Felipe Hanower / Agência O Globo Escolinhas e treinamentos surgem no verão nas praias do Leblon e Ipanema |
No horário de verão, prática de exercícios aumenta, mas seus benefícios dividem pesquisadores
Rio — Morador da Glória, no Rio, o músico Leonardo Cintra, de 38 anos, desfruta da vista da Baía de Guanabara enquanto malha em uma academia ao ar livre no Aterro do Flamengo, apelidada por ele de “Sugar Loaf Fitness”, numa brincadeira com o nome do Pão de Açúcar em inglês.
Além de definir os músculos, ele “pega um bronze” e admira a paisagem protagonizada pelas montanhas e a baía, tão próxima das barras de ferro que levanta por cerca de uma hora. O relógio marca 18h40m, e o sol teima em não descer. Com uma semana a mais do que o ano passado por conta do carnaval, o horário de verão é motivo de deleite para muitos — mas divide opiniões e pode até ser associado a riscos.
A hora especial, que começou no último dia 19 e vai valer por 126 dias —cinco a mais do que a média dos últimos 15 anos—, faz despertar o aspecto motivacional, provocado pela permanência por mais tempo da luz do dia, sustenta o preparador físico Fernando Beja.
— No verão, as pessoas querem atividade física, e, com um período de claridade maior, sem dúvida há mais exercício — afirma.
Um estudo recente da Universidade do Colorado (EUA), em Denver, contudo, lança uma sombra sobre os possíveis benefícios do aumento da atividade física no período. De acordo com os pesquisadores, a segunda-feira logo após a mudança no relógio, quando se perde uma hora de sono, registra até 25% mais ataques cardíacos do que as outras do ano.
— As pessoas que trabalham com energia se esquecem de que o corpo não é uma máquina. Existem limites para a regulagem. Somos programados para ficar acordados e dormir em determinadas horas — afirma Nonato Rodrigues, especialista em medicina do sono pela Associação Médica Brasileira (AMB), que não participou do estudo americano.
De acordo com o neurologista, quando você está acordado enquanto devia estar dormindo, o corpo se ressente. Ele explica que a privação de sono envolve a ativação de uma parte do sistema nervoso que não controlamos, representando um estresse para o cérebro:
— Essa alteração é respondida de duas maneiras: preparando o animal para correr ou lutar. Seja para um ou para o outro, o neurotransmissor principal é a adrenalina, responsável por diversos efeitos cardiovasculares, entre esses a diminuição do tamanho das artérias coronárias e o aumento do número de batimentos cardíacos, da força de contração cardíaca, e por aí vai.
Com uma adaptação cuidadosa ao horário novo, a antropóloga gaúcha Luciana Almeida, de 35 anos, dez morando no Rio de Janeiro, é só elogios ao período estendido de sol:
— Normalmente venho (ao Aterro do Flamengo) às 16h30m, já que à noite não é tão seguro. Mas, no horário de verão, venho mais tarde, sem problemas. É muito melhor manter a forma ao ar livre.
Para o preparador físico Beja, o bem-estar psicológico do exercício em meio à natureza e com mais luz solar, é a grande vantagem. E, na avaliação do neurologista Nonato Rodrigues, uma forma de minorar riscos cardíacos é tentar uma adaptação mais suave ao horário, a fim de acostumar o relógio biológico. Ele recomenda tentar adaptar ligeiramente, dia a dia, o horário de despertar, a fim de o corpo não sentir a alteração brusca.
O Globo
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