Fundamentais para o bom funcionamento do organismo, elas podem ser a explicação para doenças como a obesidade e a asma
O que doenças como diabetes, alergia, síndrome do intestino irritável, obesidade e aterosclerose têm em comum? Bem mais do que se pode imaginar. Pelo menos é nisso que acreditam os pesquisadores de diversas áreas da medicina, da biologia e da nutrição, que estão reunidos até quarta-feira (28) em Évian (França) no Gut Microbiota for Health, o primeiro congresso mundial dedicado a discutir os impactos das bactérias que habitam o intestino na saúde humana.
Na última década, o estudo mais detalhado desse conjunto de ecossistemas formado por mais de mil espécies de micro-organismos que vivem em paz conosco (a maior parte do tempo) revelou fatos surpreendentes. Por exemplo: ao longo da vida, um ser humano abriga nada menos do que 100 trilhões de bactérias no organismo e produz perto de 25 toneladas de matéria orgânica formada a partir do trabalho dessas diminutas estruturas vivas.
Mas produzir matéria orgânica é apenas parte das funções. Hoje sabe-se que a microbiota do intestino - segundo os cientistas, esse é o nome mais correto para chamar a flora intestinal - exerce funções vitais na manutenção e na proteção do organismo e pode sim, contribuir para o surgimento de diversas doenças.
As bactérias do intestino conseguem digerir alguns carboidratos que o corpo sozinho não conseguiria. Elas também estão envolvidas na produção da vitamina K e são responsáveis pela formação do sistema imunológico - é no intestino que estão 70% das células do sistema natural de defesa.
Segundo cérebro
As colônias que habitam o trato intestinal interferem até na capacidade do corpo de processar remédios. "Para conseguir processar medicamentos, o corpo se valeu da habilidade adquirida ao processar as substâncias tóxicas que muitas bactérias produziam. Essa aptidão foi conquistada ao longo de milhares de anos em contato com as mais diversas espécies de micro-organismos" explica o gastroenterologista Fernando Azpiroz, do Hospital Vall d'Hebron, de Barcelona (Espanha).
As colônias que habitam o trato intestinal interferem até na capacidade do corpo de processar remédios. "Para conseguir processar medicamentos, o corpo se valeu da habilidade adquirida ao processar as substâncias tóxicas que muitas bactérias produziam. Essa aptidão foi conquistada ao longo de milhares de anos em contato com as mais diversas espécies de micro-organismos" explica o gastroenterologista Fernando Azpiroz, do Hospital Vall d'Hebron, de Barcelona (Espanha).
Além de funcionar como uma barreira contra agressões externas, as bactérias do intestino estão em constante comunicação com mais de 100 milhões de neurônios conectados diretamente ao cérebro. Essa troca de informações, feita por meio de sinais químicos, regula diversos processos nervosos do corpo, entre eles a motilidade intestinal e a percepção de dor na região do abdome. Por conta dessa sofisticada interação, alguns cientistas já consideram a microbiota intestinal como um segundo cérebro, capaz de processar informações e interferir ativamente no sistema nervoso.
Sistema adquirido
Ao contrário de muitos sistemas do organismo que já estão prontos para funcionar desde o primeiro dia de vida, o sistema gastrointestinal humano vem ao mundo absolutamente livre de bactérias. Somente ao sair do ambiente estéril da placenta, o bebê tem o primeiro contato com bactérias. No parto natural, já há o contato com as bactérias existentes no canal vaginal da mãe. Depois disso, a criança vai sendo exposta a mais e mais micro-organismos na amamentação - no leite e no contato com a pele do seio da mãe - e na medida em que passa a interagir com o ambiente em que vive. E é justamente essa interação, explica o patologista James Versalovic, da Escola de Medicina de Baylor, no Texas (EUA), que nos deixa mais fortes e capazes de lutar contra doenças.
