Sinônimo de economia e qualidade, construções verdes são demandadas por bem-estar e segurança do paciente
Aspectos de bem-estar, segurança e produtividade aliados à redução de custos estão impulsionando a tendência sustentável também na construção dos hospitais brasileiros. Sistema de iluminação, condicionamento de ar, uso racional da água, entre outros recursos voltados ao conforto e controle de riscos aos pacientes já estão presentes em edifícios verdes certificados no País. Delboni Auriemo – unidade Dumont Villares, Fleury Medicina e Saúde e Hospital Israelita Albert Einstein já foram certificados e outros nove prédios estão em processo.
No Brasil, há duas metodologias de certificação: a Leed Healthcare e a Aqua. Em 2010, houve a aprovação do critério americano Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) para hospitais. Segundo Marcos Casado, gerente técnico do GBC Brasil, que concede a certificação, a versão tem critérios específicos, por exemplo, em relação à qualidade do ar e à acústica.
O país já é o quinto no ranking mundial de construções verdes. Em 2006 havia oito projetos, em 2010 foram 231 e este ano a expectativa é de 350, sendo que a certificação sai até seis meses após o término da obra.
Com 35 edifícios aprovados, a Fundação Vanzolini lançou a certificação Aqua para empreendimentos hospitalares no final de 2010. Ela se baseia em 14 critérios de sustentabilidade divididos em quatro fases: ecoconstrução, ecogestão, conforto e saúde. Isso abrange a concepção, o projeto, a construção e a fase de uso dos empreendimentos. A certificação ocorre simultaneamente com a realização do empreendimento. Há cerca de cinco clientes em processo de análise, mas que não autorizaram a divulgação.
Para Luiz Henrique Ferreira, presidente da Inovatech, consultoria especializada em projetos sustentáveis para a construção civil, a certificação não envolve apenas a questão ambiental. “Está na moda falar em hospital verde, mas o sustentável busca também elevados níveis de conforto para a saúde.”
Irreversível
Apesar do aumento na demanda, a sustentabilidade ainda é novidade para a maioria dos hospitais e serviços de saúde. “Na verdade, demorou bastante para a arquitetura hospitalar no Brasil entrar na mesma sintonia do resto do mundo. É gratificante ver algumas empresas formadoras de opinião estarem à frente de seu tempo”, ressalta Paola Figueiredo, vice-presidente executiva do Grupo Sustentax, especializado no tema para o universo corporativo.
Para Marcos Cardone, arquiteto superintendente da Cabe Arquitetura e coordenador do Núcleo de Pesquisa e Estudos Hospital Arquitetura (Nupeha), ainda há um atraso conceitual no País que não permite a percepção de valor financeiro na sustentabilidade. “Como a oferta de recursos naturais diminui e encarece, a opção por ela será feita mais por necessidade do que por consciência ambiental.”
A aplicação na prática já mostra que o politicamente correto é mais lucrativo. Na hora de apresentar o projeto ao corpo diretivo, a princípio, a conversa gira em torno de quanto será gasto e de quanto será o retorno. Um bom argumento é se um hospital verde pode custar até 10% mais caro, também garante um custo operacional, em média, 15% menor.
“A tendência é sempre ver os impactos orçamentários e não os benefícios. Aqui temos o privilégio de o prefeito entender a importância e o benefício de um prédio eficiente”, diz diretor de projetos públicos da Secretaria Municipal de Política Urbana de Suzano, Elvis José Vieira.
Processo
A Unimed-Rio inaugura um hospital “verde” voltado para procedimentos de média e alta complexidade, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, em 2012. Segundo o gerente de engenharia da unidade de empreendimentos do grupo Rudiner Panisset Junior, a fase inicial do planejamento, ponto-chave neste tipo de construção, envolveu a escolha de materiais sustentáveis como tintas, vidros e equipamentos.
O uso de recursos é determinante no processo. “Há redução de substâncias, como mercúrio em lâmpadas, cádmio, chumbo e cobre”, ressalta Paola Figueiredo. Os pisos também devem ter baixa toxidade e o mobiliário deve ser isento de metais pesados.
A unidade tem um orçamento de R$ 180 milhões, cerca de 10% mais caro. “O investimento imediato é um pouco maior, mas os ganhos são certos em médio prazo”, diz Rudnir sobre o hospital, que terá 225 leitos, sendo 70 voltados à terapia intensiva e semi-intensiva e 11 salas cirúrgicas em 30 mil metros quadrados de área construída.
Depois de obter a certificação Leed na categoria prata – há ainda o básico, ouro e platina -, o hospital precisará mantê-la, mas no meio do processo nasceu a versão específica, a Healthcare. “Já solicitei que avaliem o empreendimento segundo os novos critérios, mais restritivos”, assegura o executivo.
Em 2008, também o Fleury Medicina e Saúde construiu sua unidade Morumbi, em São Paulo, de forma sustentável como parte da percepção de redução de custos. Daniel Marques Périgo, gerente corporativo de sustentabilidade lembra a experiência como grande laboratório. “Durante o processo, percebemos de que maneira é possível otimizar, inclusive, os recursos aplicados na construção.”
Eficácia
Muitos edifícios públicos já trabalham com práticas sustentáveis. Em janeiro, foi entregue o Hospital e Maternidade Municipal Doutor Odelmo Leão Carneiro, em Uberlândia (MG). O conforto do paciente é apontado com uma das grandes vantagens do prédio. “Com o controle de temperatura e luz, temos um ambiente confortável”, afirma a superintendente da Rede Afiliada da SPDM, Nacime Salomão Mansur.
Para atender a falta de leitos em Divinópolis (MG), uma das regiões mais críticas do Estado, será entregue em 2012 o hospital regional de Divinópolis, inicialmente com 134 leitos, mas com perspectiva para 500. Além do uso racional da água e energia o planejamento do prédio facilita a manutenção. “O porão técnico permitirá a circulação para manutenção hidráulica ou elétrica”, diz o secretário de saúde adjunto de Divinópolis, Gilmar Santos.
Uma das características importantes dos edifícios é a flexibilidade de espaços internos. O ambulatório de Especialidades Médicas do município de Suzano (SP) é um prédio interessante. Durante a obra, uma das preocupações era com o desperdício de material. Com o uso de tecnologias, reduziram em 15% essa perda. Usaram mais vedação drywall de gesso que permitiu maior velocidade e flexibilidade. “Se precisar ampliá-lo, é mais fácil”, enfatiza Elvis José Vieira.
Segundo Paola Figueiredo, é importante decidir-se pela sustentabilidade já nas fases preliminares do planejamento, para que a construção seja projetada já com esta visão.
Fonte SaudeWeb
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