Neste momento, quase 13 mil paulistas aguardam por um doador compatível na fila de transplantes. Mas a espera já terminou para Aline, Nair e Sueli. O ano de 2012 começa na casa de cada uma delas com a esperança de iniciar uma vida de fato nova, com órgãos doados por familiares ainda vivos.
Na capital, a cada duas horas, alguém recebe a notícia de que a sua chance de recomeçar também chegou.
Por aqui, o número de transplantes cresceu 104% entre 2000 e 2010, chegando a 2.907 órgãos transplantados – levando-se em conta procedimentos que envolvem coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas e medula óssea. Desses, podem ser doados em vida apenas parte do fígado, um dos rins e uma porção da medula.
Com uma taxa de doadores de 21,2 por milhão de habitantes em 2010, o Estado de São Paulo se aproxima dos índices encontrados em países desenvolvidos e se coloca muito acima da média que o Ministério da Saúde projeta para o País até 2017: 20 doadores por milhão de brasileiros, uma proporção que, hoje, não chega a 10 por milhão. Na Austrália, por exemplo, esse índice é de 13,8, passando a 25 nos Estados Unidos.
Em todo o País, cerca de 36 mil pessoas aguardam por um transplante. E, se por um lado as dificuldades de compatibilidade existem, por outro a solidariedade abre portas. No Brasil, 70% das famílias abordadas pelos profissionais de saúde aceitam fazer a doação, índice que é de apenas 53% na Argentina, por exemplo.
Conheça uma das histórias de gente que, graças à generosidade dos parentes, vai ter a chance de viver um ano realmente novo, livre de internações, dores e sofrimento.
Depoimento de Nair de Castro Packer, 66 anos, aposentada
“O meu genro me doou parte de seu fígado, é graças a ele que hoje eu posso contar a nossa história. Em 2001, comecei a ter problemas nos joelhos e fiz uma bateria de exames. Foi quando descobri que meu fígado estava todo comprometido porque eu tinha sido infectada pela hepatite C. Nunca soube disso antes, a hepatite C é uma doença silenciosa e sem nenhum sintoma. Imagino que eu tenha contraído a doença em 1974, quando sofri um acidente com álcool na casa de minha mãe e acabei ficando dois meses e meio internada. Recebi bolsas de sangue e, dizem os médicos, naquela época não havia muito controle do sangue nas transfusões.
Dois anos depois de receber o diagnóstico do problema no fígado, os médicos disseram que não poderiam fazer mais nada. Disseram que eu iria morrer. Imagina como eu fiquei? Procurei a opinião de outros médicos e o pessoal do Einstein (Hospital Israelita Albert Einstein) me animou: eles me deram mais cinco anos de vida. Nesse tempo, eu deveria esperar por um transplante.
Mas não precisei esperar muito. Meu genro se ofereceu para doar parte de seu fígado, ele me salvou. Era atlético, saudável e compatível. Os médicos perguntaram diversas vezes para ele se estava certo em doar o fígado para a sogra. Virou até motivo de piada.
Hoje, considero o Ramalho (José Ramalho Oliveira Neto) um filho e também um pai. Afinal, ele me devolveu a vida. Depois de tudo, até brincamos com a situação: um genro salvando a sogra? É mesmo bem engraçado, não?
Fonte Estadão
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