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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Crianças "orgânicas"

Elas não tomam vacinas e preferem alimentos saudáveis; o modo de vida é uma opção das mães

Hora do lanche no colégio, Arthur, de 4 anos, corre para o pátio e abre a lancheira. Dentro, encontra uma maçã, que come com gosto. Ao lado, os coleguinhas se esbaldam em salgadinhos, bisnaguinhas e bolinhos prontos.

A mãe do garoto, Patricia Feldman, garante que ele está feliz com a escolha que ela fez: “fruta é a coisa que ele mais gosta de comer. O prazer que as outras crianças têm, ele também têm, mas comendo algo saudável.”

Arthur poderia ser facilmente confundido com o garoto-propaganda de uma marca de suplementos infantis, que pede para a mãe comprar brócolis no supermercado. “Ele faz compras comigo e me ajuda a escolher frutas, legumes e verduras. Nunca pede alguma coisa além disso. Nem iogurte, que eu mesma faço em casa”, relata.

No prato de Arthur não tem nada industrializado. Arroz com feijão, salada e legumes, sua comida predileta, são feitos por Patricia, que é culinarista, e cuida para que os ingredientes sejam orgânicos. Até o leite que ele toma é retirado da vaca todo dia de manhã e entregue na casa da família.

“Quando fiquei grávida procurei informação, li bastante sobre as particularidades da alimentação infantil. E decidi que iria criar meu filho assim, de uma forma que eu considero saudável”, afirma. Arthur nunca tomou refrigerante, não come hambúrguer, não gosta de macarrão, tomou óleo de fígado de bacalhau até os 3 anos, não liga para chocolate e faz cara feia para batata frita.

Patricia não é exceção no cuidado rígido com a alimentação dos pequenos. Na casa de Tarsila de Souza Aranha, mãe de Helena e Theo, tudo é orgânico ou integral e fritura não entra. “Até os três anos, nenhum deles come carne e também não tomam leite, para evitar algumas doenças que podem ser provocadas pela lactose.” Segundo a mãe, as crianças não ficam sem comer um prato enorme de salada, adoram frutas e não pedem refrigerante, que só podem consumir em dias de festa.

É saudável?
Para a pediatra e nutróloga Marileise Obelar, do Hospital Infantil Joana de Gusmão, de Santa Catarina, é extremamente importante que pais incentivem o consumo de vegetais nos primeiros anos de vida. Alimentos industrializados não devem ser introduzidos até que a criança complete um ano, porque podem prejudicar o aprendizado dos sabores.

“O sabor artificial é mais forte do que os de produtos naturais, a criança perde a vontade de comer outros alimentos”, diz.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a alimentação ideal é aquela que contém todos os ingredientes que fazem parte da pirâmide alimentar. Na hora de montar o cardápio dos filhos, a recomendação da SBP é que pais atentem para inserir todos os grupos alimentares, a fim de que não falte nenhum nutriente. Marileise faz um alerta: criança precisa comer carne, principalmente até os 2 anos. Pode ser peixe, frango ou carne vermelha, mas somente essas opções são capazes de suprir a necessidade de ferro e vitamina B12.

“O ferro presente nos vegetais não é tão bem absorvido, a criança pode desenvolver anemia. Além disso, ele é importante na formação do sistema nervoso central, a falta dele pode prejudicar o desenvolvimento da cognição da criança”, alerta a nutróloga. O leite também não pode faltar. “A osteoporose começa na infância. A recomendação é que a criança consuma um copo de leite por dia, pelo menos. O cálcio presente na bebida é de extrema importância para a mineralização dos ossos.”

Vacina? Aqui, não!
A preocupação dessas mães extrapola o tema alimentação. A opção pelo que elas acreditam ser “um modo de vida mais saudável” está presente também na escolha da escola e na carteira de vacinação. Assim como na produção de orgânicos, em que agricultores não utilizam agrotóxicos, essas mães são avessas a vacinas, que consideram tão prejudiciais quanto os produtos químicos utilizados na plantação.

Tarsila preferiu não vacinar os filhos. Helena e Theo não foram imunizados contra nenhuma doença. “Foi uma opção que eu fiz quando estava grávida. Eu li muito, eu estudei. Eu não tomei vacinas quando era pequena, sempre fui criada com o mínimo de remédios possível. Estou muito tranqüila com essa decisão. A responsabilidade pela nossa saúde tem que ser nossa”, afirma a empresária.

Até hoje, nenhuma das duas crianças pegou caxumba, catapora ou sarampo e a mãe credita a resistência à boa alimentação e aos hábitos saudáveis, como dormir cedo. “Não sou a favor de que qualquer um deixe de tomar vacina, tem que estudar o ambiente em que a pessoa vive. Eu já tomei vacina contra a febre amarela, por exemplo, quando fui viajar. Mas não sou a favor de vacinar as crianças. Até os três anos o sistema imunológico delas está se formando, o corpo fica preguiçoso se tem uma muleta ali para se apoiar”, diz.

Para o infectologista Marcelo Vallada, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, as pessoas têm dificuldade para filtrar informações. “Quando alguém opta por não imunizar o filho, acaba expondo as pessoas que estão em contato com a criança. Se a ela tiver rubéola, por exemplo, vai ter febre, se sentir mal, mas vai superar. No entanto, essa criança está em contato com a professora, que pode estar grávida, pegar a doença e ter problemas com o futuro filho”, avalia. O perigo não está restrito à saúde da criança e de sua família, mas também de toda a sociedade. Algumas doenças só estão erradicadas por conta de uma campanha de vacinação eficiente e podem reaparecer caso mais pessoas decidam pela não imunização.

“O impacto da vacina é evidente. Eu me lembro da época em que a meningite levava quatro crianças por semana ao hospital. Dessas, uma ou duas morriam, era chocante. Eu já vi criança morrer de sarampo”, alerta Marcelo. Uma pesquisa realizada em cinco capitais brasileiras pela Santa Casa de São Paulo demonstrou que a classe A registra as piores coberturas vacinais no Sudeste. De acordo com o estudo, essa parte da população tem informações vagas sobre as vacinas infantis e medo de reações adversas.

Orientação é vacinar
Para Patricia Feldman, que também não dá todas as vacinas ao filho, falta bom senso. “É um exagero vacinar uma criança que acabou de nascer contra a hepatite B, por exemplo, doença que em geral se pega pelo contato sexual”, diz. Ela não dá mais de uma vacina por mês e não vai imunizar o filho contra a gripe. A mãe compartilha da mesma opinião de Tarsila e acredita que a melhor forma de manter a criança resistente às doenças é ter um estilo de vida saudável. “A criança precisa ser incentivada a fazer uma atividade física, tomar sol, brincar e se alimentar corretamente.”

Para Vallada, não há sentido em postergar a vacinação e o epidemiologista faz um alerta: “O corpo do recém-nascido responde muito melhor do que o de uma criança de 10 anos, por exemplo. Vaciná-lo nesse momento contra a hepatite B, por exemplo, vai fazer com que ele chegue à adolescência muito mais protegido.

” Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de casos de sarampo caiu 74% por conta das campanhas de vacinação. A imunização contra tétano, difteria, sarampo e coqueluche evita a morte de 2,5 milhões de crianças em todo o mundo. A importância é reforçada pelas Sociedades Brasileiras de Imunologia e Pediatria, que indicam um calendário básico de vacinação.

“O que fizer parte do calendário é obrigatório. Os pais que se recusarem a dar vacina podem ser acusados de negligência”, reforça o epidemiologista.

Fonte IG

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