Três remédios e uma cirurgia por cateter são as novas armas dos médicos para prevenir o derrame cerebral.
Os esforços para barrar a doença se justificam: nenhum problema de saúde mata mais brasileiros do que os acidentes vasculares cerebrais, segundo dados do Ministério da Saúde.
Os tratamentos mais recentes têm como alvo um tipo de arritmia cardíaca chamada fibrilação atrial, responsável por até 25% dos casos de derrame isquêmico.
O problema, que atinge mais quem já passou dos 70 anos, é causado pela degeneração das fibras cardíacas.
Em vez de bater no ritmo, explica o cardiologista Carlos Pedra, o coração vibra, com menos força. O sangue acaba ficando mais tempo no coração e se acumula em um apêndice do átrio esquerdo, o que gera os coágulos.
"O trombo [coágulo] se desprende, vai para a aorta e, de lá, para a cabeça, causando um AVC", diz o médico do HCor (Hospital do Coração) e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
O tratamento cirúrgico usa uma prótese levada por cateter para fechar o apêndice do átrio esquerdo, evitando os coágulos e o derrame.
"O apêndice é como uma biruta de aeroporto, que fechamos com uma 'rolha' de níquel e estanho. O procedimento é bem seguro", afirma.
As primeiras operações do tipo no HCor foram feitas no fim do ano passado.
A cirurgia é uma alternativa ao uso dos anticoagulantes, forma mais tradicional de evitar a formação de trombos e o derrame. O principal remédio usado hoje é a varfarina, disponível já há 50 anos.
O problema, afirma Pedra, é que muitos dos pacientes que precisam usar esse remédio não podem, por causa de efeitos colaterais, da necessidade de exames frequentes para acompanhar os níveis de coagulação e das interações da droga com alimentos e com outros medicamentos.
MENOS RISCOS
Neste mês, foi lançado no Brasil um anticoagulante que promete menos efeitos colaterais, dispensa o monitoramento da coagulação e pode abrir uma possibilidade para que muitos pacientes que hoje são impedidos de usar a droga antiga possam se prevenir contra o derrame.
O empecilho é o preço. Um mês de tratamento não sai por menos de R$ 165. A varfarina custa um oitavo disso.
O princípio ativo do remédio se chama dabigatrana. A droga foi liberado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com base em um estudo com 18 mil pacientes pago pelo fabricante, a Boehringer Ingelheim.
A pesquisa afirma que o novo medicamento é tão eficaz quanto a varfarina na prevenção dos coágulos.
Duas drogas, a apixabana, da Bristol-Myers Squibb, e rivaroxabana, da Bayer, já foram alvo de estudos e aguardam aprovação para a prevenção de derrames.
"Grande parte dos médicos tem medo de receitar a varfarina e provocar uma hemorragia. A expectativa é que, com esses novos remédios, os médicos fiquem menos receosos de prescrevê-los", diz o eletrofisiologista Dalmo Moreira, do Dante Pazzanese.
Editoria de Arte / Folhapress | ||
'DIZIAM QUE EU IA SOFRER UM DERRAME A QUALQUER MOMENTO'
Micênio Rodrigues, 59, passou pela cirurgia por cateter para evitar a formação de coágulos no coração há dois meses, no Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo.
O aposentado, que mora em Itaquaquecetuba (SP), conta que havia começado a tomar anticoagulantes há um ano, mas não se acertava com o remédio.
"A cada mês eu tinha que fazer exames de sangue para controlar a coagulação. Mesmo tomando o remédio direitinho, não dava certo", conta Rodrigues, que sofreu um infarto há nove anos e já foi submetido a angioplastia.
Ele conta que sentia muitas dores no peito. "Diziam que a qualquer momento podia me dar um derrame."
A cirurgia, segundo ele, foi tranquila. "O chato é que tive de ficar oito horas sem me mexer no hospital, depois da operação."
Agora, Rodrigues, que trabalhava como motorista, avalia que está 80% melhor. "Estou passando muito bem. Não tomo mais anticoagulante, só outros remédios para o coração. No mês que vem vou fazer mais uma bateria de exames", conta.
Fonte Folhaonline
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