Ao contrário de muitos sistemas do organismo que já estão prontos para funcionar desde o primeiro dia de vida, o sistema gastrointestinal humano vem ao mundo absolutamente livre de bactérias. Somente ao sair do ambiente estéril da placenta, o bebê tem o primeiro contato com bactérias. No parto natural, já há o contato com as bactérias existentes no canal vaginal da mãe. Depois disso, a criança vai sendo exposta a mais e mais micro-organismos na amamentação - no leite e no contato com a pele do seio da mãe - e na medida em que passa a interagir com o ambiente em que vive. E é justamente essa interação, explica o patologista James Versalovic, da Escola de Medicina de Baylor, no Texas (EUA), que nos deixa mais fortes e capazes de lutar contra doenças.
"Quanto mais diversa essa interação, melhor. Hoje sabemos, por exemplo, que quanto mais diversificada é a alimentação, mais variada é a microbiota do intestino. E uma microbiota variada protege melhor o organismo".
Pesquisas feitas em ratos desprovidos de bactérias no intestino mostraram que eles tinham uma enorme dificuldade para processar alimentos em comparação com ratos normais e precisavam de quantidades muito superiores de alimento para obter os nutrientes necessários para seguirem vivos.
Isso, creem os especialistas, seria um forte indicativo de que as bactérias do intestino estão envolvidas no surgimento da obesidade, ou seja, de que uma dieta pouco saudável poderia influenciar as bactérias do intestino a funcionarem de forma a favorecer o ganho de peso e o acúmulo de gordura. Igualmente, a interação desse sistema com diferentes fatores (ambiente, uso de antibióticos, baixa exposição a bactérias, etc.) poderia levar as bactérias aliadas a trabalharem "contra" o corpo, ocasionando doenças.
Uma das grandes preocupações de quem pesquisas essas bactérias é justamente a paulatina redução da exposição humana a elas. Para o pediatra francês Olivier Goulet, pesquisador e professor da Universidade de Paris-Descartes, os altos índices de parto cesariano, que privam o bebê das bactérias do canal vaginal, e as baixas taxas, de amamentação - sem ela, o bebê deixa de receber uma grande quantidade de bactérias importantes para a formação do sistema imune - estão deixando as novas gerações mais vulneráveis a doenças como asma e alergias.
Como deixa de receber essas duas importantes exposições no início da vida, o sistema imunológico falha mais em responder a doenças e o organismo fica mais propenso a reações exacerbadas nas defesas.
"Em geral nós seres humanos somos bem feitos. A mecânica funciona direito e de forma sofisticada. O problema é quando deixamos de obedecer o curso normal da vida, que é a exposição natural a bactérias. O resultado, na maioria das vezes, não é positivo" diz Goulet.
Probióticos
Outro tema abordado pelos especialistas reunidos no congresso é a introdução de "bactérias do bem" na alimentação. Conhecidos como probióticos, esses micro-organismos interagem com o intestino e com as bactérias que vivem ali, ajudando a proteger o corpo de organismos prejudiciais à saúde. Ainda há muito a ser estudado, mas os pesquisadores já sabem, por exemplo, que os probióticos ajudam a tratar a diarreia aguda em crianças e também aquela ocasionada pelo uso de antibióticos.
Outro tema abordado pelos especialistas reunidos no congresso é a introdução de "bactérias do bem" na alimentação. Conhecidos como probióticos, esses micro-organismos interagem com o intestino e com as bactérias que vivem ali, ajudando a proteger o corpo de organismos prejudiciais à saúde. Ainda há muito a ser estudado, mas os pesquisadores já sabem, por exemplo, que os probióticos ajudam a tratar a diarreia aguda em crianças e também aquela ocasionada pelo uso de antibióticos.
Já existem diversas bactérias com propriedades probióticas à venda sob a forma de produtos lácteos e cápsulas. Nem todas, alertam os especialistas, têm seus efeitos cientificamente comprovados. Para separar o joio do trigo, é importante consultar um médico ou nutricionista.
A fronteira final, e um sonho ainda muito distante, é reproduzir a microbiota intestinal dentro do laboratório e usá-la para desenvolver novas formas de tratar diversas doenças, especialmente as que acometem o sistema gastrointestinal.
"Infelizmente, só conseguimos cultivar em laboratório 30% das bactérias que compõem a microbiota intestinal" lamenta o ecologista Joël Dore, que estuda o genoma das bactérias do intestino no Instituto Nacional de Pesquisas em Agricultura, da França.
Fonte iG
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