Para especialistas, exercício sob temperatura de 40°C só traz benefícios a quem está bem condicionado, mesmo assim há limites
A malhação nas academias mais descoladas do Upper East Side, em Manhattan, está seguindo uma estratégia que lembra Marilyn Monroe - quanto mais quente, melhor. A sessão de exercícios pesados se dá sob temperatura ambiente na faixa dos 40°C. O método é polêmico e os ganhos, limitados. Especialistas dizem que não há estudos conclusivos e advertem para o risco da falta de hidratação. Para quem malha, porém, a sensação é de que o rendimento é maior.
Na academia Pure Yoga, por exemplo, a sessão de exercícios começa sob uma temperatura de 40°C. Num sábado recente, a pedido das 16 alunas, o termostato foi reajustado para 43°C. As mulheres se olharam encantadas.
Elas fazem parte de uma pequena clientela de alto padrão, acostumada a anos de exercícios regulares, que não deixa o vestiário por menos dos 32°C - as academias de ginástica normalmente mantêm uma temperatura de 20°C a 22°C, de acordo com diretrizes da American College of Sports Medicine.
Para elas, somente as temperaturas sufocantes propiciam um treinamento adequado: batimentos cardíacos frenéticos, músculos flexíveis e um suor que satisfaz psicologicamente o que os devotos descrevem como "desintoxicante". Assim algumas academias de ginástica estão tentando atrair essas pessoas com aulas de ioga mais intensas, mais quentes, além das versões de pilates em que você se sente literalmente fritado, vários tipos de pesos, bicicleta e outras mais.
"Não tenho tempo para passar horas na academia fazendo exercícios cardiovasculares e depois numa sala com vapor para desintoxicar", resume a cliente Alexandra Cohen, de 42 anos.
Ela achou fáceis demais a modalidade de ioga Bikram (uma sequência de 26 posturas estáticas praticadas a temperaturas de 40°C), exercício bastante lento, e também a Power Ioga quente (um termo genérico para aulas que consistem em sequências de posturas mais rápidas e fluidas).
Assim, duas vezes por semana, ela frequenta as aulas do professor Carlos Rodriguez em Nova York, onde pratica uma mistura de capoeira, exercícios calistênicos e levantamento de pesos. Para esse exercício que dura uma hora, feito com pés descalços e sob calor escaldante, Alexandra faz uma fila de quatro colchonetes para não perder tempo quando precisa trocá-los conforme ficam ensopados de suor.
"A vantagem é que não desperdiçamos três músicas para nos aquecer, podemos ter o máximo de calor desde o começo", disse Mimi Benz, de 31 anos, proprietária da Sweat Shop, em North Hollywood, na Califórnia - uma das primeiras academias a adotar o método na Costa Oeste.
As sequências de exercícios não prometem eliminar gordurinhas nem proporcionar a perda de peso; em vez disso, a ênfase está na sua natureza "extrema".
Benefícios. Douglas Casa, professor de cinesiologia da Universidade de Connecticut, disse que, apesar de ninguém duvidar que as séries de exercícios praticados com aquecimento são mais difíceis, os benefícios acabam no limiar dos 40°C. "Acima dessa temperatura, o praticante estará apenas se expondo a riscos", disse .
A treinadora Tracy Anderson, que já atendeu clientes como Gwyneth Paltrow e Madonna, diz que sua pesquisa determinou que o ponto ideal entre segurança e "um estado muscular que acarrete mudanças" fica na temperatura de 30°C, com umidade de 65%.
Casa considerou a opinião correta, "ao menos em termos de suor". Segundo ele, séries de exercícios vigorosos são destinadas apenas aos praticantes de melhor preparo físico, desde que estejam bem hidratados - e ainda assim há limites.
"Se a temperatura for tão alta a ponto de impossibilitar a prática de exercícios intensos, o objetivo não será atingido", diz Casa, que testa suas teorias ao correr em trilhas sob calor intenso - ele ainda não experimentou nenhuma dessas séries de exercícios.
"Se for possível manter sob calor a mesma intensidade de exercício alcançada em condições normais, o esforço será maior e mais calorias serão queimadas", disse Casa. "Mas muitas pessoas não atingem o mesmo desempenho no calor, invalidando o benefício - neste caso, seria melhor uma malhação mais forte num local mais frio."
Em setembro, a Crunch, de Nova York, inaugurou as aulas de pilates sobre o colchão à temperatura de 40°C, convidando os frequentadores a "subir a temperatura" e "suar para valer" numa aula "que vai lhe dar um corpo realmente quente".
Os adeptos debatem métodos de aquecimento de salão num nível de detalhes digno de um eletricista, e sabem dizer qual é o canto mais quente de cada sala. "Sou a aluna maluca que chega mais cedo simplesmente para conseguir um lugar bem abaixo da saída do aquecimento", disse Karin Wilk, que só participa de aulas aquecidas.
Fonte Estadão
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