No começo de 2012 São Paulo vai ganhar médicos que não conseguem identificar um quadro de meningite em bebês e não sabem como evitar a transmissão de sífilis da mãe para o feto. A maioria deles tem dúvidas até sobre o tratamento contra dor de garganta e desconhece que uma febre de quase 40 graus pode aumentar o risco de infecções graves em crianças. Essas são algumas das falhas apresentadas pelos formandos paulistas de Medicina avaliados pelo exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), que reprovou neste ano 46% dos candidatos – mais do que no ano passado, quando o índice foi de 43%.
A prova, realizada anualmente desde 2005, avalia conhecimentos básicos que o médico recém-formado deve ter para tratar um paciente. Sua realização e aprovação não são obrigatórias para o exercício da profissão. “A situação pode ser até pior porque, como a prova não é obrigatória, quem escolhe fazer o exame é quem quer testar seu conhecimento e está seguro”, diz o coordenador do exame, Reinaldo Ayer de Oliveira. Apenas 418 estudantes fizeram o exame, de um universo de 2.500 formandos no Estado.
Para o presidente do Cremesp, Renato Azevedo Junior, o resultado é um diagnóstico da má formação médica no País. “Esse desempenho ruim reflete o número de denúncias de erros médicos que o Cremesp recebe todos os anos”, critica. Em uma questão com alto índice de erro, por exemplo, 58% dos estudantes revelaram desconhecer como é feita a prevenção da leptospirose.
O Conselho responsabiliza o Ministério da Educação (MEC) pela falta de critério na autorização de novos cursos de Medicina. “Novas escolas vêm sendo abertas sem nenhum critério de qualidade. Tivemos, nos últimos oito anos, a criação de 70 escolas de Medicina. Outras 40 aguardam pela aprovação”, diz Azevedo Junior. Para ele, não há docentes e hospitais-escola suficientes para suprir essa demanda. “Para a população, sobram médicos sem preparo.”
O médico Paulo Antonio de Carvalho Fortes, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, concorda com o Cremesp. “O MEC não tem conseguido impor uma avaliação condizente com o que deve ser exigido do médico, levando a uma fragilidade grande do ensino. Ao final do curso, mesmo os que não fizeram residência têm diploma e podem atuar em quase todas as áreas.”
Procurada, a Secretaria de Educação Superior do MEC afirmou que não se pronunciaria sobre o assunto. O órgão também não confirmou quantas escolas de Medicina foram criadas nos últimos anos. Segundo o Cremesp, a área de conhecimento que apresentou pior média de acertos na prova foi Saúde Pública. “Não só entre médicos, mas entre outros profissionais da saúde, o ensino mais valorizado é o relacionado ao indivíduo: a assistência curativa individual. E a saúde pública se volta mais para o coletivo.”
Fonte Estadão
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