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domingo, 10 de julho de 2011

Cirurgia bariátrica: revolução no estômago e na mente

Nunca se falou tanto em cirurgia bariátrica, uma das formas mais eficazes de combate à obesidade, que exige, antes de tudo, uma séria transformação psicológica

Apesar de os relatos de pacientes que passaram com sucesso pela cirurgia da obesidade se aproximarem de contos de fada, o método está longe de ser uma mágica. Há muita luta, dor e sofrimento envolvidos no processo de emagrecimento proporcionado por uma intervenção de grande porte. O número de candidatos é grande. No Brasil, a cada oito minutos, uma pessoa se submete à ferramenta de modificação corporal. Desses, um em cada 300 morrem. Os motivos vão desde a má cicatrização a complicações clínicas ou cirúrgicas.

Com a provável redução do uso de medicamentos para emagrecer – devido à recente restrição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação aos medicamentos à base de sibutramina, os mais populares no mercado do emagrecimento –, a tendência é que a única saída para quem tem obesidade e não consegue resolver o problema de outras formas seja a cirurgia bariátrica. Hoje indicada para pacientes com IMC (índice de massa corporal) acima de 30 e doenças associadas, como diabetes e hipertensão, o procedimento está em estudo nos EUA, na Itália e Espanha, que querem reduzir o limite mínimo de IMC para a indicação da operação.

O cirurgião Ricardo Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, está coordenando uma pesquisa no Hospital Oswaldo Cruz sobre a eficácia da operação em pessoas com IMC entre 30 e 35 com o financiamento do Ministério da Saúde. Foram recrutados 105 voluntários, que serão operados dentro de semanas. Para Cohen, o procedimento é mais seguro do que os medicamentos. A previsão é que, somente em 2011, sejam feitas mais de 70 mil reduções de estômago no país.

— É uma ótima opção para tratar de uma doença séria. Não é uma alternativa unicamente estética. O índice de mortalidade não é desprezível — avalia o chefe do Núcleo de Cirurgia Metabólica e Bariátrica do Hospital Moinhos de Vento, Artur Pacheco Seabra.

Há, é claro, a vertente de médicos que não concordam com a indicação do procedimento em casos que não sejam extremos. Segundo Eduardo Mutarelli, neurologista do Hospital Síro-Libanês, estudos recentes mostram que 16% das pessoas que passam pela redução sofrem alguma alteração neurológica, como
perda de memória e confusão mental, entre outras complicações físicas e psíquicas.

A forma mais eficaz de se evitar percalços é seguir as especificações da Organização Mundial da Saúde (OMS) – que indica acompanhamento nutricional, clínico e psicólogo. Especialista em obesidade, a psicóloga bariátrica Débora Gleiser afirma que além dos riscos relacionados ao bisturi, ainda há a possibilidade emocional de pôr tudo a perder.

— É uma mudança brusca de vida, onde a comida não pode mais ser usada como calmante — argumenta Débora, do Grupo de Estudos das Cirurgias da Obesidade e Metabólica (Gecom).

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica no Rio Grande do Sul, Gabriel Vargas, destaca que, apesar dos riscos, a mortalidade de doenças relacionadas à obesidade é 40% maior em não operados do que naqueles que se submeteram à técnica.

— Isto mostra que, apesar dos riscos, a cirurgia é muito mais segura do que tentar tratar uma doença tão complexa como a obesidade de outras formas — afirma o cirurgião.

Alívio e arrependimento

Qualidade de vida. De olho nessa perspectiva, o empresário Mauro Kappel,41 anos, procurou ajuda para ser operado, no ano de 2007. Apesar de todo o sofrimento pós-cirúrgico, sentiu-se aliviado. Enfim, conseguiu dormir sem um aparelho para apneia do sono. A animação de Mauro inspirou sua mulher, Veronica Macedo de Oliveira Kappel, 39 anos. Apesar de temer a técnica, ela pesou os benefícios, encarou a“faca”e mandou 56 quilos embora.

— Ficar magro é muito bom. Mas na hora que a gente acorda da cirurgia, bate um arrependimento, pois você continua gordo – diz ela.

Alegres por terem conseguido manter os resultados, o casal comemora. Nem todos conseguem. Cerca de 5% dos casos abandonam os cuidados e voltam a engordar. O chefe da equipe de cirurgia bariátrica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Luiz Carlos De Carli, lista cinco elementos essenciais para evitar o reganho de peso:

— São os 5 Cs: convicção de que quer e vai conseguir, consciência do que o ato representa, confiança na equipe, comprometimento de não pular nenhuma etapa e comparecer a todas as consultas e controle.

A loucura de quem engorda para ser operado

Não há cirurgia que emagreça a cabeça. Parte-se dessa premissa para desencorajar quem se aventura a encarar uma cirurgia só para ter alguns dias de magreza. Há quem faça loucuras. Uma das artimanhas mais condenáveis e também mais comuns, são aqueles obesos que não se encaixam nas condições cirúrgicas engordarem para aumentar o IMC. Com Catarina Barreto, 34 anos, foi assim. Nunca se conformou com os quilos extras distribuídos nos seus 1,74 metro de altura. Cogitou a cirurgia. Foram meses engordando para se encaixar no índice corporal previsto pela OMS. Na hora da pesagem na endocrinologista, chegava a se encolher para que sua altura parece menor e conseguisse o laudo. Nos últimos exames pré-cirúrgicos, porém, voltou atrás.

— Pensei: do que adiantaria eu ser operada se sei que não deixaria de comer. Eu seria como tantos que eu conheço, que engordam tudo outra vez — diz, aliviada de não seguir adiante com o plano.

A partir do episódio, a postura de Catarina mudou. Entendeu que eram as próprias compulsões que a deformaram e que somente com esforço poderia reverter a situação. Voltou a se maquiar e a visitar salões de beleza. Matriculou-se em uma academia de ginástica. Uma hora de exercícios por dia fez com que enxugasse sete quilos em dois meses.

— Minha maior felicidade foi poder comprar um jeans. Sonhava em me ver vestida com um e não precisar mais mandar fazer as roupas.

O pensamento de Catarina a salvou de uma furada. De acordo com Artur Seabra, pessoas compulsivas têm chances reduzidas de sucesso.

— A compulsão alimentar deve ser contornada antes da cirurgia. Caso contrário, a pessoa volta a descontar tudo na comida e tem mais chances de desenvolver outros transtornos mais graves.

Fonte Zero Hora

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