que inclui algodão cru, manta acrílica e aviamentos.
 
As mulheres levam, em média, três dias para concluir o trabalho, e recebem R$ 15 reais no momento em que entregam a obra, antes mesmo da venda. "Elas não podem esperar", diz a criadora do projeto.

Feiras de livros e artesanato representam a maior fonte de renda da ONG. De janeiro a março, quando há poucos eventos, Mirtes e a irmã muitas vezes têm de colocar dinheiro do próprio bolso para pagar 12 funcionários e 60 mães que têm trabalho garantido todos os meses.
 
Segundo Mirtes, ao longo do projeto mais de mil mulheres foram preparadas para o mercado de trabalho. Elas deixam a ONG quando se sentem capazes de receber clientes, fazer produtos e embalagens, e quando entendem quanto vale seu trabalho.
 
Na feira de livros que acontece paralelamente ao Flipoços, as obras feitas pelas mulheres do Jardim Comercial se destacam pelo capricho, mas principalmente pela originalidade.
 
Um dos títulos, por exemplo, substitui texto e ilustrações por tiras de velcro e um saquinho com personagens e cenários, para que a própria criança crie sua história. Outro permite que os leitores troquem as roupas das meninas que já estão nas páginas, e a maioria inclui mensagens sobre tolerância e igualdade.
 
Na quarta-feira (7), a ONG completará 29 anos, mas Mirtes terá de deixar a festa para depois porque "neste dia vou estar trabalhando". Olhando para trás, ela diz que continua "acreditando muito na solidariedade do povo". "Há centenas de pessoas fazendo trabalhos como o meu, e é isso que vai mudar o Brasil."
 
iG

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