É possível contrabandear anticorpos para dentro das células do tumor, atacando o câncer de forma mais específica, revela uma pesquisa.
O estudo, assinado por pesquisadores em Cingapura e nos EUA, mostrou que a estratégia pode ser bem sucedida ao testá-la em camundongos.
A abordagem, além de ter aplicação terapêutica, também poderia funcionar como uma vacina anticâncer, ensinando o organismo a se proteger contra a doença antes mesmo que ela apareça.
O estudo, coordenado por Qi Zeng, do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Agência de Ciência, Tecnologia e Pesquisa de Cingapura, teve destaque na revista "Science Translational Medicine", voltada para estudos com potencial de aplicação. A vantagem dessas moléculas é a sua especificidade.
Num sistema de chave e fechadura, elas são projetadas para grudarem em seu alvo biológico, o chamado antígeno (normalmente uma molécula específica do agente causador da doença).
Ao se conectar a essa molécula, o anticorpo pode detonar o causador da doença ou deixá-lo "marcado para morrer": o anticorpo ajuda a recrutar outros elementos do sistema de defesa do organismo, que acabam destruindo o agente da doença.
Portanto, atacar um tumor usando essas armas exigiria apenas identificar um antígeno específico das células cancerosas e produzir anticorpos que se liguem a ele.
Com isso, os efeitos colaterais típicos da quimioterapia poderiam até ser contornados, uma vez que a parte saudável do organismo seria poupada do ataque.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
DOGMA DESAFIADO
Na prática, a coisa é mais complicada. A começar pelo fato de que muitos dos potenciais antígenos de câncer são proteínas que moram no interior das células tumorais. Isso era um problema porque os anticorpos são moléculas grandalhonas. Não conseguiriam passar pelas brechas da membrana celular e chegar até esses alvos, que normalmente são proteínas fora de controle por causa de alguma mutação.
Por isso, até hoje, os anticorpos contra câncer só se atracam com antígenos que ficam na parte de fora da células, na membrana celular.
Zeng e companhia, no entanto, trabalharam com base numa pista antes negligenciada. Em doenças autoimunes, aquelas nas quais o organismo se volta contra si mesmo, os anticorpos não só parecem se enfiar membrana celular adentro como afetam seus alvos no interior da célula, levando-a a se suicidar.
Se é possível nessas doenças, pode acontecer em outros contextos mais benignos, raciocinaram os cientistas.
Eles injetaram, em camundongos, células tumorais que carregavam dois potenciais antígenos, proteínas do interior da célula que têm um papel na origem do câncer.
Depois, deram a parte dos bichos anticorpos específicos para essas proteínas. Os roedores que receberam os anticorpos conseguiram enfrentar melhor a doença.
Num outro teste, eles primeiro colocaram o antígeno no organismo de camundongos saudáveis, criando uma vacina anticâncer.
Em outras vacinas, é assim que funciona: doses do antígeno fazem o organismo produzir seus próprios anticorpos. De novo, funcionou: ao receberem injeções de células de câncer, os animais se viraram bem contra a doença.
Os cientistas afirmam que essa abordagem daria certo, por exemplo, em pessoas com uma mutação conhecida que leva ao câncer, personalizando o tratamento.
Fonte Folhaonline
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