O arsenal de combate à malária ganhou uma arma elegante: bactérias que vivem naturalmente no intestino de mosquitos foram modificadas geneticamente para bloquear o desenvolvimento do parasita que causa a doença.
O estudo foi coordenado pelo pesquisador brasileiro Marcelo Jacobs-Lorena, do Instituto de Pesquisa da Malária da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, de Baltimore, Estados Unidos. Ele e seus colegas publicaram artigo descrevendo o estudo na revista "PNAS".
O parasita tem um complexo ciclo de vida, tanto no mosquito que transmite a doença quanto no organismo humano. Ele ataca o fígado e os glóbulos vermelhos do sangue humano, e parte do seu desenvolvimento se dá no intestino e nas glândulas salivares das fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles.
Lidar com minúsculos órgãos de insetos é impressionante, mas o pesquisador diz estar acostumado. "Dissecar intestinos de mosquitos com a ajuda de uma lupa não é muito difícil", afirma ele.
Os momentos em que os parasitas do gênero Plasmodium estão mais vulneráveis são os estágios em que vivem no intestino médio do mosquito. Eles compartilham o local com bactérias, que foram recrutadas e modificadas pelos pesquisadores para atacá-los com proteínas tóxicas.
Mudança de hábito
O Plasmodium convive naturalmente com as bactérias da espécie Pantoea agglomerans. Os cientistas produziram mudanças em proteínas delas que poderiam atacar o parasita.
Ao chupar o sangue de uma vítima, o mosquito até ajuda as bactérias a fazer seu trabalho antiparasítico. O sangue faz a concentração da flora intestinal aumentar, e com isso também aumenta a quantidade das moléculas que afetam o Plasmodium.
Os experimentos envolveram tanto a mais letal espécie de parasita causador da malária em seres humanos, o Plasmodium falciparum, quanto uma espécie que causa a doença em roedores, o Plasmodium berghei.
Uma das bactérias modificadas produziu o melhor efeito, reduzindo em 98% a formação de oocistos, um estágio do desenvolvimento do parasita no mosquito. Uma das moléculas de maior eficácia é originária do veneno de um escorpião africano.
"Chegar a 98% já é muito bom e suficiente para um teste. Mas estamos trabalhando em algumas modificações da estratégia e esperamos poder aproximar o resultado dos 100%", diz Jacobs-Lorena.
Fonte Folhaonline
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