Guia escrito pelo médico Drauzio Varella ensina como as pessoas devem proceder em caso de acidentes. Em casa, crianças são as maiores vítimas, com 100 mil ocorrências por ano, segundo o Ministério da Saúde
Uma emergência costuma provocar pânico — e é justamente essa reação descontrolada que pode fazer com que qualquer incidente torne-se uma questão de vida ou morte. De um simples ferimento a uma parada respiratória, é consenso que todas as urgências devem ser resolvidas com calma. É preciso, porém, saber como agir. Segundo os especialistas, a segurança de saber o que fazer pode mudar completamente o resultado de um acidente. É o “momento de ouro”, quando, além de não entrar em pânico, a pessoa tem que decidir quais cuidados adotar antes de encaminhar uma vítima para o pronto-socorro ou enquanto aguarda, no local, a chegada de ajuda especializada.
Para o médico Drauzio Varella, autor do livro Guia prático de primeiros-socorros, lançado pela editora Claro Enigma, é comum as pessoas pensarem que os primeiros cuidados são responsabilidade apenas de um médico.
“Mas isso só é verdade quando desconhecemos o que fazer em cada situação, seja o caso de uma simples torção, seja quando se trata de queimadura, choque, intoxicação, convulsão, afogamento ou parada cardíaca, entre tantas outras possibilidades”, explica.
A ideia de criar um manual foi justamente para conscientizar as pessoas de que as providências em caso de emergência, além de fundamentais, não passam de um conjunto de medidas práticas e bastante simples, ditadas pelo bom-senso. São procedimentos que podem e devem ser aprendidos por pessoas de todas as idades, tendo em vista que acidentes ocorrem em qualquer lugar e de forma imprevista. “Conhecendo os primeiros socorros em geral, sentimos menos medo de enfrentar a adversidade e nos tornamos mais capazes de cuidar dos outros e de nós mesmos”, afirma o autor da obra.
Nas situações mais complicadas, essas ações de primeiros-socorros têm como objetivo manter a pessoa viva; nas demais, ajudam-na a se recuperar mais rapidamente. Quando, contudo, não se pode ou não se sabe fazer nada, o mais importante é chamar ajuda imediatamente. “Ao chamado, explique com calma como e onde o acidente ocorreu”, ensina o presidente da regional de Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Breno Figueiredo Gomes.
Ele acredita que, além do bom-senso de encaminhar o acidentado rapidamente para um local onde possa receber ajuda especializada, é importante saber registar os mínimos detalhes do ocorrido, levando aos especialistas o máximo de informações para auxiliar no atendimento feito pelo médico de emergência.
Mesmo que grande parte das situações de urgência exijam treinamento, o médico afirma que a simples familiaridade ou a capacidade de reconhecer situações de risco fazem toda a diferença, como é o caso do acidente vascular cerebral (AVC). “Se a pessoa, de repente, não consegue falar, não movimenta os braços e entorta a boca para um dos lados, deve ser encaminhada com urgência, para uma unidade de atendimento. Assim, as chances de sobrevivência e de não haver sequelas são muito maiores”, diz.
Ambiente doméstico
Se os acidentes não têm hora para acontecer, eles tampouco excluem nenhuma faixa etária. Em casa, onde ocorrem a maioria das emergências, crianças e idosos costumam ser as principais vítimas. O motivo é que as residências não são projetadas para as necessidades desses dois grupos, como alerta a pediatra Eliane de Souza, coordenadora da Clínica Pediátrica do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, o maior de Minas Gerais e referência na América Latina no atendimento de politraumatismos.
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 100 mil crianças e adolescentes, até 14 anos, são hospitalizadas todos os anos vítimas de acidentes como quedas, queimaduras e sufocamento. O mais preocupante: quase 90% dessas lesões poderiam ser evitadas.
Os tipos variam conforme a idade e a etapa de desenvolvimento. As quedas, bastante comuns em escadas, lideram as causas de atendimento médico até 9 anos. As queimaduras, em geral, são as maiores responsáveis por acidentes domésticos com crianças de até 4 anos. Por isso, conserte fios desencapados, mantenha ferros de passar bem guardados e afaste os pequenos da cozinha enquanto alguém usa o fogão. Além disso, opte pelo álcool gel no lugar da versão líquida.
Já as intoxicações por plantas são mais comuns entre os menores de 9 anos. A dica para prevenir esses acidentes é pesquisar sobre os tipos de planta que você têm em casa para saber se são tóxicas ou não.
Um dos cômodos da casa que mais atrai os pequenos é o banheiro. Afinal, lá estão todos os tipos de frascos de produtos de higiene, das mais variadas cores e tamanhos, além de remédios, alicates e lâminas de barbear. Sendo assim, é fundamental deixar os itens mais perigosos trancados, longe do alcance de crianças. Em relação aos medicamentos, vale a mesma regra.
A pediatra Eliane afirma que, antes mesmo de pensar em primeiros-socorros é preciso pensar em prevenção de acidentes. No caso de crianças, uma regra básica é nunca deixá-las sozinhas. “Elas são muito curiosas e, em algumas etapas do desenvolvimento, não têm coordenação motora ou visão de profundidade. Além de olho vivo, é preciso mantê-las longe do perigo.”
Fonte Correio Braziliense
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