Crianças e adolescentes paulistanos filhos de mães obesas correm um risco 5,34 vezes maior de apresentarem o problema também em relação a indivíduos da mesma idade que têm mães magras. A conclusão é de um estudo com 660 estudantes da capital, de 8 a 18 anos, realizado em conjunto pelos cursos de nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade São Francisco e da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
Foram avaliados alunos das rede privada e pública da cidade. No levantamento, os pesquisadores tratam a obesidade na adolescência como um problema multifatorial, resultado de uma alimentação rica em gordura, da falta de exercícios físicos e dos hábitos dos pais. No âmbito familiar pesa, ainda, o fator genético para o ganho de peso.
Na casa da professora Solange Lopes de Mello, de 49 anos, a preocupação com o peso é compartilhada com os filhos. “A minha família tem uma forte tendência a ganhar peso. Como não tive como controlar isso na minha infância, com meus filhos eu comecei a me preocupar mais”, explica ela, mãe de Felipe, de 24 anos, Samara, 14 anos, e Bárbara, de 10.
Para monitorar o peso dos filhos, Solange controla a entrada de açúcar e frituras dentro de casa. Outra medida, diz ela, é cuidar da alimentação das crianças na escola. “O lanche delas é uma maçã. Claro que tem influência dos colegas, mas elas têm essa consciência do que é saudável”, acredita. Mais preocupante que o excesso de peso são os problemas decorrentes dele. “Eu tenho colesterol alto, tenho de ficar controlando”, admite Solange.
Coordenadora do laboratório de obesidade infantil do Hospital das Clínicas, Sandra Villares afirma que das 420 crianças atendidas na unidade, apenas 25% têm mães magras, ou seja, com um índice de massa corporal (IMC) abaixo de 25. Além disso, segundo a pesquisadora, 90% desses pacientes infantis já eram obesos antes dos 10 anos de idade, o que indica hábitos alimentares errados desde muito cedo.
Mesmo os hábitos maternos durante a gestação podem interferir no peso dos filhos, diz Sandra. “As mães que se alimentam pouco durante a gravidez também podem ter filhos obesos. Com a restrição alimentar as crianças ganharão peso nos primeiros anos de vida, o que aumenta o risco para que se tornem adultos obesos.”
Para Sandra, a aderência da mãe a um programa de dieta é essencial para que a criança também perca peso quando está gordinha. “A mudança deve vir de casa. As mães não fazem a dieta, mas querem que as crianças façam. Assim, não dá certo”, diz. Essa também é a opinião da nutricionista Simone Freire, coordenadora do Programa de Atividades para o Paciente Obeso (Papo), da Unifesp. “Se a alimentação saudável não é aprendida na prática fica tudo mais complicado”, avalia.
A compra de produtos e alimentos com alto teor de gordura e açúcar também é um fator determinante para o ganho de peso infantil. Nesse sentido, a escolaridade materna aparece como fator de influência direta na dieta das crianças. “Mães com maior nível de escolaridade tendem a se inserir no mercado de trabalho, melhorando as condições socioeconômicas da família, o que pode provocar mudança no padrão alimentar e na rotina familiar, priorizando-se a facilidade em detrimento da saúde dos adolescentes”, detalha a pesquisa.
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