Em comemoração ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) abriu ontem (29) a exposição Propagandas de Cigarro – Como a Indústria do Fumo Enganou as Pessoas. Até 14 de outubro, 90 peças publicitárias veiculadas nos Estados Unidos, no período de 1920 a 1950, ficarão disponíveis ao público.
As peças estão expostas no saguão de entrada do instituto, bem ao lado do colorido mosaico em pastilhas de vidro do destacado artista plástico brasileiro Homero Britto, que inspira à vida. Mas, ao contrário dessa arte, as criativas peças publicitárias induziram milhares de pessoas ao vício do cigarro, o que, mostra a ciência, tem várias sequelas como enfisema pulmonar e câncer.
Nos cartazes, marcas de cigarros que existiam no mercado ou ainda à venda estão entre os dedos de artistas de cinema famosos da época ou sugeridas por imagens de profissionais de saúde ou de ídolos do esporte. Entre as figuras, estão a do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, nos tempos em que era um galã das telas de cinema; a do ator e cantor Frank Sinatra; a da comediante Lucille Ball, da série I Love Lucy; e a de John Wayne. Com este último, a indústria do tabaco vendeu a ideia de que se o destemido astro do faroeste era um consumidor de cigarro quem lhe seguisse no mesmo hábito poderia vir a ser tão forte e bonito quanto o ator.
Nem o principal protagonista das vendas de Natal, Papai Noel, escapou da estratégia de agarrar o consumidor pela emoção. Além dele, aparecem vendendo cigarros bebês com bela aparência, gordinhos e de olhos azuis. No entanto, em meio a essas peças, também estão os cartazes de alerta entre os quais a de uma modelo negra, que traz na garganta um aparelho respirador. A mensagem associada à imagem da modelo diz que, ao contrário do que possa parecer, o que a moça traz na garganta não é um enfeite e sim um aparelho para ajudar a minimizar os efeitos de um câncer.
A primeira mostra foi realizada em 2007, quando uma equipe de médicos da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, decidiu expor a coleção que pertence ao Instituto Smithsonian de Washington. As peças foram expostas naquele ano em São Francisco, Boston, Nova York, na Filadélfia e em Nova Orleans. A coleção original faz parte do Smithsonian.
Segundo o pneumologista Gustavo Prado, do Icesp, além de influenciar adultos, esse marketing agressivo atinge as pessoas na passagem da adolescência para a idade adulta. Ele destacou que, com isso, muitos, já viciados desde jovens, querem, mas não conseguem largar o cigarro por causa da dependência química provocada pela nicotina presente na folha de fumo.
Dados do Icesp indicam que 60% dos fumantes diagnosticados com câncer não conseguem parar de fumar mesmo após descobrirem a doença, e 35% dos pacientes, ou um em cada três, afirmam ser tabagistas no momento em que ingressam na unidade para fazer o tratamento.
“O uso do tabaco é uma doença classificada pela Organização Mundial da Saúde [OMS], mas tem tratamento disponível na rede pública”, alertou Prado. O hábito de fumar pode levar a diversas doenças cardiovasculares e respiratórias, além de ser um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversos tipos de câncer. Estima-se que 30% das mortes de pacientes oncológicos tenham sido causadas pelo consumo de tabaco.
Mesmos aquelas pessoas que não fumam, mas vivem sob o mesmo ambiente dos fumantes, estão sujeitas às doenças. Com as recentes medidas de restrição ao uso dos cigarros, o especialista acredita que, no futuro, as estatísticas que apontam casos de doenças originadas pelo contato com o tabaco tendem a diminuir.
De acordo com artigo dos médicos Stella Martins e Paula Santos, do Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, nos últimos 19 anos, o número de fumantes no país caiu de 33% para 17% da população.
Fonte Agência Brasil
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