Brasília - O cotidiano de quem lida com pacientes terminais mostra que um
certo envolvimento emocional dos profissionais é fundamental para um fim de vida
tranquilo. E não é só para o paciente que esse envolvimento faz bem.
Anelise Pulschen, médica coordenadora da Unidade de Cuidados Paliativos do
Hospital de Apoio do Distrito Federal, conta que na sua unidade de trabalho há
envolvimento com todos os pacientes. “Cada profissional do seu jeitinho. Podemos
chorar com eles, rir com eles, comemorar, vibrar, ficar junto com a família. A
gente fica muito junto da família, às vezes até mais do que com o próprio
paciente”.
Ela recorda que certa vez houve uma “força-tarefa” dos profissionais da
unidade para encontrar a família de uma paciente branca, de pouco mais de 30
anos, que havia uns anos tinha fugido de casa porque sua família não aceitou seu
relacionamento com um rapaz negro. “Ele a colocou em cima de um cavalo e os dois
fugiram juntos. Tempos depois, já com dois filhos, ela estava internada aqui,
muito debilitada por um câncer que começou na mama, atingiu os ossos, sem
conseguir andar, e triste por não mais ter visto sua família e não ter tido um
casamento com tudo que a noiva tem direito”.
Anelise relembra: “Toda a equipe se envolveu muito com a organização do
casamento dessa paciente, que teve direito a vestido de noiva, capela, padre,
juíza, damas de honra e toda a família da noiva unida”. Como os profissionais já
suspeitavam, pouco mais de uma semana depois do casamento, a paciente
morreu.
Histórias como essa, de casamentos, aniversários, passeios, perdões e
redenções são vividas diariamente pelos profissionais de cuidados paliativos,
que têm a missão de trazer alento para os últimos dias dos seus pacientes. O
enfermeiro Renato Rodrigues, da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de
Apoio do Distrito Federal, conta que esse envolvimento não significa um peso
levado para casa.
”Existem aqueles pacientes que nos cativam. A gente leva 'pra' casa, mas não
como um peso ou uma preocupação dolorosa. Você leva pra casa como a lembrança de
uma pessoa que você quer bem e naquele momento está passando por dificuldades.
Muitas vezes eu tenho insights em casa, às vezes à noite lembro do
fulano e tenho alguma solução pra resolver determinada situação que, antes, eu
não soube resolver”, conta Renato.
De fato é o que se pode ver na Unidade de Cuidados Paliativos do Distrito
Federal. Na entrada do corredor que dá acesso aos quartos está exposto um mural
com fotos de pacientes que tiveram seus últimos dias em paz e felizes. Lá não
existem dietas ou restrições quanto a visitas, e as vontades dos pacientes são
ouvidas e, sempre que possível, atendidas.
Fonte Agência Brasil
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