A impaciência, típica das crises de abstinência, levou Pedro (nome fictício), 41, a deixar o pronto-socorro de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) e esperar em casa por uma vaga de internação em um hospital psiquiátrico.
Edson Silva/Folhapress
Paciente faz trabalho manual em ambulatório para dependentes químicos no interior de SP
Pela agressividade, ele precisou ser amarrado para passar a madrugada da última sexta-feira (17) no PS. Até o final da tarde daquele dia, ainda não havia obtido vaga. Pedro é dependente de álcool e cocaína há dois anos. Tentou por se tratar em uma comunidade terapêutica, mas não se adaptou.
Apesar de dizer ser bem atendido no Caps AD, ambulatório para dependentes químicos, ele afirma não gostar de terapias. "Isso não dá certo, você expõe a vida a um desconhecido", conta.
Para Pedro, o dependente ainda é olhado com desconfiança e preconceito nos PSs e hospitais. "Faltam médicos que te compreendam."
Cecília, 56, busca hoje na máquina de costura do Caps AD superar as duas décadas de dependência ao álcool.
Ela hoje ensina outras pacientes --e também aprende. "Isso aqui me ajuda muito, fico mais leve. No fim de semana, fico ansiosa para voltar para o Caps", relata.
Cecília começou o vício no álcool ao se separar do marido. Em momentos de crise, chegou a ser internada quatro vezes em um sanatório em Uberaba (MG). Em outra ocasião, lembra-se da sensação de ficar internada em um hospital psiquiátrico de outra cidade.
"Fiquei junto com outros doentes mentais. Não é preconceito, mas dependente químico precisa de um espaço próprio."
Como Cecília, Cláudio, 65 anos de idade e 30 de dependência ao álcool, também busca apoio nas terapias e atividades ocupacionais do Caps para não ter recaídas.
Na última, ocorrida no ano passado, ficou por duas semanas internado em um hospital. "Caps é o melhor lugar. Você passa o dia inteiro com a mente ocupada. Na internação, você se sente preso."
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