Na sala de aula, ele mantém uma caixinha onde os alunos podem colocar perguntas sobre sexualidade.
Para ilustrar as lições, apresenta fotos de órgãos sexuais -ele acha que os jovens, por causa da mídia, não sabem reconhecer um corpo normal e saudável.
E critica a sociedade americana, que, segundo ele, infantiliza os corpos com uma aversão aos pelos pubianos.
O professor Al Vernacchio, 47, está ganhando notoriedade nos EUA por causa da maneira como discute sexualidade na Friend's Central School, uma escola privada em Wynnewook, perto da Filadélfia, onde ensina estudantes do ensino médio, mas também em cada vez mais frequentes artigos e entrevistas na imprensa, como na revista do "New York Times".
Homossexual e em um mesmo relacionamento há 17 anos, diz que seu exemplo e a abertura com que trata o sexo incentivam a tolerância entre os jovens.
Folha - Quais os métodos que o senhor procura seguir ao falar sobre sexualidade?
Al Vernacchio - A única coisa que faz minha abordagem ser diferente é que começo [meu trabalho] com a suposição de que a sexualidade é uma força para o bem no mundo. Ver a sexualidade como um dom precioso nos permite enxergar pessoas como pessoas e não como coisas para serem usadas.
Quando o senhor diz que a sexualidade é uma força para o bem, mesmo para os adolescentes, o que quer dizer?
Isso não significa que os adolescentes devam ser sexualmente ativos, mas que não precisam ter medo de seus corpos e de seus desejos. Eles têm que ser estimulados a entender seus sentimentos e a fazer escolhas conscientes em relação a eles.
O sr. critica a maneira como a sociedade encara o sexo. Diz, por exemplo, que há uma aversão a pelos pubianos e que os jovens não sabem reconhecer o que é um órgão sexual saudável.
Não acho que a sociedade encoraje comportamentos saudáveis. Temo que muitos jovens olhem para fora para ver como deviam ser. Eles têm de se conhecer e se gostar para então olhar criticamente para as mensagens que a mídia espalha. Não é normal que um programa de televisão ou uma revista me diga como devo ser ou determine para mim o que é bonito. Sobre pelos pubianos, acho que muitos jovens não pensam sobre qual é a aparência que querem para seus corpos. Olhar o mundo sem capacidade crítica não é saudável. Os EUA têm infantilizado a questão, fazendo com que os corpos adultos pareçam corpos de criança. É uma maneira de escapar da responsabilidade, de tentar não ser adulto. Isso é preocupante.
O sr. defende que é preciso discutir com adolescentes sobre relacionamentos saudáveis. Como os pais e professores podem fazer isso?
A adolescência é um período para aprender habilidades importantes: como dirigir um carro, lidar com o dinheiro de forma responsável. Estabelecer e manter um relacionamento saudável é outra habilidade que deve ser ensinada. Os jovens não sabem como fazer isso, e os exemplos da mídia nem sempre são os mais saudáveis. Professores e pais devem abordar o assunto de modo honesto. Há muitas coisas que podem desencadear o diálogo, como uma música ouvida no carro ou um programa de TV.
O que é uma relação saudável para um adolescente?
As qualidades de um relacionamento saudável para os adolescentes são, em grande parte, as mesmas que para o adulto: honestidade, comunicação aberta, intimidade, compromisso e livre expressão de sentimentos. O fator singular para os jovens é que, para eles, tudo isso é novo.
Como o senhor vê o estímulo à abstinência sexual em escolas americanas?
A educação que só estimula a abstinência é ineficaz para ajudar os jovens a adiar o início da atividade sexual. Jovens que só receberam essa orientação têm menos chance de praticar sexo seguro. Não há nada errado se um casal escolher a abstinência; é uma opção válida e valiosa, mas é apenas uma entre muitas. Mas abstinência como a única coisa que um jovem pode escolher é como ensinar só um ramo da matemática ou da literatura. As discussões sobre abstinência, ou como eu prefiro chamar, sobre "estabelecer limites sexuais", devem estar em qualquer programa de educação sexual, mas como uma parte de um todo maior.
Qual é o impacto sobre os alunos de uma abordagem conservadora na sala de aula sobre a sexualidade?
Quando os jovens têm informações limitadas e recebem silêncio como resposta às suas perguntas, eles vão procurar informação em outro lugar, muitas vezes com fontes menos confiáveis. Tratar nossos sentimentos como vergonhosos ou pecaminosos só vai conduzir os jovens a relações pouco saudáveis.
Como é para seus alunos ver que o sr. assume sua opção sexual? Há casos de agressões a homossexuais nas escolas?
Há casos de violência na sociedade como um todo. Acho que minha habilidade em ser aberto em relação à minha orientação sexual pode reduzir isso.
O que sabemos pelas pesquisas é que quanto mais as pessoas têm contato com gays, mais os veem não só como gays, mas como pessoas completas. Isso reduz o medo e a agressão. Eu dou exemplo para meus alunos de um gay que é de meia-idade, que está em um relacionamento longo, que tem senso de humor. Me faço visível e nem todas as pessoas podem ser tão visíveis quanto eu, que trabalho em uma escola segura e em uma comunidade em que sou encorajado a ser eu mesmo.
Fonte Folhaonline
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