Pesquisa da Fiocruz identificou que resistência gera desvantagens ao desenvolvimento, tempo de vida e reprodução do vetor
Estudo mostra que o processo de resistência a inseticidas é capaz de gerar desvantagens biológicas para o próprio vetor da dengue. Pesquisa realizada no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) analisou a dinâmica da resistência a inseticidas nos mosquitos. Levantamento identificou que a resistência tem um custo evolutivo para o vetor, afetando o desenvolvimento, o tempo de vida e a reprodução do Aedes aegypti.
Segundo o pesquisador Ademir Martins, um dos responsáveis pelo estudo, " quanto mais resistente a população [de mosquito], maiores suas desvantagens em ambiente livre de inseticida" , diz. " O grupo mantido no laboratório sob pressão de seleção por nove gerações foi o que demonstrou maiores efeitos negativos, provavelmente devido ao acúmulo de genes letais. Estes resultados corroboram estudos que vêm demonstrando efeitos negativos da resistência a inseticidas para a fisiologia do inseto" , explicou.
Ainda de acordo com o pesquisador, " o uso contínuo desses compostos químicos seleciona a população de Aedes resistentes, mas pode trazer de carona efeitos negativos à fisiologia normal do inseto, tornando-o menos competitivo em ambientes livres de inseticida. É o que chamamos de custo evolutivo, pois, se por um ele sobrevive ao inseticida, por outro, passará a ter menos aptidão para acasalar, levará maior tempo até chegar à fase adulta e a quantidade de ovos colocados pela fêmea será menor" , complementou.
Desvantagens para o homem
Em uma primeira impressão, poderia-se pensar que esse custo evolutivo seria bom para o homem, uma vez que os mosquitos resistentes tenderiam a sumir se o inseticida deixasse de ser aplicado. Entretanto, o atual cenário de desvantagens para o mosquito, tende, em projeções futuras, a ter um fim. " A evolução é um processo muito dinâmico e já foi verificado em outros insetos que ocorre a seleção dos chamados ' genes modificadores' , cuja pressão contínua com inseticida acaba por extinguir as atreladas à resistência, o que originaria um cenário nada animador" , enfatiza o especialista. " Além disso, esse custo atual não impede que o mosquito continue transmitindo a dengue" , completa.
Controle do vetor
Diferentemente do que muitos pensam, a forma mais eficaz de diminuir a proliferação do Aedes aegypti é por meio do controle mecânico, que consiste na eliminação dos criadouros, e não pela utilização de inseticidas contra adultos e larvas, que é apenas uma das formas de controle, mas não a principal, já que apresenta uma série de " efeitos colaterais" .
" O inseticida é uma das formas de controle, que pode ser benéfica e ajudar a eliminar o mosquito quando utilizada de maneira adequada. Mas, quando utilizado indiscriminadamente, ele seleciona as populações de mosquitos resistentes, o que propicia novas gerações também resistentes, perdendo, assim, sua inicial. É muito mais interessante que as pessoas criem o hábito constante de eliminar ou tratar adequadamente potenciais criadouros de larvas dentro de suas casas. Este método, que deve ser um hábito tão comum como escovar os dentes todos os dias, não seleciona resistência, não polui o meio ambiente e evita a proliferação de outras doenças, inclusive." , afirma o pesquisador.
Fonte isaude.net
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