Em teste, droga promoveu mesmos benefícios que remédio atual, mas em menor dosagem
Foto: Stock.Xchng / Divulgação Doença ataca membrana que protege fibras nervosas do cérebro |
Um novo medicamento contra a esclerose múltipla parece oferecer os mesmos benefícios que os remédios atuais, mas com menos efeitos adversos, sem a necessidade de ser usado diariamente e com um menor risco de resistência - ou seja, menos pacientes deixam de responder à droga.
Os efeitos do fármaco, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, foram observados em uma pesquisa feita com mais de 1500 pessoas com a doença de 26 países diferentes. A droga, porém, ainda não está disponível no mercado. O estudo foi publicado na revista médica The Lancet Neurology.
A esclerose múltipla é uma doença de causas desconhecidas e para a qual não existe cura. Trata-se de uma doença autoimune - ou seja, o sistema de defesa do indivíduo passa a atacar o próprio corpo. No caso desta patologia, ela danifica ou destrói a mielina, uma substância que envolve e protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico. Quando isso acontece, são formadas lesões, ou escleroses, capazes de desencadear diferentes sintomas sensitivos, motores e psicológicos.
O primeiro medicamento aprovado para o tratamento foi denominado 'interferon beta'. A droga, injetável, bloqueia a ação de algumas células do sistema imunológico que atacam a mielina em pessoas com a doença. Seu efeito varia de acordo com o paciente - em alguns casos, o benefício é pequeno, mas, em outros, pode reduzir em um terço os relapsos e níveis de inflamação.
No entanto, o fato de as injeções serem diárias faz com que muitos pacientes abandonem o tratamento. Mesmo assim, de acordo com os autores da pesquisa, o interferon beta parece ser mais seguro do que os fármacos orais que surgiram mais recentemente para o controle da doença.
Desenvolvido pelos cientistas americanos e com uma nova formulação química do interferon beta, o novo medicamento recebeu o nome, em inglês, de pegylated interferon beta. No teste clínico da substância, um terço dos participantes recebeu uma injeção de placebo a cada duas semanas; outro terço, uma injeção do novo medicamento a cada duas semanas; e o restante, uma injeção da droga por mês. O tratamento foi aplicado durante um ano.
Após esse período, foi observado que, em comparação com o plecebo, injeções a cada duas semanas de pegylated interferon beta diminuíram em 36% a taxa anual de relapsos da esclerose múltipla e em 67% o número de novas lesões no cérebro causadas pela doença. Já as injeções mensais da nova droga proporcionaram uma redução de 28% em ambos os aspectos.
Além disso, os voluntários que receberam o novo medicamento, administrado tanto a cada duas semanas como mensalmente, apresentaram 38% menos incapacidade provocada pela doença - medida pela velocidade com que andam, qualidade da visão, força e sensibilidade.
O pegylated interferon beta demonstrou ser tão seguro quanto à formulação antiga - alguns pacientes apresentaram sintomas de gripe até 24 horas após a injeção. De acordo com o coordenador da investigação, Peter Calabresi, atualmente 20% dos pacientes com esclerose múltipla deixam de responder aos medicamentos. Essa taxa de resistência em relação à nova droga, porém, não chegou a 1%.
— Acredito que esse medicamento possa aumentar a adesão e tolerância dos pacientes ao tratamento, o que pode interferir positivamente na qualidade de vida das pessoas com esclerose múltipla— diz Calabresi.
Zero Hora
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