Tratamento inédito na América do Sul está beneficiando pacientes com câncer do Centro Infantil Boldrini, hospital de Campinas (SP).
O tratamento utiliza o acelerador linear Synergy, que permite tratar tumores e lesões sem afetar órgãos e estruturas vizinhas. O Boldrini trata de crianças e adolescentes com câncer.
O acelerador utiliza a técnica de radiação com intensidade modulada em arco (VMAT), tecnologia mais avançada em radioterapia e que traz grandes benefícios aos pacientes. O equipamento é capaz de oferecer tratamentos mais precisos e concentrados na lesão, com grande proteção aos órgãos próximos ao tumor e com redução dos efeitos colaterais. Além de permitir tratamentos com tempo mais curto de exposição.
“A técnica de radiação com intensidade modulada em arco (VMAT) realiza tratamento com o aparelho em movimento. O acelerador faz o movimento em torno do paciente, enquanto a intensidade da radiação vai sendo modulada, ou seja, controlada por um software de tratamento”, descreve a doutora
Rosângela Villar, responsável pelo Serviço de Radioterapia do Boldrini.
Esse tratamento inovador é indicado para pacientes portadores de tumores próximos a órgãos importantes e sensíveis aos efeitos colaterais da radiação, como coração, pulmão, cérebro e medula espinhal.
“Tumores vizinhos a essas estruturas apresentam grande risco cirúrgico e, na maioria das vezes, o médico opta por não realizar uma intervenção cirúrgica ficando somente a radioterapia como opção de tratamento. Um exemplo é o tumor na região da coluna, próximo à medula espinhal. Esses casos, no entanto são também um grande desafio para a radioterapia. As doses convencionais de irradiação, necessárias para a cura da doença, não podem ser aplicadas nessa localidade com as técnicas de tratamento mais antigas, devido à sensibilidade exacerbada da medula espinhal a pequenas doses de irradiação com risco de efeitos colaterais e sequelas inaceitáveis que inviabilizavam seu uso”, revela a doutora.
Os pacientes submetidos ao tratamento com essa tecnologia têm obtido importantes resultados. Segundo a doutora Rosângela, “os pacientes têm apresentado poucos efeitos colaterais, o que torna a radioterapia com essa técnica muito bem tolerada. Temos como exemplo uma criança com câncer de esôfago sendo tratada com VMAT. Ela não apresentou dificuldade para deglutir e teve ganho de peso de 2kg durante as sessões. Nos pacientes com essa doença, normalmente o que se observa é uma queda de cerca de 10% no peso durante toda a radioterapia, devido à toxicidade e dificuldade em se alimentar”, explica.
A doutora Rosângela Villar, cita ainda outros resultados animadores. “Podemos mencionar outros casos de sucesso, como uma paciente, que teve a fertilidade preservada mesmo sendo submetida à radiação em área próxima aos ovários. Outra apresentou resposta completa (cura) com esse tratamento para um câncer raro em crianças e incurável em adultos. E ainda uma criança que foi reirradiada com muita facilidade e mínimos efeitos colaterais. O que é muito difícil em pacientes submetidos a um segundo tratamento com radiação.”
O acelerador também é capaz de realizar radioterapia guiada por imagem (IGRT – Image Guided Radiotherapy), o que resulta em um Raios-X digital do paciente em tempo real de tratamento ou ainda em um corte de tomografia visualizando o tumor e os órgãos vizinhos durante a liberação do tratamento. Assim é possível fazer correções automáticas para que o centro da máquina esteja focado no centro do tumor ou da lesão a ser tratada.
“Essa técnica nos permite precisão milimétrica de posicionamento diário, controle de movimento interno dos órgãos de acordo com a respiração e com a redução diária do tumor, podendo adaptar o tratamento às condições reais do paciente dia a dia. Se houver grande redução do tumor visualizamos imediatamente o fato e podemos fazer adaptações e novo planejamento do tratamento para a nova situação. Essas variáveis, ao serem totalmente controláveis com o novo equipamento permitem margens de tratamento muito menores que as anteriores, reduzindo em muito a irradiação dos órgãos normais vizinhos”, afirma a doutora Rosângela.
O Centro Infantil Boldrini, referência no tratamento de câncer, há 33 anos atua no cuidado a crianças e adolescentes com câncer. Atualmente, o Boldrini trata cerca de 7 mil pacientes de diversas cidades brasileiras e alguns de países da América Latina, a maioria (80%) pelo SUS.
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