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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vício em sexo: transtorno precisa ser bem avaliado e pode encobrir problemas no relacionamento


As pessoas precisam tomar cuidado na hora de tornar
patológico todo tipo de comportamento
Casos extraconjugais, excesso de libido, problemas de se relacionar e obsessão por assuntos e conteúdos relacionados com o sexo. Até que ponto tudo isso podem ser fruto de uma compulsão sexual?

Para muitas pessoas a alcunha de “viciado em sexo” não é nada ofensivo. O rótulo serve de base para justificar uma série de comportamentos fora de um padrão reconhecido pelo grupo de amigos ou conhecidos – às vezes como sinômimo de virilidade ou de sensualidade – e mesmo para amenizar um problema de relacionamento com o parceiro ou parceira. Mas deixado de lado a visão construída do homem ou mulher extremamente sexualizados, o vício em sexo ou compulsão sexual não é um problema simples. E não conseguir ser fiel não tem nada a ver com o transtorno, mas é apenas uma desculpa sofisticada.

“As pessoas precisam tomar cuidado na hora de tornar patológico todo tipo de comportamento. Na maioria das vezes, os casos de infidelidade são relativos a problemas pessoais ou do relacionamento no casamento, não necessariamente a uma patologia”, avisa Liliana Seger, psicóloga especializada em sexualidade e pesquisadora ligada ao Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (AMITI) do Instituto de Psquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP .

“É preciso ter muita atenção na hora do diagnóstico desse tipo de transtorno. O comportamento pode não ser de um viciado em sexo, mas de alguém que introjetou essa ideia, que ‘resolveu’ que é viciado em sexo”, salienta Maria Olímpia Jabur Saikali, psicóloga clínica cuja especialidade é a terapia familiar e de casal.

Maria Olímpia diz que tanto os homens quanto as mulheres que têm relacionamentos fora do casamento têm de primeiro relativizar o que está acontecendo dentro da relação do casal. “Dizer que é vício, que ‘é mais forte do que eu’, é a saída fácil para fugir dos problemas”, enfatiza.

“As pessoas podem simplesmente não estar bem, muitas vezes insistindo em uma relação falida. Ter o desejo fora da relação nem sempre é sinal de patologia, propriamente dita, mas de algo que não está de acordo com seus sentimentos. Mas isso também não deve ser usado como justificativa para romper os acordos conjugais – como a fidelidade – de forma unilateral”, diz Maria Olímpia.

Comportamento compulsivo
A compulsão sexual, em geral, envolve uma dificuldade no controle e da regulação afetiva, deixando o sujeito vulnerável a afetos dolorosos – que causam sofrimento físico e psíquico – e à instabilidade emocional. A pessoa precisa ter prazer imediato e assim não consegue avaliar conscientemente as consequências negativas dos atos.

O indivíduo com esse tipo de característica compulsiva sente-se muitas vezes frágil e acaba desesperadamente buscando algo externo, seja uma droga, um objeto ou, no caso do viciado em sexo, uma sensação corporal que possa lhe dar a impressão de bem estar.

Identificando a compulsão
De acordo com a psicóloga Liliana, é possível definir a compulsão sexual por meio de alguns critérios:

• Comportamentos sexuais exacerbados (repetitivos e muito frequentes): que causam sofrimento e prejuízos e, importante, manifesto nos últimos 12 meses;

• Ritual de busca: gasta muito tempo e energia em atividades para obter sexo, tem prejuízo nas atividades sociais, ocupacionais e recreativas e continua o comportamento mesmo tendo consequências adversas;

• Duração longa e intensidade crescente do comportamento: precisa cada vez mais para obter o mesmo nível de satisfação;

• Crises de abstinência sexual: se quando a pessoa evita se envolver em práticas sexuais ela passa a ter sintomas físicos e/ou psíquicos que se relacionam com essa abstinência (algo similar, porém não idêntico, ao que acontece com dependentes químicos).

“Se o indivíduo apresentar pelo menos três desses aspectos, isso já se caracteriza como compulsão sexual”, explica a especialista. Mas ela lembra que é preciso avaliar outros pontos importantes. “Primeiro avaliar se há o envolvimento exacerbado em busca de sexo e práticas sexuais diversas. E se a atividade sexual é vista como fora de controle e prejudica a vida familiar, social e ocupacional.”

Fases
A compulsão sexual geralmente se caracteriza por algumas fases mais ou menos distintas. Primeiro o indivíduo fica pensando em sexo, tem ideias sobre objetos sexualmente estimulantes. Depois inicia uma rotina que leva a uma excitação frequente e, então, passa a não conseguir parar de pensar até conseguir satisfazer-se. “Estas pessoas não conseguem interromper o pensamento até ter a satisfação. E depois de ter essa satisfação, elas podem se sentir mal consigo mesmas, revisitando sentimentos de remorso”, pontua Liliana. Isso pode gerar um ciclo vicioso, em que os sentimentos ruins levam à procura de algo que lhes dê satisfação, reiniciando o processo.

Com o passar do tempo, a frequência dos episódios aumenta assim como a crescente perda da sensação de prazer. “Isso causa um aumento do sentimento de angústia”, explica Seger. “É possível que o indivíduo comece uma busca compulsiva por novos parceiros (múltiplos parceiros), masturbação compulsiva, assistir filmes (internet) constantemente ou frequentar salas para prática de sexo virtual, por exemplo”.

O pensamento fica presente o tempo todo, é quase uma prisão, onde a vida tem um objetivo único e todo o restante gira em torno de um tema, um único pensamento: sexo e prazer sexual.

Tratamento nem sempre exige internação
O tratamento varia dependendo do momento da procura e do grau de comprometimento do indivíduo. “Se estiver associado a comportamentos sexuais de risco, como sexo sem preservativo – que aumenta a possibilidade de contrair uma doença sexualmente transmissível, como a AIDS – ou estiver associado ao consumo de drogas, o problema pode exigir internação”, diz a especialista.

Normalmente o mais indicado é o tratamento multidisciplinar. Para definir uma medicação adequada (quando necessária), um psiquiatra é chamado para acompanhar o caso. “Alguns pacientes têm medo de perder a libido com os fármacos, mas é importante lembrar que a medicação é dada com cautela para causar alívio da compulsão, sem eliminar o desejo sexual”, observa Seger.

O outro lado do tratamento se dá pela terapia cognitivo-comportamental, para que os indivíduos aprendam a lidar com seus maiores temores. Liliana alerta que “em geral são medo da intimidade, medo da perda do controle e medo da solidão que, se não tratados, aumentam a probabilidade da instalação da compulsão”.

A especialista também observa que infelizmente alguns pacientes só procuram tratamento quando a família interfere ou quando a situação já foi ao limite – há perda de emprego, final de um casamento ou de um relacionamento –, ou seja, quando a compulsão já está nitidamente fora de controle.

“A família muitas vezes também precisa de tratamento, pois acaba sendo codependente, isto é, acaba controlando o dependente, não permitindo – ou não admitindo – muitas vezes que as consequências estão evidentes e, com isso, impedem que ele também se perceba e assuma as consequências negativas do comportamento e, assim, acabe por procurar ajuda”, diz Liliana. A superproteção é uma forma de negação, completa a especialista. É preciso auxiliar a pessoa a procurar um especialista e não ficar tentando impedir que as consequências apareçam. “Esquivar-se do problema não ajuda, definitivamente”, finaliza.

Mais informações
• Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (AMITI): http://www.amiti.com.br/
• Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (DASA): www.slaa.org.br

Fonte O que eu tenho

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