Foto:
Adriana Franciosi / Agencia RBS
A cada semestre, cerca de 200 alunos prestam atendimento,
como ocorreu nesta quarta-feira
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Alunos do penúltimo semestre do curso de Odontologia da Ulbra, em
Canoas, atenderam pacientes sem esterilizar instrumentos. A descoberta
ocorreu em maio, levando a Ulbra a abrir sindicância e a reprovar dois
estudantes em três disciplinas. Seis pacientes atendidos sem as
condições de higiene adequadas foram avisados pela universidade e terão a
saúde monitorada durante os próximos meses.
Ainda está sendo apurado se houve mais casos. A coordenação do curso
afirmou que os procedimentos realizados nesses seis pacientes têm baixo
risco de contaminação, já que não envolveram cirurgia ou corte de
tecidos. A gravidade do assunto fez com que gestores suspendessem as
férias de julho para elaborar novas normas de controle e segurança para o
atendimento dos 6 mil pacientes cadastrados. Na terça-feira, em reunião
preparatória de retorno às aulas, no auditório da Odontologia, o
coordenador do curso, professor Adair Luiz Stefanello Busato, falou do
problema e das novas regras para cerca de 300 alunos:
– E os pacientes? O que vamos fazer com os pacientes que foram
atendidos sem material esterilizado? Foram contaminados, não foram? Como
vamos tratar disso? Esse é outro problema, gravíssimo. Se o paciente
não tinha ou já tinha HIV e diz que não tinha? Isso é muito grave, é
muito grave, é gravíssimo. Porque nós estamos contaminando as pessoas,
quando, na verdade, numa casa de saúde, de ensino, deveríamos zelar pelo
contrário.
A falha foi percebida em 19 de maio por um professor que alertou a
coordenação do curso por escrito. Uma comissão de sindicância investigou
o caso. A conclusão foi de que dois estudantes (a universidade não
revelou os nomes dos alunos) atenderam pacientes sem esterilizar os
instrumentos.
O caso foi analisado pelo conselho de administração do curso, que
decidiu reprovar administrativamente os dois alunos. Os dois recorreram à
Justiça. Uma decisão liminar autorizou que eles seguissem frequentando
as três disciplinas para concluí-las no semestre passado. Eles agora
cursam o último semestre.
– Para nós, eles seguem reprovados. Não vão se formar se não
refizerem as três disciplinas em que foram reprovados – garantiu ontem a
Zero Hora o coordenador do curso, Adair Busato.
Segundo o professor, os procedimentos de controle de esterilização
estão sendo aprimorados, mas também dependem da conduta de cada aluno:
– É uma falta de responsabilidade, de consciência ética e bioética.
Não pode um aluno que está no penúltimo semestre, com todos ensinamentos
que foram colocados, negligenciar esse aspecto. Se não existisse o 10º
semestre, amanhã ele estaria atendendo no consultório. Como seria?
Uma das novas regras determina que um funcionário da faculdade
confira o comprovante de esterilização dos instrumentos antes de cada
aluno ingressar nas clínicas para atendimento.
O que diz Romeu Forneck, diretor-executivo e pró-reitor de Planejamento e Administração da Ulbra
É um episódio lamentável. O professor sempre orienta os alunos, mas
eles, por algum motivo, deixaram de esterilizar os equipamentos. Foi
constatado o problema, e os alunos foram reprovados. Analisamos os
equipamentos, e não se constataram irregularidades. Também identificamos
e fizemos contato com os pacientes, e eles estão sendo acompanhados.
Não se verificou nenhum caso de contaminação.
Surpreso, conselho determina fiscalização
O atendimento a pacientes por alunos sem esterilizar instrumentos surpreendeu o Conselho Regional de Odontologia (CRO-RS).
– A estrutura do curso de Odontologia da Ulbra é uma das mais
modernas do país. O coordenador é um cientista respeitado. Nunca ouvimos
falar disso antes. Em hipótese alguma podem atender sem esterilizar
materiais – afirmou Flávio Borella, presidente do conselho.
Ao saber do caso pela reportagem de Zero Hora, a entidade determinou a
visita de um fiscal à faculdade para verificar o ocorrido. O CRO quer
ter acesso às conclusões da sindicância aberta pela coordenação do curso
para saber quando ocorreu e quando foi detectado o problema, quem são
os professores, os alunos e os pacientes envolvidos e quais medidas
foram adotadas.
Conforme o procurador jurídico do CRO, Ricardo Martins Limongi,
dependendo das informações, o conselho pode encaminhar representação à
Vigilância Sanitária para tomada de providências e para o Ministério
Público apurar responsabilidades, seja por parte de alunos ou
professores. Além disso, o CRO também poderá instaurar um processo ético
contra os professores, caso fique comprovado alguma negligência.
Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura de Canoas, o setor
de Vigilância em Saúde do município não tem registro de notificação à
faculdade de Odontologia da Ulbra relacionada a esse fato. Na Vigilância
Sanitária Estadual também nada consta, conforme apurou ZH.
Como funcionam os atendimentos
O curso de Odontologia da Ulbra tem 486 alunos. Cerca de 200 atuam nos atendimentos ao público a cada semestre.
Há 6 mil pacientes cadastrados atualmente para atendimentos.
Há 6 mil pacientes cadastrados atualmente para atendimentos.
Não há restrição por renda, ou seja, qualquer pessoa pode se cadastrar para o serviço.
O custo para o paciente é de R$ 12 por consulta. Se houver serviços de laboratório, o paciente paga também.
Os pacientes são atendidos em cinco clínicas situadas dentro do prédio da Odontologia.
Ocorrem entre 800 e mil atendimentos semanais.
Foi detectado problema no atendimento de seis pacientes, feito por dois alunos do 9º semestre.
O uso de equipamentos não esterilizados teria ocorrido nos dias 19 e 26 de maio e 4 de junho.
A coordenação do curso garante que os procedimentos feitos nestes
pacientes foram apenas de restaurações, ou seja, não houve cirurgia ou
casos envolvendo cortes e sangue, o que, segundo a coordenação do curso,
reduz o risco de infecções mais graves.
Os riscos de contaminação por instrumentais são decorrentes do
sangue, da saliva e de resíduos orgânicos, como o tecido cariado. Podem
ser transmitidos vírus da gripe e causadores de doenças respiratórias e
infectocontagiosas como o vírus do HIV e de hepatites.
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